Wednesday, April 27, 2005

 

coluna 19 de abril

Nada como viver em um país onde a música rock é a raíz. Tenho que aproveitar enquanto estou aqui, embora às vezes sinto falta da efervescência e caos e cores de um país latino. Às vezes. Mas estou na Europa e aqui tenho que me enquadrar. Não é difícil.

Em Londres, mesmo fora da região central, qualquer bairro, qualquer área, tem um pub-bar com um palco e diariamente bandas pop-rock iniciantes ou de médio porte se apresentam ao vivo. O legal é que tanto numa segunda-feira gelada quanto num sabadão de agito, esses shows nunca estão vazios.

Essa semana fui ao pub Water Rats, no bairro de King's Cross, onde tinha show dos escoceses Motormark e do duo americano Mates Of State. Veja aí embaixo como foi.

Ainda, continuo com minha lista dos melhores discos lançados recentemente por aqui. Resenhei mais alguns para vocês. A coluna tá gorda essa semana.

E não esqueça meu blog aí do lado, com dicas de baladas e shows. Ah, essa semana não tem BURN IT, já que tem um monte de álbuns legais para vocês irem atrás.

I see you baby, shaking your ass ;-)

*** *** ***

MELHORES 2005, a lista continua.

::: ANTONY & THE JOHNSONS | I Am A Bird Now | (Rough Trade)

Essa foi a maior surpresa desse ano. Um disco de pura e singela beleza. Antony está em todas no momento. Aqui em Londres todos os meios de mídia destacam esse cantor andrógino, que tem uma voz tão suave e tocante que faz a gente passear entre nuvens e borboletas enquanto ouvimos-o. Pianos, instrumentos de cordas e uma voz única, perfeita e eterna. Não existe adjetivos para descrever esse álbum. Estará nos meus dez melhores do ano com certeza. O lp conta com convidados de peso como Boy George, Devendra Banhart, Cocorosie, Rufus Wainwright e Lou Reed.

::: IDLEWILD | Warnings/Promises | (Parlophone)
O Idlewild vem de uma das cidades mais bonitas da Europa: Edinburgh, na Escócia. Esse é o quarto disco deles e é o mais pop de todos. O som emo-rock dos primeiros discos não está presente aqui. Em ‘Warnings/Promises' presenciamos o talento do vocalista Roddy Woomble para escrever pop-songs de boa qualidade e sua admiração por R.E.M. São doze pop-pieces, com guitarras bem posicionadas e refrões inesquecíveis. Destaques: ‘As If I Hadn't Slept', ‘Too Long Awake', ‘Love Steals Us From Loneliness', ‘Welcome Home' e ‘I Understand It'.

::: KAISER CHIEFS | Employment | (B-Unique)
O Kaiser Chiefs, de Leeds/UK, dá toda a pinta que é uma banda de um álbum só. Tomara que eu esteja errado. Esse disco de estréia é puro brit-pop quadrado, divertido, inglês e dançante. É Blur e Menswear na cara dura e fim de papo. Bom pra uns, ruim pra outros. Como li na Time Out certa vez, impossível uma banda americana soar assim. A música ‘Everyday I Love You Less And Less' é o grande hit, e já vem sendo tocada nas pistas indies aqui de Londres à exaustão. Outros hits são ‘I Predict a Riot', ‘Na Na Na Na Naa', ‘Oh My God', ‘Born To Be a Dancer' e ‘Time Honoured Tradition'.

::: BRITISH SEA POWER | Open Season | (Rough Trade)
E dá-lhe o império britânico. Traduzindo, o nome da banda é ‘força do mar britânico'. Mais britânco que isso, só se a banda se chamase ‘british tea power'. O quinteto British Sea Power lançou novo disco e para nossa felicidade, onze novas gemas guitar-pop, soltando jorros de dramaticidade, intensidade e genialidade. Um disco épico e simples ao mesmo tempo. Um clássico absoluto. Simplesmente uma das melhores bandas britânicas dos dias de hoje e não tem o que falar. Impossível destacar faixas, pois todas são boas. Mas ainda sim eu teimo e jogo com ‘Please Stand Up'. Amém.

::: M WARD | Transistor Radio | (Matador)
Esse é o quarto long-play de M Ward e aqui ele atinge o pico de seu talento. ‘Transistor Radio' é uma coleção de clássicos folk-soul, repartido em dezesseis faixas. Um álbum intimista, sensível, quente, reflexivo e cheio. A canção ‘Four Hours In Washington' é uma gema country-psicodélica fantástica. M Ward vem lá da costa oeste dos EUA e quem é fã de Devendra Banhart e Bonnie ‘Prince' Billy, deve obrigatoriamente ir atrás dos trabalhos dele.

::: THE SILENT LEAGUE | The Orquestra, Sadly, Has Refused | (Sic Records)
Eis um masterpiece para fãs de Mercury Rev. O The Silent League é de New York e é encabeçado por Justin Russo, que inclusive tocava teclado com o Mercury Rev. Junto com mais dois colegas, gravou esse que é o álbum de estréia deles. Um clássico para apreciadores de orquestral-pop.

::: THE BRAVERY | The Bravery | (Loog)
Engraçado a polêmica do The Bravery. Aqui na Inglaterra, são adorados pela mídia, NME, Mojo e Uncut falaram super bem, e por onde tocam, esgotam os ingressos e causam agitação. No EUA parece que o hype é menor. Tem até quem tenha ódio mortal pela banda, como uma amiga de New York, que me escreveu pedindo para eu parar JÁ de ouvir The Bravery e que ela não conhece sequer uma pessoa nos EUA que goste deles. Sem contar a rixa entre o eles e The Killers, com uma banda falando mal da outra. Ah, esses americanos... Bem, The Bravery faz um som que não é dos mais originais, isso é bem verdade, mas dá pra ouvir. Numa boa. É a fusão perfeita entre The Strokes e Duran Duran. Fica melhor ainda se você ouvir bombasticamente alto numa pista de dança. Hits: ‘An Honesty Mistake', ‘Swollen Summer', ‘Unconditional', ‘Public Service Announcement' e ‘Out Of Line'. Mais uma banda de um disco só.

::: THE SUPERIMPOSERS | The Superimposers | (Little League)
Desde que comprei esse disco do Superimposers, estou tentando descobrir de onde eles são. Não sei. Fiz uma pesquisa na internet e não descobri. Dane-se. O que importa é que essa primeira compilação de singles 7” da banda é uma belíssima coleção de 60's nuggets, mas só que gravado nos dias de hoje. Rock, soul, psicodelia, country, tudo com acabamento atual, refinado, feito para pessoas de puro bom gosto musical. Minha faixa preferida é ‘Seeing Is Beliveing'.

::: ADAM GREEN | Gemstones* | (Rough Trade)
Terceiro álbum desse rapaz nova-iorquino que faz um estilão vintage-crooner. Ele era um dos moleques por trás do Mouldy Peaches e agora tá firme em carreira solo. Embora não muito inspirado como no disco anterior, mas ainda sim bacana, em ‘Gemstones*' Adam Green continua cantando seus contos loucos sobre viagens de cogumelos, garotas de tetas siliconadas e cantores do Beachwood Sparks. Tudo isso sob boas e cativantes melodias, recheadas de teclados vintage-groovy, alguns strings e violão. As faixas ‘He's The Brat' e ‘Emily' são os destaques. Um fato engraçado é que no lançamento do single ‘Emily', Adam Green fez uma breve turnê aqui na Inglaterra e os anúncios dos shows diziam que quem se chamasse Emily, poderia entrar de graça nas apresentacões.

::: TED LEO & THE PHARMACISTS | Shake The Sheets | (Lookout! Records)
Taqui mais um disco do Ted Leo & The Pharmacists e taqui mais um disco de pop-punk cheio de vigor e energia. Esse é o quarto disco deles e vem soltando rajadas pra tudo de ruim que os tempos de hoje nos oferecem: guerras, líderes políticos otários e injustiças. Um bom álbum de rock pra ouvir do começo ao fim sem pular nenhuma faixa. Highlights: ‘Waiting To Do', ‘Me And Mia', ‘Counting Down The Hours' e ‘Better Dead Than Lead'.


Esses são os outros álbuns que recomendei anteriormente aqui na coluna, lançados recentemente:
- M83 | Before The Dawn Heals Us | (Mute Records)
- DESTROYER | Your Blues | (Talitres Records)
- THE BOY LEAST LIKELY TO | The Best Party Ever | (Too Young To Die Records)
- LEWIS TAYLOR | The Lost Album | (Slow Reality Records)
- BLOC PARTY | Silent Alarm | ( Wichita Recordings)
- MERCURY REV | The Secret Migration | (V2 Records)
- ISIS | Panopticon | (Ipecac Recordings)
- DOMINIK EULBERG | Flora & Fauna | (Traum Schallplatten)


O ano de 2005 ainda promete muito mais. Veja só o que os próximos meses nos reservam: The Tears, Babyshambles, Be Your Own PET, The Magic Numbers, Johnny Boy, The Pipettes, The Priscillas, Subways, Yeti e The Features, além de outros.

*** *** ***


MATES OF STATE / MOTORMARK
Ao vivo no Water Rats, Londres, 13/04


Entrei no Water Rats para tomar umas pints apenas e lá descobri que, se esperasse uma hora, começariam os shows do dia. Já estava lá mesmo, então resolvi ficar. A primeira banda eu não vi e nei sei o nome. Tava sentado com uma pint de guinness na mão. O lugar foi enchendo e quando a segunda banda começou, o Motormark, já estava entupido de gente. Uma vibe ótima.

O Motormark é uma garota e um garoto. Os dois estavam dos pés as cabeças vestidos de couro. O som foi um electro-pop ora meio twee, ora caindo para um lado dark, meio hard-electro, sempre up-beat. E bem alto, o que foi ótimo. Tinha horas que ele pegava na guitarra e ela só cantando, com os beats programados arregaçando ao fundo. Às vezes ela pegava no baixo e mandava ver um groove forte e distorcido. A moça cantava parecido com a Siouxsie ou a Karen O. e o moço remetia ao Ian Curtis. Eles são da Escócia e já lançaram dois discos, sendo que o último, ‘Chrome Tape', lançado pela Digital Hardcore Recordings, merece uma ouvida.

Vem o Mates of State, que eu não conhecia. Novamente um duo. Ela e ele. Kori e Jason. Têm lá seus vinte e poucos anos. Na verdade, são um casal. São casados no papel e tudo mais, e vieram diretamente do Kansas, EUA, para Londres.

O show começa. Ela nos teclados e programações e ele na bateria. Ambos cantam. Não tem guitarra nem baixo. Daí se percebe que a coisa seria leve. E realmente foi. Ficamos imersos sob canções uma mais pop e doce e carinhosa que a outra. Canções muito legais, por sinal. Teclado, bateria, cantos e criatividade. Sem contar os refrões, super meigos e fofos, e as letras, esquisitas e românticas. O som deles é muito legal. Como o pop deve ser: ingênuo e simples. Adorei. E não fui o único, já que boa parte da platéia gritava e cantava junto, com empolgação. Tocaram por uma hora mais ou menos, com direito a bis.

Depois fui até a barraquinha de cds&camisetas e vi que eles já tem vários discos lançados nos EUA. Comprei o mais recente, chamado ‘Team Boo', e não me canso de escutar.

www.matesofstate.com
www.digitalhardcore.com


*** *** ***

E para quem acha que a volta dos Libertines e impossível, veja só a notícia que saiu na NME.COM:

http://www.nme.com/news/112084.htm

Sou totalmente a favor de uma reunião dos Libertines, mas só depois que o disco dos Babyshambles for lançado! :-)


*** *** ***

Semana que vem tem resenha dos shows do The Tears em Cambridge e Manic Street Preachers aqui em Londres, além de outras coisas. See you, folks!

Saturday, April 16, 2005

 

coluna 12 de abril

A primavera é a época do ano em que a gente mais passa frio aqui na Inglaterra. Simplesmente porque o sol aparece algumas vezes e a chuva dá um tempo, e com isso acreditamos ingenuamente que o inverno acabou. E então saímos pra trabalhar desagasalhados. Aí toma frio de gelar, vento na cara e o escambau. É a estação pega troxa, como eu. É primavera aqui mas ainda sim é mais frio que o inverno no Brasil.

Ok, não se preocupem, prometo que essa é a última vez que falo do tempo aqui na coluna.

Essa semana resenho o show do Subways e meu irmão Gilberto conta como foi The Buff Medways ao vivo aqui ao lado de casa. Londres continua agitada como sempre quando o assunto é rock'n'roll.

Ainda tem The Tears, claro, e também meu guia de músicas essenciais, que aliás tá cheio de coisa legal. Se liga aí.


*** *** ***

THE SUBWAYS
Ao vivo no Mean Fiddler, Londres, 06/04/2005


Ver uma banda como o The Subways ao vivo dá uma sensação de que você está vendo a história acontecer, assistindo a ascensão de uma banda underground para o mainstream. Você está vivenciando o hype. Por isso, o clima no show estava ótimo. Expectativas a mil.

O Subways é um trio londrino que deve estourar nos próximos meses e que já foi devidamente recomendado nessa coluna semanas atrás. A banda está em diversas revistas de música e comportamento e os shows são sempre sold-out. Mandam ver um som pesado e pop ao mesmo tempo, que deixaria Kurt Coubain orgulhoso. Lembram exatamente o Nirvana circa ‘Bleach'. E com pitadas de The Coral e Dinosaur Jr.

Lançaram apenas um single, o bacana e inflamado ‘Oh Yeah'. Mas essa banda é boa mesma ao vivo. Puta punch, puta peso, uma guitarra que vale por dez. Um barulho alto e forte, melódico, sensível às vezes, com uma pegada firme. Muito firme. Puro rock'n'roll. E de altíssima qualidade. Eles têm uma média de 18 anos mas o que vemos aqui é coisa de gente grande. Moshs, polgos e empurra-empurra dominaram boa parte da pista. A excitação contagiava a todos.

O show é curto, por volta de uma hora. Ficamos com um gostinho de ‘quero mais' quando deixam o palco. Essa é a grande diferença para uma banda boa e uma banda mela-cueca. Esse foi o segundo show que vi deles e mais uma vez me convenceram. Esses garotos têm um longo e brilhante futuro pela frente.

www.thesubways.net/

*** *** ***


THE BUFF MEDWAYS
Ao vivo no Boston Arms, Tuffnell Park, Londres, 08/04/2005
Por Gilberto Custódio


Antes de mais nada, vamos as apresentações. The Buff Medways é a nova banda de Billy Childish, um punk veterano que desde 79 já tocou num monte de bandas, a mais conhecida sendo Thee Headcoats. O som sempre foi basicamente a mesma coisa: rock de garagem influenciado pelos sixties. O homem é considerado uma lenda para os fãs do estilo. Quando soube que ele ia tocar num lugar que tradicionalmente recebe as bandas de garagem da cidade, dei gritos de felicidade. Ainda mais ao saber que esse lugar fica praticamente ao lado de casa. Ao chegar no Boston Arms a banda de abertura já estava tocando. Falo do Armitage Shanks, que foi extremamente tosco e despretensioso, com direito a cover de “14th Floor” dos Television Personalities. Achei o show longo... estava ansioso mesmo era pra ver o Billy Childish.

Quando ele subiu no palco e soltou os primeiros acordes já estava impressionado. O velhinho manda muito bem. Com sua guitarra vermelha estilosa, entupida de fuzz, mandava uns solos barulhentos com direito a poses e caretas, que ficavam geniais devido ao bigodão e a roupa do sujeito. Me peguei diversas vezes rindo. O efeito fuzz crescia ainda mais devido aos amplificadores valvulados da Vox. Os acordes e riffs quadrados do Buff Medways ganham outra dimensão ao vivo. Sujo, alto e tosco. E impressionante ver alguém da idade de Billy Childish fazer tanto barulho com a guitarra! E ele estava feliz, altos sorrisos, cada intervalo bebia algo de sua garrafa térmica e falava um monte com a galera, que festejava horrores, seja gritando ou batendo palmas. Uma noite inesquecível!

www.theebillychildish.com/

*** *** ***


THE TEARS

A nova banda de Brett Anderson e Bernard Butler adiou o lançamento do single ‘Refugees' e do álbum ‘Here Come The Tears'. O single será lançado dia 25/04 e o álbum vem somente em junho. Tudo isso aqui na Inglaterra. Só porque não aguento mais esperar. Eles divulgaram o set-list completo do álbum, veja a seguir:

Refugees
Autograph
Co-Star
Imperfection
The Ghost of You
Two Creatures
Lovers
Fallen Idol
Brave New Century
Beautiful Pain
The Asylum
Apollo 13
A Love As Strong As Death

O single ‘Refugees' entrou em terceiro lugar nas mais pedidas da rádio XFM de Londres.

Semana passada Bernard Butler fez um post no fórum da banda dizendo o seguinte, sobre sua relação com Brett Anderson: ‘We love each other, so what?' Hummm…

www.thetears.org

*** *** ***


BURT IT: guia semanal de faixas essenciais. Faça o download. Já.

THE DECEMBERISTS ‘Billy Liar'
Essa é minha mais nova paixão. Um quinteto chamber-pop dos EUA, recheado de orgãos, pianos, violinos e acordeon nunca pode ser ruim. Esse é o primeiro single tirado do novo álbum ‘Picaresque', lançado a pouco. Cativante e divertido. Uma delícia.

THE BISHOPS ‘Will You Ever Come Back Again?'
Essa faixa só foi lançada em cd-r e é vendida apenas nos shows do The Bishops. A perfeita mistura de power pop, mod-rock e indie-pop.

THE FEATURES ‘ Blow It Out'
Grande banda oriunda do Tennessee, EUA. São os preferidos do Kings Of Leon e mandam ver um puta som, energético e cheio de vigor, algo no meio de Weezer e The Jam. Esse é o segundo single deles, explosivo e sensacional.

VHS OR BETA ‘Te Melting Moon'
Alguém aí se lembra de The Bravery? Eu não. O novo revival 80's chega com o nome de Vhs Or Beta. Nada de novo, apenas diversão garantida. Essa faixa é um grande hit pra pistas indies.

BRITISH SEA POWER ‘Please Stand Up'
Sem sombra de dúvidas essa é a melhor faixa no novíssimo e excelente disco do British Sea Power. Um guitar-pop perfeito, que só mesmo essa fantástica banda sabe fazer. Mágica, épica, simples, poderosa, genial.

RAZORLIGHT ‘Somewhere Else'
Novo single dos londrinos Razorlight. E uma de suas melhores músicas até agora. Johnny Borrell dá sinais que realmente veio pra ficar. Estão no caminho certo. Impossível não se contagiar com essa balada.

EMBRACE ‘Gravity'
Uma das coisas que me dá ódio na NME é o critério dela analisar uma banda. O Embrace lançou no ano passado um disco lindíssimo, tão bom quanto os melhores álbuns do Travis e Coldplay. Sensitive-pop-indie de primeira. Mas porque agora a moda é ser art-rocker, a NME deu nota 2 para o álbum. Se fosse em 1999, falariam que era o melhor disco da década e por aí vai. Tipo assim, acho que antes de mais nada temos que ver se o som da banda é bom ou não, e não ver se ela faz parte da moda ou não. Primeiro vem a música, depois o resto. ‘Gravity', primeiro single do último lp, é maravilhosa. E o restante do disco segue por essa mesma linha. Nota 10.

BRIGHT EYES ‘Devil In The Details'
Só foi o Bright Eyes dar uma mudada, usar uns scretches, botar uma pitadinha eletrônica em seu folk triste e bêbado, que os críticos já o acusam de copiar Radiohead, roubar os beats de Trent Reznor ou ter como inspiracão uma banda cover do New Order. Oh, sabe nadas esses negos de revistas de música. O garoto prodígio Cornor Orbest lancou dois discos recentemente sob sua conhecida faceta Bright Eyes, sendo que um deles, ‘Digital Ash In a digital Urn', possui roupagem eletrônica-pop e é muito legal, mas infelizmente, foi mal recebido por parte da mídia. A música ‘Devil In Details' mostra que o disco é ótimo, triste, desesperado e pop na medida exata.

HAL ‘Play The Hits'
Terceiro single dessa bacana banda inglesa, um ótimo sensitive-guitar-pop. Meio Coldplay, meio Stills, meio Badly Drawn Boy. O álbum deve vir aí. Vale a pena uma ouvida.




***

Tuesday, April 12, 2005

 

coluna 05 de abril

Ressaca. Minha cabeça está torta. Dói. Meu irmão ouvindo dub aqui do lado. Da Jamaica. De Kingston. De raíz. Escrevo essa coluna depois de uma noite bem dançada, com muita cerveja Stella, no club Frog, aqui de Londres. Todo sábado lá tem mil pessoas se espremendo para dançar as novidades do momento e ver ótimas bandas ao vivo. Já passaram por lá Babyshambles, Razorlight, Death From Above 1979, The Ordinary Boys, Hope Of The States, Futureheads, Bloc Party e muitas outras. Ontem foi Delays, mas sobre esse show você vê lá embaixo. Ainda comento sobre outros shows e outras bandas. Ah, não se esqueça que as colunas anteriores estão arquivadas aqui: http://bestmusic2004.blogspot.com/

Desce aí, sangue bom.


 *** *** ***

YETI

Após o final dos Libertines, todos seus integrantes embarcaram em outros projetos. Pete Doherty, apesar de todas as confusões, está firme no Babyshambles. Carl Barat assinou contrato de gravadora para seu projeto solo. Gary, o batera, voltou a tocar em bandas de jazz e John Hassal, o tímido baixista, formou o combo Yeti.

Depois de alguns shows e muito falatório, o Yeti lançou o primeiro single na semana passada aqui na Inglaterra, chamado ‘Never Lose Your Sense Of Wonder'. A música realmente é muito bacana, o que temos aqui é um delicioso vintage power-pop, nos remetendo a The La's e The Autumn Leaves. John agora é o líder da banda, assumindo vocais e guitarra. Segundo ele, o Yeti não é um mero projeto paralelo sem importância, e sim uma grande prioridade para ele. A banda promete um novo single e um full álbum para o verão. Boto uma fé. Fique de olho.

http://www.yetiintelligence.com

*** *** ***


BABYSHAMBLES

Finalmente as coisas se acalmaram para o lado de Pete Doherty. Por enquanto. O líder dos Babyshambles, ex-Libertines, recebeu permissão para gravar o que poderá ser o primeiro disco da sua atual banda. As sessões estão rolando no País de Gales com o ex-Clash Mick Jones, que produziu os dois álbuns dos Libertines, novamente à frente da producão.

De acordo com o site oficial da banda, babyshambles.net, as gravacões estão correndo bem e foram gravadas um total de 13 músicas, incluindo o hit `Fuck Forever`. Veja a lista completa das músicas gravadas:

Gang of Gin
Black Boy Lane
Loyalty Song
A Rebours
Do You Know Me
32nd Of December
My Darling Clementine
Fuck Forever
In Love With A Feeling
Albion
8 Dead Boys
Sticks and Stones
Wolfman


Ainda, seis músicas novas foram compostas e a banda pretende regravar as já conhecidas ‘Babyshambles', ‘The Man Who Came To Stay' e ‘Killamangiro'. Vamos torcer para correr tudo bem e que o álbum finalmente seja lançado. Enquanto isso, Pete está na capa da revista `...` e ainda na ID traz uma matéria sobre ele. Novos shows devem ser anunciados em breve. Fique ligado aqui para maiores informações.


www.babyshambles.net


*** *** ***


REGINA SPEKTOR

Já comentei sobre Regina Spektor no meu Best of 2004, mas vale a pena repetir a dose, só porque essa semana não me cansei de ouvi-la. Essa garota estranha nasceu em Moscou, mas se mudou para New York quando ainda era pequena. Agora a moça tem 24 anos e faz músicas lindas e esquisitas, sob uma base de piano que até os caras do Strokes e Kings of Leon se dizem fãs confessos.

O álbum ‘Soviet Kitch' realmente vale uma ouvida, principalmente se você é chegado em Joni Mitchell ou Leonard Cohen. Em recente apresentação no Bowery Ballroom, em New York, a cantora escrota Pink foi vista na platéia. Perguntada se ela estava lá por causa de Spektor, ela respondeu : ‘Yes, I love her songs!'. Mas não se preocupe, a música de Regina Spektor tem muita qualidade, diferente da música da Pink.

www.reginaspektor.com/


 *** *** ***

DELAYS
Ao vivo no club Frog, Londres, 02/04/2005


Todo mundo que estava comigo não gostou. Não desprezaram, mas não deram importância. “Muito óbvio”, disse um deles, se referindo ao show. Bem, vamos recapitular. O Delays é uma banda de porte médio aqui na Inglaterra que manda ver um sunny-ethereal-pop de primeira, com o vocalista Greg Gilbert cantando de forma tão fofa e
afetada que parece uma garota.

Lançaram o bacana álbum ‘Faded Seaside Glamour' no ano passado, recheado dessas canções… sunny-ethereal-pop. Um novo single apareceu esse ano, ‘Lost In a Melody', com o grupo rumando para um som mais eletrônico, mas ainda sim de essência orgânica. Tipo New Order. E foi exatamente com essa música que eles abriram o show.

Apesar do lugar estar cheio, foi fácil de assistir o show bem na frente. Não teve moshs nem pogos nem empurra-empurra. O som do Delays é tranquilo. E a galera tava tranquila. Começaram com canções novas, aquelas tipo New Order. A banda vai lançar o segundo disco muito em breve e obviamente queriam mostrar os novos sons para o pessoal. Achei legal o novo rumo da banda. Tem estilo. Tô louco pra ouvir o novo LP.

Depois vieram as músicas já conhecidas do público, as do primeiro álbum, como ‘Hey Girl', ‘Wonderust' e ‘Bedroon Scene'. São perfeitas guitar-pop songs. Quando tocaram os singles, ‘Nearer Than Heaven' e a clássica ‘Long Time Coming', a galera pulou, levantou os braços e cantou. Foi o pico da noite.

Cinquenta minutos após terem subido no palco, terminaram o show com mais uma música nova, que pra mim foi a melhor da noite. Pô, tô falando… tem estilo. As músicas novas aludem a Saint Etienne, Cocteau Twins e New Order. Tem melodia. São boas.

Concordo que foi óbvio. Claro que foi. Afinal, o que esperar de um show do Delays? Não estavam ali para surpreender, mas sim para entreter. E foi isso que fizeram. Óbvio sim, mas bonito também. Ficar somente em bandinhas art-rocker não é o caminho. O novo disco vem aí. Tô com eles nessa.

http://www.thedelays.co.uk


*** *** ***

THE PRISCILLAS | THE BISHOPS
>> The Pistolas | Turismo | Pope Joan
Ao vivo no The Pleasure Unit, Londres, 04/04/2005


Bom e velho East London! Bethnal Green é um dos bairros mais legais de Londres e o bar indie local é o The Pleasure Unit, onde diariamente bandas iniciantes se apresentam. Hoje à noite, em plena segundona, tem cinco bandas. Vamos por ordem.

THE BISHOPS: Já tinha os visto anteriormente e já conhecia o som. Os The Bishops são dois irmãos gêmeos, Mike Bishop (vocais e guitarra) e Pete Bishop (baixo e backing-vocals), junto com o batera Chris McConville. Um power-trio de preza. O som é fantástico, uma fusão de power-pop, mod-rock e indie-pop. Músicas super simples e pra lá de boas. Nos remete a bandas indie-pop espanholas, The Who e Velvet Crush. Uma beleza. Comprei o cd-r demo. Como pode uma banda tão bacana como essa não ter contrato com gravadora sendo que tem tanto lixo por aí que tem? Fique ligado nos próximos shows: www.thebishopsband.com

THE PISTOLAS: Ô coisa ruim. Que merda de banda. Vi duas músicas e (advinha?) fui para o bar pedir mais uma pint. Imagina uma mistura de Foo Fighters (argh!) com Bon Jovi (argh!!!!!!) e você chega perto. Bando de posers otários. Merecem pistolas no meio do cú. 

POPE JOAN: Calem a boca desses filhos-da-puta! Eu pago. Que passa? Neguinho agora quer seguir modinha e ser o novo Interpol?? Essa banda não tem um pingo de personalidade. O The Bishops é legal porque fazem um som vindo do coracão. Percebemos isso. Sentimos isso. Já o Pope Joan prefere seguir a moda, fingir ser cool, se vestir de ternos e gravatas e tentar ser a mais nova sensação art-rocker. Imitação barata de Bloc Party. Plágio de Ikara Colt. Um lixo.

TURISMO: Outra decepção. Mandavam ver um pop-rock limitado e sem vigor. O que mais me irritou foram as groupies na frente dançando e se esperneando com esse som de merda. Garotinhas lindas, de 18 anos, descobrindo o rock. Vish, tão no caminho errado.

THE PRISCILLAS: O quarteto de garotas The Priscillas fazem parte do novo movimento ‘revival of the 50s rock'n'roll revival', que junto com Vincent Vincent & The Villains, tá fervendo Londres. São devotas de Elvis e garage rock. Um puta som legal! A vocalista tinha um look ‘barbarella', enquanto que as outras meninas estavam de vestidos e cabelón fifties. Uma graca. Musicalmente, lembram o bublegun das Go-Go's, a energia dos Detroit Cobras e o glam rock do Sweet. E se você também pensou nas japinhas The 5 6 7 8's, acertou. Esse show foi para comemorar o lançamento do primeiro single, ‘Gonna Rip Up Your Photograph', lançado somente em vinil 7”. Visite: www.thepriscillas.co.uk/

*** *** ***


BURT IT: guia semanal de faixas essenciais. Faça o download. Já.

The Blue Nile ‘Over The Lights': Essa é a banda mais triste do mundo, e essa música atesta bem o que estou dizendo. A banda existe desde 1981, e lança um disco a cada sete anos. Nunca acabaram, só dão um tempo. Ano passado foi lançado o mais recente. Mas essa faixa é de um LP antigo, o ‘Hats'. Ninguém faz músicas tristes como o The Blue Nile.

The Arcade Fire ‘Neighborhood #2 (Laika)': Definitivamente o Arcade Fire é uma das bandas mais legais da atualidade. Tudo bem que eu falo isso de um monte de bandas, mas porra, é que realmente tem muita banda boa por aí, uma melhor que a outra. Essa faixa é o novo single desse combo-orquestra do Canadá. Uma delícia.

Fischerspooner ‘Just Let Go': Novo single da dupla de New York. Um ótimo electro. Dizem que o álbum é bom. Vamos torcer pra que seja mesmo.

Brendan Benson ‘Spit It Out': O Brendan Benson lançou o segundo disco de sua carreira esse mês, e essa faixa é o primeiro single desse trabalho. Como já era de se esperar, somos presenteados como um guitar-power-pop que beira a perfeição. Genial.

…And You Will Know By The Trail Of Dead ‘And The Rest Will Follow': novo single dos texanos …Trail Of Dead. Continuam no mesmo estilo, explosivo e intenso guitar rock. Ótimo tê-los de volta.

Lady Sovereign ‘Randon': Dizem que ela é a rainha do novo movimento eletrônico Grime, abordado aqui semana passada. Na verdade, se é grime ou não, pouco importa. O que importa é que a Lady Sovereign, assim como Dizzee Rascal, é uma chav MC inglesa que faz hip-hop com umas BATIDAS do caralho. Muito bom. E olha que hip-hop não é meu estilo preferido… Mas aqui eu admito: muito legal. Ouça já.

Tuesday, April 05, 2005

 

coluna 29 de marco

Woooow! Essa é a primeira vez que escrevo a coluna e não falo nada do The Tears.Quer dizer, tô falando agora, mas quero dizer que da semana passada para essa nãorolou nada de relevante pra contar da banda. Pena. Mas semana que vem quem sabe…

Meu irmão Gilberto Custódio Jr me visita em Londres e, para celebrar, publico aquium texto dele sobre o Grime, uma nova tendência eletrônica aqui de Londres. Aindatem uma resenha dele para o álbum da banda The Icicles.

Já eu, falo de alguns shows que rolaram por aqui na Páscoa e, como sempre, indico lá embaixo umas músicas espertas para se baixar. Se liga!

*** *** ***

GRIME
por Gilberto Custódio Jr.

Dos subterrâneos de Londres surge o Grime, novo estilo musical que abrange diversas tendências musicais eletrônicas, como Ragga, Dubstep, UK-Garage, Hip Hop, IDM, Drum`n`Bass, Breaks, Dub, Techno, Jungle entre outros. Para resumir a história toda, é só botar tudo isso num liquidificador e o BATIDÃO está feito. Em meados de 2004 foi lançada a primeira compilação explicitamente do estilo. Rephlex Records, gravadora capitaneada por Richard D. James, também conhecido como Aphex Twin, lançou “Grime”, uma compilação composta de 3 produtores, 4 músicas de cada: “Nós da Rephlex decidimos chamar isso de Grime para divulgar para as pessoas mais amplamente, fora do mundo especialista dos produtores. Os puristas podem debater o nome, mas enquanto elesfazem isso, turmas ao redor do mundo estão se unindo para curtir esse forte e fresco movimento da dance music”, explica os idealizadores do estilo na contra-capa da compilação.

As canções presentes em “Grime” são todas instrumentais. Isso porque os artistas presentes são todos produtores: MarkOne, Plasticman e Slaughter Mob. Em comum têm o fato de todos apostarem num ritmo inteligente e variado. “Música criada por humanos com cérebros, corações, máquinas e eletricidade”, explicam. Ao mesmo tempo que a música é instrumental, os produtores encorajam MCs e vocalistas a cantarem em cima de suas bases. É o que ouvimos nos sets de Grime disponíveis no site da Rephlex. Ou mesmo no álbum solo de MarkOne, intitulado “One Way”, que tem ótima participação do rapper Virus Syndicate, que metralha poesias e palavras soltas. O sucesso rendeu um segundo volume, também lançado pela Rephlex e intitulado de “Grime 2”. Dessa vez os artistas escolhidos foram Kode 9, Loefah e Digital Mystiks.

Mas fique atento: não é só a Rephlex que monopoliza o estilo. Mestre Richard D. James pode ter sido o primeiro a perceber a coisa toda, mas Grime há tempos já se espalhou por toda Londres e, pouco a pouco, pelo mundo afora. É uma tendência natural: cada vez mais as festas estão mais ecléticas e abrangentes. Então temos a Shockout, sub-selo da Tigerbeat6, que acaba de lançar uma compilação que reúne as melhores músicas de seus ótimos 12”s. A Shockout é capitaneada por Kid 606. E é Grime até a medula. The Bug, DJ Rupture, Soundmurderes, entre vários outros, são alguns dos nomes que fazem parte do universo Shockout/Tigerbeat6, além de rappers doidões que se matam no ragga e UK-garage. Como já mencionado antes, nem só de produtores vive o estilo: rappers também estão fazendo a festa. A compilação “Run the Road”, lançada no começo de 2005, demonstra bem isso, ao reunir nomes como Roll Deep, Dizzee Rascal, Shystie e Kano, todos quebrando tudo em cima das mais loucas bases. Mais legal mesmo é notar a forte presença feminina: Shystie, No Lay e Lady Sovereign, todas marcando presença sem deixar a bola cair um segundo sequer.

Grime está só no começo. Com a palavra Eduardo Ramos, do coletivo paulista Centro Cultural Batidão: “São muitos white labels ainda, é difícil acompanhar, mas a melhor maneira é ficar ligado na rádio pirata Rinse FM, que inclusive disponibiliza sets de vários DJs do estilo”, explica Edu, que acaba de voltar de Londres. Aliás, São Paulo aos poucos vem se rendendo ao estilo, com projetos em casas noturnas como Funhouse (festa Popcorn as quartas), Jive (festa Stamine Dancehall as quintas), Milo Garage (festa da Peligro com Centro Cultural Batidão, também as quintas) e Susi in Transe (festa Susi in Dub as sextas). Se joga!

A curiosidade fica por conta da percepção de que tanto Aphex Twin, quanto Kid 606, já tocaram no Brasil. E segundo conta a lenda, os cachês dos rapazes para tocar aqui foram os mais gordos que os próprios já receberam. Pelo que podemos ver, o dinheiro está sendo muito bem investido. Resta os produtores nacionais abandonarem de vez a idéia fixa de ficar só no drum’n’bass com MPB e cair de cabeça no emaranhado musical que só 2005 pode proporcionar.

Visite esses sites para baixar set de grime em mp3:
Rinse FM: http://www.rinsefm.com
Rephlex Records: http://www.rephlex.com
Tigerbeat6 Records: http://www.tigerbeat6.com

Top 5 Grime do momento:
1. The Bug & Daddy Freddy, “Run the Place Red” (AFX Mix) – Smojphace EP da Men Records

2. Soundmurderer & Sk1_Wayne Lonesome, “Who Wan Seek War” (Rewind Mix) – Shockout Singles Vol. 1 da Shockout

3. Slaughter Mob, “Creeky Door” – Grime da Rephlex

4. Kode 9, “Dislokated” – Grime 2 da Rephlex

5. No Lay, “Unorthadox Daughter” – Run the Road da 679

*** *** ***

M83 / Secret Machines
Ao vivo no Electric Ballroom, Camden Town, Londres, 25/03/2005

Primeira vez que vou ao Electric Ballroom e porra, como é grande! Não esperava tanto. A noite tá sold-out. Vim porque quero ver o M83, diretamente da Franca e que recentemente lancou o melhor disco do ano ate o momento, resenhado aqui algumas semanas atrás. O Secret Machines, norte-americanos, é chato nos discos, mas já que estou aqui, posso verificar se são igualmente chatos ao vivo.

Hoje a noite tenho uma companhia: meu irmão, que está de férias em Londres. Esse é o primeiro show dele na cidade. A princípio, reclama que tem muito homem no lugar. Falo que é por causa do Secret Machines.

O esperado M83 entra em acão. Áo vivo é um quarteto, capitaneado por Anthony Gonzalez. O show de hoje faz parte da turnê britânica para promover o novo disco ‘ Before The Dawn Heals Us’, que, repito, é o melhor do ano até agora. É o revival Shoegazer. Poucas luzes no palco e fumaca.

Comecam deslizar as guitarras, mandando ver no noise, melódico e triste. De repente, esse clima da espaco para explosões épicas, elevadas, grandiosas. Lembram Slowdive, My Bloody Valentine e Talk Talk. Se não fossem banda de abertura, o show teria sido melhor aproveitado. Ah, e o volume poderia estar mais alto. Mas mesmo assim valeu a pena.

Depois de um intervalo, os punheteiros presentes tiveram o que queriam: Secret Machines. Vi uma música e meia e desisti. Fui ao bar pegar cerveja e esperar meu irmão. Era o primeiro show dele na cidade e é nornal um certo deslumbre. Mas a banda é tão ruim que após quinze minutos tava ele me procurando. ‘Vish, me lembrou Rush…’, disse, quando me encontrou. Querem fazer um som cabeca mas fazem é um som de merda. Beleza, fomos embora cedo e evitamos metrô lotado. M83, dedo polegar pra cima. Secret Machines, dedo polegar pra baixo.


*** *** ***


Be Your Own PET
Ao vivo numa garagem qualquer em Notting Hill, Londres, 26/03/2005


The Boy Least Likely To
Ao vivo no Notting Hill Arts Club, Londres, 26/03/2005


Mas que tarde agradável. Cerveja, rock e sol. Tudo isso de graca. Não tirei sequer um centavo do bolso. A jornada comeca de manhã, com eu e meu irmão procurando algo pra fazer num sábado de sol. Londres no inverno é uma puta cidade. Com sol, fica ainda melhor. Uma visita rápida ao site da loja de discos Rough Trade e pronto, programa garantido.

Ás três da tarde a novíssima promessa do futuro do rock, Be Your Own PET, falado na coluna da semana passada, iria fazer uma apresentacão gratuíta na filial de Notting Hill, zona oeste da cidade. Pouco depois, cinco da tarde, não muito longe dali, o The Boy Least Likely To, também já comentado aqui, tocaria ao vivo para promocão do novo disco. Também de graca.

Be Your Own PET: ao chegar na loja, três em ponto, percebo uma movimentacão estranha. Na verdade, tava tudo muito normal para um show de rock ali. Pergunto no balcão e o atentende me diz que o show na verdade não seria na loja exatamente, como de costume, mas próximo dali. Ele só tinha que dar as direcões para o pessoal de como chegar ao lugar. Nunca vi isso. Mas beleza, cinco minutos depois chegamos no lugar do show e putaqueopariu, a apresentacão seria numa casa. Quer dizer, na garagem de uma casa. O sol brilhava e algumas pessoas já estavam lá, esperando com latinhas de cerveja na mão. Me pergunto onde vendiam cerveja ali, mas logo percebi que as cervejas, todas numa caixa de isopor e gelo, eram de graca. Lindo.

Não demorou muito para o show comecar. A banda é de Nashville, EUA, e a mídiabritânica já baixou as calcas e ficou de quatro pra eles. O som é punk-rock do bom,ora angular, ora sujo e podre. E sexy. Lembra Huggy Bear e Yeah Yeah Yeahs. A média de idade deles é de 16 anos. Rock é isso: vigor juvenil. Jemina, a vocalista, é a mais nova rock-star do rock. Linda, loira e magra, tem um jeitão Courtney Love,menos puta e mais sexy. Suas caretas e expressões enquanto canta é um dos pontos altos do show. O resto, três moleques, é responsável pelo instrumental explosivo e sujo da banda. O baixista, Nathan, é um rapaz esquisito. Magro, com dentes tortos e um black power do tamanho da África. Chega ser engracado vê-lo tocando.

O show foi curto. Acho que tocaram todo o repertório. Umas seis músicas, comdestaque para o single ‘Damn Damn Leash’ e ‘Spill’. Agradeceram e depois se juntaram com a galera, dividindo a cerveja. Ninguém foi embora. A banda foi para a barraquinha vender as demos, broches e camisetas e o público sentou em frente a garagem da casa, no asfalto. O sol ainda brilhava. Dei um tempo ali, enquanto alguns jornalistas falavam com a banda. Antes de sair para o próximo show, claro, enfiei mais umas latinhas dentro da minha bolsa.

The Boy Least Likely To: depois de rolar uns grupos de abertura, era quase 7 danoite quando a banda comecou o show. Oriundos de Londres, estavam em casa. O lugar tava cheio. Só tinha fãs de indie-pop. Algumas gordinhas beatnik e uns nerds de ó culos davam o tom. Iniciaram o concerto com as músicas mais leves do disco ‘The Best Party Ever’, como ‘Paper Cuts’ e ‘I See Spiders When I Close My Eyes’. Só para esquentar. O som deles é puro indie-pop, com uma pegada as vezes country, as vezes soul. Super fofinho.

A coisa pegou fogo quando tocaram ‘I’m Glad I Hitched My Apple Wagon To Your Star’, que é contagiante pacas e fofa, muito fofa. O público dancou. Mandaram mais umas e finalizaram o show com o hit twee ‘Be Gentle With Me’. Up-beat e com uma letra linda, foi impossível não chacoalhar e bater palmas de alegria. A música está entre as mais legais e agitadas do Belle & Sebastian. ‘I guess i’ve always needed to be needed by someone, it’s a conforting feeling being under someone’s thumb’, diz a letra. Ao final, o público pediu biz. Mas sem chances. Eles são muito tímidos para darem biz. Fim da matinee. Hora de procurar mais shows para ir a noite.


*** *** ***

THE ICICLES ‘A Hundred Patterns’ Microindie
Por Gilberto Custódio Jr.


Essa é a banda mais twee fofinha atualmente. Formada por 3 garotas na linha de frente e um baterista, os norte-americanos do Icicles elevam a doçura pop a níveis nunca antes imaginados. O debut EP se chama “Pure Sugar” e o kit para imprensa continha doces e papéis de carta perfumados. Já em “Hundred Patterns”, primeiro á lbum propriamente dito, eles incluíram um kit para costura e manuais para fazer seu próprio vestido – com aquele tecido super florido, lógico. Aliás, precisa descrever o visual da banda? O álbum contém 11 canções indiepop upbeat, ensolaradas e super melódicas. Teclados alegres, vocais femininos, mãos pra cima fazendo tchauzinho de acordo com o ritmo... A própria banda cita o All Girl Summer Fun Band como influência. Quando eu disse que o índice twee da banda chegava a níveis estratosféricos, não estava brincando. Já mencionei as letras? “Forever & a Day” começa assim: “I miss you, you’re so cute / been gone an hour and i feel sad”, já “ Porch Swing” não é menos fofurette: “I really think I love you / I just don’t know how to tell you / I’m afraid of what you’ll say”. Precisa botar trechos de “Sugar Sweet”? Melhor não, vai que o leitor sofra de diabete... cai duro só de ler. E sabe o que é pior? Só hoje é a terceira vez que ouço esse disco com empolgação.

*** *** ***


BURN IT: algumas dicas de cancões boas, pra baixar já.

The Thrills ‘Found My Rosebud’ – O quinteto pop The Thrills é uma das minhas bandas irlandesas prediletas, e essa música é o exemplo disso. Difícil explicar, mas ‘Found My Rosebud’ me toca profundo, extracalha comigo e no final me deixa com lágrimas caindo, na frente de todo mundo no vagão do metrô. Vexame.

Rilo Kiley ‘Love And War (11/11/46)' – Ih, falando em vexame, essa é outra. Essa música prova porque o quarteto americano Rilo Kiley merece toda a minha adoracão. Jenny Lewis aqui está com a voz mais doce e perturbada do que nunca.

The Eighties Matchbox B-Line Disaster ‘Mister Mental’ – Essa banda é um atentado contra todas as pessoas chatas do mundo. Você que trabalha num emprego de merda, com pessoas de merda, toque isso bem alto para eles. E mate-os.

The Popguns ‘Bye Bye Baby’ – Banda maravilhosa, música mais ainda. Vindos de Brighton, UK, eles são antigos já, late 80s/early 90s, mas só descobri recentemente. Jangle-pop de primeira. A vocalista Wendy Morgan possui uma voz marcante e muito bonita.

Superimposers ‘Seeing is Believing’ – Foi gravado de dois anos pra cá, mas parece que estamos nos anos 60. Uma gema psicodélica de alto calibre. Genial. É ouvir para crer.

Amusement Parks On Fire ‘Venosa’ – Uma nova banda que resgata raízes shoegazer. Mas não é triste, é um som rocker. São legais. Me lembram My Vitriol e Miss Black America.

dios ‘Starting Five’ – O dios vem da Califórnia e, obviamente, mandam um som ensolarado e meio psicodélico, na praia dos Beach Boys e Beatles. Essa música espelha isso. Lancaram um full-album no ano passado, chamado apenas ‘dios’. Vale a pena. O nome da banda é tudo em minúsculas mesmo.

Adam Green ‘What a Waster’ – Aqui Adam Green faz uma cover do clássico dos Libertines, em versão acústica. Ficou jóia, claro. Essa música fica boa até se o Bono cantar ela…



*** *** ***

This page is powered by Blogger. Isn't yours?