Wednesday, July 12, 2006

 

coluna 03 de julho

JONATHAN ROSS

Já cansei de dizer que Jonathan Ross é um dos programas mais legais da televisão britânica. Ele é o Jô Soares inglês (quero dizer que o papel de Ross para sociedade é o mesmo que o do Jô, não que a qualidade é a mesma; Ross é infinitamente melhor).

Com o nome de “Friday Night with Jonathan Ross”, semanalmente o programa recebe convidados e também há sempre uma atração musical. Imaginem, ele recebe só as melhores bandas do mundo. Fora que Jonathan é super articulado, tem muito bom gosto e é muito engraçado.

Teve uma vez que consegui ir na gravação de um programa. Foi divertidíssimo e quem tocou ao vivo a poucos metros de mim foi Coldplay. Lindo. Pois então, já que o youtube.com é disparado o site mais útil do momento, você, cidadão do Brasil, agora pode checar todas as atrações entrevistas do programa. É só digitar “Jonathan Ross” e ver a lista de links que aparecem. Haja tempo pra ver tudo. Separei pra vocês alguns momentos inesquecíveis que assisti no programa.

RUSSELL BRAND é o cara mais ‘MAIS’ do momento. Um furacão. Ele é um comediante novato que apresenta o programa Big’s Mouth sobre a série Big Brother na Inglaterra e o moço chegou ARRASANDO. Kate Moss por exemplo não perdeu tempo e os dois foram vistos juntos no mês passado. Mas sobre Russell, ele se veste MUITO bem, é maravilhosamente engraçado, poético e tem um sotaque fofo. Tudo é charme e poesia quando se trata de Russell Brand. Um ex viciado em heroína que foi ao Jonathan Ross e ROUBOU literalmente o show. Fez Jonathan ficar sem respiração e sem palavras. Poucos conseguem fazer isso. No final até Jonathan admitiu: “nossa, você é mais engraçado do que eu imaginava”. Vish. Assistam a entrevista hilária, divida em duas partes (alguém do youtube colocou uma legenda que na realidade mais atrapalha do que ajuda...).

Parte 1:



Parte 2:



PRIMAL SCREAM tocando a estupenda “Country Girl”. Repare na piadinha que Jonathan faz sobre o acidente de Keith Richards, que caiu de um coqueiro quando tentava pegar um ‘coconut’. Mais engraçado é ele aconselhando Bobby Gillespe a não subir em coqueiros e... ‘stick with the drugs, Primal Scream’.



THE LIBERTINES tocando “Can’t Stand Me Now”. Essa foi uma das últimas vezes que Pete e Carl tocaram juntos. A banda já estava despedaça. Vejam como eles se olham durante a apresentação, cantando uma letra que fala da relação deles. It breaks my heart!



ANTONY & THE JOHNSONS tocando a bela e encantadora “You Are My Sister”, com Boy George como convidado especial. Inesquecível.



KINGS OF LEON. Um amigo meu esses dias me falou que acha Kings of Leon uma banda horrível. Eu não acho. Veja eles tocando “California Waiting” e tenho certeza de que você também não vai achar. Essa música é fantástica e me lembra quando cheguei em Londres em 2003, nas minhas caminhadas por Finsbury Park em dias chuvosos.



COLDPLAY concede uma entrevista e toca ao vivo a música “Talk”. Eu estava na platéia e foi lindo lindo lindo.


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RESENHAS


GUILLEMOTS – “Through The Window Pane”
Um pop que prima por climas sonhadores, mas ainda sim de caráter radiofônico. Poucas bandas sabem fazer isso com competência e felizmente o Guillemots é uma delas. Sugiram no ano passado com um belo EP (“I Saw Such Things In My Sleep”) e um igualmente belo single (“Trains To Brazil”). Esse ano estouraram no underground e muita gente apostou que esse trabalho de estréia seria o melhor disco do ano, incluindo esse pseudo-escriba. E é isso o que acontece.

“Through The Window Pane” é uma linda viagem do inicio ao fim. Não consigo imaginar alguém lançando um álbum melhor que esse em 2006. Nas doze faixas que percorrem o cd, ficamos expostos à uma dimensão onde ouvimos sinos se colidindo com letras que retratam o sentimento confuso de alguns seres, orquestras crescentes e decrescentes, agrupando-se com barulhos diversos e resultando no mais puro primor pop. Instrumentos de metais, parafernália eletrônica de comportamento analógico e pianos estão todos juntos numa jornada que cria sensações de fantasia e delírio. “Through The Window Pane” é um disco conceitual e eu estaria estragando a obra, além de ser uma tremenda injustiça, se destacasse qualquer música aqui. É um cd pra escutar inteiro, do começo ao fim e absorver toda a energia que ele possui.

Alguns podem sentir falta de um clima mais agitado e dançante no disco, mas, francamente, existem no momento outras bandas pra fazerem as pessoas dançarem e claramente o Guillemots não está entre elas. Nesses tristes tempos atuais, onde a maioria apenas faz o download de algumas músicas, é bom ver um LP que faz jus ao termo ‘long-play’ e prima pelo conceito ao invés de uma excitação momentânea, e ainda ostenta canções imortais. A conclusão é simples: DISCO DO ANO.


THE AUTOMATIC – “Not Accepted Anywhere”
Num momento em que a safra britânica de bandas de rock está em alta (Franz, Monkeys, Bloc, Kaisers), pode parecer que o The Automatic, oriundos do País de Gales, é apenas mais uma para entrar nas estatísticas. Engano. Esses moleques têm energia o suficiente para se destacarem na cena e irem longe. A prova disso é esse álbum de estréia, um dos discos mais legais de rock nos últimos anos. A receita é basicamente indie-rock a lá Weezer, com leves pitadas de The Killers e emo. E o resultado são músicas com vigência e frescor pop. Entre as bandas atuais, onde alguns soam ‘art’ e outros abusam do charme, o The Automatic é a que mais esbanja vigor juvenil e faz um som feliz, sem ser afetado e pretensioso. O sintetizador, comandado por um moleque com fogo no rabo, é discreto, mas ainda sim consegue se sobressair igualmente bem junto às guitarras. E cá entre nós, não há muitas músicas tão boas esse ano como os singles “Monster” e “Raoul”, assim como “You Shout You Shout You Shout You Shout” e “Recover”. Os meninos do Automatic não tiveram o mesmo hype que os Arctic Monkeys, mas são bacanas do mesmo jeito.


THE DIVINE COMEDY – “Victory For The Comic Muse”
Álbum número nove da carreira do Divine Comedy, que teve início no começo dos anos 90. Mais uma vez, o combo liderado pelo caprichoso Neil Hannon explora territórios já usuais e não apresenta nenhuma novidade, o que, no caso do Divine Comedy, é um ponto positivo. Em 2001, Neil Hannon quis dar uma nova cara para a banda no álbum “Regeneration”, tentando uma sonoridade mais rock. Se deu mal e, desde então, Hannon nunca mais deixou de fazer o que sabe como ninguém: música pop aliada a extravagantes e prósperas orquestrações, com letras citando contos da Inglaterra Victoriana e parques britânicos. E “Victory For The Comic Muse” é apenas mais um belo exemplo disso, apresentando uma sinfonia de doze músicos, incluindo harpa e oboé. Destaques: “Arthur.C Clarke's Mysterious World”, “Count Grassi's Passage Over Piemont”, o single “Diva Lady”, e a grandiosa cover da igualmente grandiosa canção “Party Fears Two”, da dupla 80’s The Associates.


TILLY AND THE WALL – “Bottoms of Barrels”
Oh My God! Chego a não dar conta de tanta música de altíssima qualidade que está aí. Eu nem esperava muito desse tal de Tilly And The Wall, afinal meu primeiro contato com eles foi através da NME, onde o semanário deu destaque para um single deles. A NME conseguiu me surpreender, principalmente pelo destaque, pois esperava aquela coisa meio padrão-NME, aquele formato mais rock. Mas aí quando vou escutar-los, nossa senhora, que músicas mais Vivas (sim, com V maiúsculo)! Que coisa mais límpida e cristalina e esplêndida! Me perdoem por usar tantos adjetivos aqui na coluna, mas assim não dá, né gente, isso aqui é bom demais e não consigo conter a empolgação. Imaginem uma banda twee-pop com vocais femininos e leve influência de música espanhola. É o Tilly And The Wall. São americanos, mas é como se as Pipettes tivessem passado férias prolongadas em Madrid. Me fez recordar um combo inglês que gosto muito chamado Scarlet’s Well. É uma fusão de 60’s sunshine-pop com twee-pop, soltando elementos de música espanhola. Dez faixas. Um cd de verão e eu adorei. Highlights: “The Freest Man”, “Rainbows In The Dark”, “Bad Education” e “Sing Songs Along”.


BOY KILL BOY – “Civilian”
Realmente a safra está em alta e a Grã-Bretanha anda produzindo bandas de rock a dar com o pau nesse ano. Quem aparece dessa vez é o Boy Kill Boy, lançando esse álbum de estréia após alguns singles bem recebidos. São de Londres e mandam ver um indie-rock visceral e robusto. O hit “Suzie” espelha minhas palavras. É um bom disco, as canções possuem boa pegada, mas acho que se tivessem aparecido dez anos atrás, seriam Reis. Mas como estamos em 2006, esse som está saturado e ultrapassado. O Bloc Party é mais afiado, o Franz possui riffs mais charmosos, o Automatic é mais irradiante, os Arctic Monkeys tem aquela gingada de moleque, e o Maximo Park ganha na criatividade. Por isso, não vejo futuro para o Boy Kill Boy. Em 1 ano esse belo disco estará nas bacias de promoções. Esse mundo é cruel. Quem disse que não? Terão que se reinventar para lançar um segundo álbum. Outras faixas boas, além de “Suzie”, são “On My Own”, “Back Again” e “Shoot Me Down”, essa última possui uma outra música escondida no final.


Confira a lista completa de discos legais de 2006:

PET SHOP BOYS – “Fundamental”
PRIMAL SCREAM – “Rock City Blues”
THE PIPETTES – “We Are The Pipettes”
ABSENTEE – “Schmotime”
SHACK – “On The Corner Of Miles And Gil”
FARIÑA – “Allotments”
YEAH YEAH YEAHS – “Show Your Bones”
GRAHAM COXON – “Love Travels At Illegal Speeds”
RHETT MILLER – “The Believer”
TWO GALLANTS – “What the Toll Tells”
TOY – “Toy”
DIRTY PRETTY THINGS - "Waterloo To Anywhere"
EMBRACE – “This New Day”
THE ELECTED – "Sun, Sun, Sun"
DAVID GILMOUR – "On An Island"
THE MONTGOLFIER BROTHERS – "All My Bad Thoughts"
DEVICS – "Push The Heart"
DELAYS – "You See Colours"
SPARKS – "Hello Young Lovers"
MY LASTEST NOVEL – "Wolves"
THE GOSSIP – " Standing In The Way Of Control"
THE FLAMING LIPS - "At War With The Mystics"
BE YOUR OWN PET – "Be Your Own PET"
DESTROYER – "Rubies"
JOHNNY BOY - "Johnny Boy"
BELLE AND SEBASTIAN – "The Life Pursuit"
ARCTIC MONKEYS – “Whatever People Say I Am, That's What I'm Not”
THE KOOKS – “Inside In/Inside Out”
JENNY LEWIS with THE WATSON TWINS – “Rabbit Fur Coat”
JOHN HOWARD – “As I Was Saying”
THE STROKES – “First Impressions Of Earth”
CAMERA OBSCURA – “Let's Get Out of This Country”
EL PERRO DEL MAR – “El Perro Del Mar”
ESPERS – “Espers II”
BARZIN – “My Life In Rooms”
TRES CHICAS – “Bloom, Red & The Ordinary Girl”
SKYE – “Mind How You Go”
LILY ALLEN – “Alright, Still”
HOPE OF THE STATES – “Left”
GUILLEMOTS – “Through The Window Pane”
THE AUTOMATIC – “Not Accepted Anywhere”
THE DIVINE COMEDY – “Victory For The Comic Muse”
TILLY AND THE WALL – “Bottoms of Barrels”
BOY KILL BOY – “Civilian”



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THE HORRORS

Agora é a vez dos moleques de cara de mau, super estilosos e bonitinhos e magrinhos. The Horrors. São de Londres e já os vi ao vivo. Praticamente ganharam minha aprovação ali. Na verdade, antes disso. Foi quando comprei o single 7” de “Jack The Ripper”, um esporro sonoro de não mais de dois minutos. Se você pegar o The Cramps e bater de frente com Stooges, e jogar as cinzas das garage-bands dos anos 60, talvez dê pra sentir o cheiro do The Horrors.

A seguir faço uma tradução de uma matéria sobre os The Horrors que saiu na revista de música e comportamento Disorder, aqui de Londres, em março desse ano. Percebam como os artigos sobre músicas nas revistas inglesas são complexos e detalhados, analisando desde o pentelho do cu até os riffs da banda. Citam política, comportamento e o escambau. Muitos não entenderão algumas passagens, principalmente aqueles que moram no Brasil e não vivenciam a sociedade britânica. Mas é por isso que servem as notas dos tradutores, se é que eu entendo de alguma coisa. Faca o seguinte: imprima essa matéria, prepare um chá e leia com atenção.

THE HORRORS
Texto: Taylor Glasby
Tradução livre: Marcio Custódio


Bem vindo a 2006. Até o momento, é olá para os britânicos, com nomeações para Sr. e Sra. Idiota, e Sr. e Sra. Nós Ainda Nem Lançamos Um Disco Esse Ano, Mas Obrigado Por Lembrar Da Gente. A não ser que esqueçamos que este é o ano do chav rock (N.d.T. 1) ou qualquer coisa que você queira rotular isso nesses dias. Eles são apenas como você não os conhecem; comendo suas batatas fritas, catando minas com hepatite transmitida dos maloqueiros de cortiços, e engravidando em nome do patriotismo britânico, porque não queremos desapontar o censo nacional. Rapazes em bandas em 2006, encaremos a realidade, são dificilmente apogeus do deboche, excesso do glamour do rock. Culpe o progresso, culpe Pete Doherty, culpe o New Labour (N.d.T. 2), mas vá se foder, traga de volta algum lápis de olho e toque seus instrumentos realmente pra valer. Isso significa que vestimenta elegante e disposição para pogar estão aqui, então abra seus braços, desabotoe seu casaco e leve o The Horrors para seu coração, pois se você não fizer, bem, eles talvez roubem de você.

Enquanto essas palavras fluem nos meus dedos, The Horrors estão assistindo a tinta da caneta secar na assinatura do contrato com a Loog Records. O número de músicas que eles possuem é o mesmo número de dedos de uma mão que você possui, as apresentações ao vivo duram 20 minutos, não possuem nem sequer um website próprio, e mesmo assim estão na capa da nossa revista. Precipitação? Sim? Você está tipo perguntando quem são esses merdas e porque? Claro que você está. Porque você não estaria? Por que The Horrorss está fazendo insistentes reverberações num saturado e, francamente, destruído horizonte musical de Londres e Essex. Eles não se encaixam em nenhum lugar, mas brotam do chão manchados de maquiagem que precisa de cândida industrial pra ser removida e fazem músicas que deixam seu ouvido zunindo e seu pulso em chamas. Tchau-tchau para hinos populares dançantes pra molecada. Se você pode dançar e ficar bem numa pista de dança com isso (N.d.T. 3), então é melhor você tomar seus medicamentos com maior freqüência. Como o vocalista Faris diz, com um sorriso maroto em seu rosto, “não somos um grupo para as massas ficarem cantando”. Sacou, rapaz?

Seria tão sem sentido chamar o som da banda de “garage-rock” como seria apenas olhar para seu visual dandy-ratazana. Eles merecem mais do que serem somente fitados, e a música ser mais devidamente observada do que metê-los numa categoria. Simplesmente não há uma maneira fácil de empacotar esses cincos garotos franzinos e enfiá-los dentro de um único parágrafo, que faça você pensar “oh, eles são demais!”. Afinal já faz muito tempo que algo parecido com The Horrors não encanta a cena musical. Eles se vestem do jeito que se vestem porque querem. Possuem uma sonoridade que estraçalha sua cara. Seus estilos de vida e música aproximam-se de várias culturas, de 60’s Freakbeat e 70’s punk até a ópera junkie Shockheaded Peter, absorvendo lustrosas influências, exatamente como garotinhos astutos e maliciosos fazem. É esse caldeirão de influências tanto nos trajes como no som que fazem deles uma tremenda desordem no palco.

The Horrors, que se conheceram quando freqüentavam e discotecavam em nightclubs (Spider é um dos fundadores do Southend’s Junk), são Faris Badwan (vocal), Spider Webb (órgão), Tomethy Horrors (baixo), Joshua Von Grimm (guitarra) and Joseph Black (guitarra). O gosto por música de qualidade e por trajes afiados os transformaram de meros conhecidos de baladas para uma amizade sólida e, uma vez assim, formar uma banda seria apenas um progresso natural.

Faris, que, com sua altura de um metro e oitenta e cacetada, comanda o palco facilmente e mesmo assim consegue ser retraído, se apóia na mesa. “Nós sabíamos o que queríamos de uma banda. Sabíamos o que estávamos procurando”.

Spider concorda. “Todo mundo se encaixou perfeitamente. Isso foi uma coisa boa, instantânea. Fizemos alguns ensaios, apenas tentando passar algumas faixas, e saímos todos dizendo, ‘esse som é cool’.”

É dureza ter que descrever o som deles quando poderia ser fácil deixar um doce e sólido adjetivo como “cool” na frente disso. A influência musical deles é old-school, quando não old-fashioned – The Seeds, The Tradesmen and Screamin’ Jay Hawkins, The Cramps, The Ramones e The Gruesomes – a maioria deles desfrutavam de influências old-fashioned para si mesmos, como filmes de terror de segunda classe, surf-music e psicodelia.

Estranho é que apesar de acentuarem seu visual com uma boa dose do estilo sombrio do East End do século XVIII (N.d.T. 4), o The Horrors nos delicia com frescor e vigor juvenil. Sonicamente, eles conseguem girar entre uma batida de carro e uma muralha sonora, mas quando tirada camada por camada, revelam uma excêntrica pureza de som e robustas melodias.

“Não acho que temos refrões simples”, cisma Faris. “Somo não convencionais na forma que compomos músicas”, admite Spider. “porque nunca estivemos em bandas antes”.

“Eu e Spider somos os que possuem menos técnica”, adiciona Faris, “As músicas surgem em jams, e vamos tocando até soar legal e todo mundo sentir o que está rolando”.

Pegue “Excellent Choice”, uma música que ao vivo, assim como tudo que fazem, pode descender em puro caos. Enquanto as guitarras mandam riffs cavernosos, os amplificadores Vox Continental sopram fluidos de deslocamento de som que promovem tanto dissonância quanto harmonia para a bateria e, acima disso tudo, há Faris vociferando com sua voz estrondosa, mandando berros que fazem nossos olhos encherem de lágrimas. Soa mais ou menos como uma explosão das profundezas de um Trem do Terror.

Ainda sim para todos seus esporros garage punk, temos uma sensação de que eles sabem exatamente como compor um groove pop, para astutamente capturar a atenção dos novatos. Pegue o hit a lá Screaming Lord Sutch (NdT 5), “Jack The Ripper”, uma vigorosa e matadora cançoneta que parece vir direto da trupe de Bobby Picket, moldada pelos The Horrors em 2 minutos e 27 segundos de potentes beats psicóticos, frenéticos e ásperos, com intermitentes gritos de ‘Jack The Ripper’ entre debulhadoras e uivantes guitarras. Desconcertante? Aham. Quer dançar? Sim, por favor. (N.d.T. 6)

The Horrors estão ficando acostumados em provocar reações em uma platéia... Veja o sujeito que fez uma resenha de um concerto do Horrors na NME; ele ficou o show com os dedos tapando seus ouvidos, com uma expressão de dor...

“Acho que nunca tivemos a intenção de estar lá [na NME]”, ri Spider. “As vezes há uma reação onde a pessoa não estava esperando o que ela estava ouvindo, o que acho que é um ponto positivo”.

“Todos nós concordamos que o pior seria estar no meio do muro. Alguns gostam, outros não”, diz Faris, parecendo confortável em ser um frontman que geralmente pula na platéia, mas ainda não voltou de lá com um nariz quebrado. “Nunca é tedioso. Mesmo se as pessoas não gostam da música, você pode apreciar uma banda que sabe onde estão indo”.

“Geralmente é uma boa reação”, confirma Spider. “O primeiro show (no pub Spread Eagle no leste de Londres)... nós literalmente tivemos dois ensaios num espaço de duas semanas. Pensamos ‘vamos nessa, oras’. Foi quando as coisas começaram a acontecer, e não paramos desde então”. Ele faz uma pausa, relembrando alguns shows recentes. “Bem, houveram alguns rostos confusos”.

Já que o mais recente símbolo da moda e do rock perdeu a gingada com a Sra. Moss e com a lei, o esquadrão da moda de Londres está começando a farejar para o lado do The Horrors. E eles não são cegos para o fato de que a aparência deles é um fator importante para chamar atenção e como isso pode ser usado como ferramenta. Entretanto, querem que a atenção seja um pouco realista.

“Não foi uma decisão comum de ser desse jeito”, diz Faris, indicando suas roupas, com expressão abatida. “Apenas somos assim”.

“Definitivamente não é parte da música”, Spider franze as sobrancelhas momentaneamente. “É apenas nós, como personagens e personalidades. Gosto de pensar que podemos responder à altura com a música, pra ser honesto. Como uma coisa visual, é ok”, ele contempla. “É uma introdução para as pessoas nos notarem. Se eles quiserem olhar mais afundo para a banda, aí é uma coisa boa”.

Os próprios The Horrors sabem que ainda há um longo caminho pra percorrer, uma alegre surpresa na cara de uma indústria que está alimentando bandas através de um esquemão que quer dedos assinando contratos fora da realidade o mais rápido possível. Para Faris, num espaço de um ano ele apenas quer estar ainda se desenvolvendo e “ter escrito muitas canções”. Há um desejo de tocar nos festivais de verão desse ano, não importa qual seja o tamanho da platéia, e ajeitar decisões sobre lançamentos. Para os fãs, será um jogo de espera, mas enquanto isso, é meio óbvio que a imprensa vai ter um tempo gloriosamente horrível tentando achar uma banda que se encaixe no minúsculo e quadrado padrão de estrelismo que é a atual música britânica. Perfeito, quem disse que a gente vai compartilhar isso?


Notas do tradutor:

1. Clara alusão aos Arctic Monkeys, que com seu caráter popular de classe trabalhadora, é considerado pela turma underground como chav rock.

2. O partido político Labour tem sido atualmente alvo de muitas críticas na sociedade inglesa, pois, segundo os nacionalistas, sua política multicultural de abertura aos imigrantes está destruindo a cultura e orgulho britânico.

3. Outra referência aos Arctic Monkeys, com a música “I Bet You Look Good On The Dancefloor”. Nota-se que o The Horrors é o oposto dos Arctic Monkeys.

4. East End é a zone leste de Londres, uma das regiões mais velhas e degradadas da cidade. É uma área caracterizada pelo aspecto tenebroso e sombrio, e foi lá que Jack The Ripper (Jack, o estuprador), escolhia suas vítimas.

5. Screaming Lord Sutch foi um maverick britânico que nos anos 60 se envolveu com música e política. Ficou famoso por seus shows encenarem atos de terror e suspense, e também de se apresentar vestido de Jack, o Estuprador (Jack The Ripper). Foi pioneiro em agrupar atos grotescos de bruxarias e suspense ao rock’n’roll. Sua banda de apoio tinha músicos como Jimmy Page e Jeff Beck, antes de ficarem famosos.

6. Aqui o escritor do texto cai numa contradição. No segundo parágrafo do texto ele alega que o The Horrors não é uma banda pra dançar, parafraseando ironicamente a música dos Arctic Monkeys, “I Bet You Look Good On The Dancefloor”. Agora ele dá a entender que a música “Jack The Ripper” é pra dançar.


Não custa lembrar que o The Horrors toca em Londres no dia 25 de Julho, no 100 Club, na Oxford Street, n. 100. Imperdível.

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