Wednesday, July 27, 2005

 

coluna 21 de julho

“Babyshambles em crise!”

Essa é a manchete de capa da NME dessa semana. Pete Doherty e sua banda estão a beira de implodirem chão abaixo, assim mesmo como aconteceu com os Libertines. A banda cancelou a turne do single 'Fuck Forever' que iria comecar nesse mês, e o lançamento do single foi adiado pela segunda vez. Fora isso, a reportagem diz que ha rumores que Pete despediu o resto da banda. Todos os outros integrantes e seus agentes recusaram a comentar o assunto para a NMEmas fontes próximas do grupo dizem que Pete ficou puto com o remix da música 'Fuck Forever' feito sem ele estar presente nas gravações.

A banda não fala com Pete a mais de uma semana. Antes disso, como de costume, Pete não apareceu em algumas apresentações, incluindo shows de abertura para o Oasis. Os fãs estão ficando cada vez mais decepcionados com a falta de comprometimento da banda. A questão agora é, quando afinal o álbum será lançado? Ninguém sabe. A NME ouviu algumas faixas e diz que são menos lo-fi do que se imagina, com nenhuma faixa soando igual as outras, indo de loucuras psicodélicas como 'Wolfman' até a linda balada acústica 'Bollywood to Battersea', passando pela doidera druggy 'Piper McGraw'. Outras faixas tem uma vibe reggae, como presenciamos ao vivo. Ha também uma grande variedade de instrumentos em diversas faixas, como gaita, hammond organ e melódica. Resta saber quando, ou se iremos ouvir essas músicas.

Fique ligado nesse espaço para mais notícias da saga dos Babyshambles.

Na coluna dessa semana você vai ler como foi o show do The Features em Camden Town e tambem uma ótima pesquisa de opinião feita pelo jornal The Observer. Vai nessa...

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WHAT BRITAIN IS LISTENING TO?


No último domingo, o jornal inglês The Observer publicou uma matéria com várias pesquisas de opinião, com a finalidade de explorar a fundo a relação da sociedade britânica com a música. Em tempos em que a humanidade esta fissurada em “big brothers” e outras porcarias na TV, é de surpreender que para 36 % dos britânicos, música é a coisa mais importante da vida, ditando amigos, moda, atitude e a escolha de drogas. Eu sempre achei que a Inglaterra se importava mais com música. Até mesmo um artista como Brian Wilson admite isso.

E só numa pesquisa dessa é que vemos quão importante a cena mod foi, ou ainda é. Um total de 20% das pessoas entre 45 e 54 anos dizem que foram mod em alguma fase da vida. Essas são apenas algumas das inúmeras pesquisas abordadas na reportagem. Achei legal também o estilo indie ser realmente abordado como um gênero musical de fato, ao lado de pop, rock, reggae, opera e etc.

Vou colocar aqui na coluna as que eu mais gostei e as que eu mais me surpreendi. Saca só.

>>> Qual dos comportamentos a seguir melhor reflete sua atitude pessoal para com musica?
36% > Sou apaixonado por musica e eh uma das coisas mais importantes da minha vida.
54% > Gosto de musica mas posso viver sem.
09% > Particulamente nao me importo muito em ouvir musica.
01% > Nao gosto de musica.

>>> Qual a seguir eh seu tipo de musica favorito?
Pop 27%
Rock 19%
Dance (Tecno, House, Drum’n’Bass) 11%
Soul 11%
Country 10%
Hip Hop / Rap 9%
Classico 8%
Indie 7%
Reggae 5%
Jazz 4%
Heavy-Metal 3%
World 2%
Folk 2%
Opera 1%
[nota do colunista: Veja que Indie eh mais popular que reggae e heavy-metal!!]

>>> Qual formato eh a maior proporcao em sua colecao de musica?
CD 76%
Vinil 11%
Fitas k7 8%
MP3 5%
Minidisc 1%

>>> Qual dos albuns a seguir voce tem em sua colecao?
31% > Michael Jackson “Thriller”
25% > Oasis “(What’s the Story) Morning Glory”
23% > The Beatles “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band…”
23% > Scissor Sisters “Scissor Sisters”
22% > Simon & Garfunkel “Bridge Over Troubled Water”
22% > The Beatles “Revolver”
10% > The Stone Roses “The Stone Roses”
09% > The Clash “London Calling”
06% > Van Morrison “Astral Weeks”
[nota do colunista: 10% da populacao britanica possui o primeiro album dos Stone Roses, isso eh lindo!!]

>>> Qual em sua opiniao eh a melhor decada para a musica?
40’s > 02%
50’s > 08%
60’s > 28%
70’s > 20%
80’s > 20%
90’s > 15%
00’s > 12%

>>> Voce eh, ou ja foi, membro de alguma das tribos urbanas abaixo?
Clubber 10%
Mod 8%
Hippie 4%
Rocker 4%
Punk 4%
Rapper 4%
Teddy Boy 4%
Metaleiro 3%
Skinhead 3%
Gotico 2%
Glam-Rocker 2%
Soul Boy 2%
Beat 1%
Outro 1%
[nota do colunista: Aeee!!! Os Mods ganharam dos Rockers!!!! Mods em segundo lugar, da pra acreditar?? :-)]

>>> Se voce fosse permitido a apenas uma das coisas a seguir, qual que escolheria?
47% > Assistir TV
35% > Ouvir musica
18% > Ler livros

>>> Voce devota seu tempo (a) sentando e ouvindo musica, ou (b) ouve musica como barulho de fundo?
(a) 33%
(b) 67%

>>> Onde voce ouve musica?
73% Em casa
21% A caminho ou voltando do trabalho
09% No trabalho, com fones de ouvido
02% No trabalho, num radio coletivo

>>> Voce alguma vez ja fez amigos ou conheceu um parceiro atraves do gosto comum por um determinado estilo musical?
Sim 31%
Nao 69%

>>> Seu gosto por musica alguma vez ja contribuiu para comprar uma determinada peca de roupa?
Sim 27%
Nao 73%

>>> Voce alguma vez ja fez alguma das coisas a seguir?
21% > Gravou uma fita ou cd para um amigo
11% > Foi membro de uma banda
07% > Tocou como DJ
03% > Dormiu com um pop-star
65% > Nenhum

Mais fatos:
29% dos Londrinos ouvem musica enquanto transam.
22% dos escoceses ja tomaram algum tipo de droga pra aumentar o prazer para escutar musica.
59% dos escoceses dizem que ja foram membro de uma tribo urbana
20% das pessoas entre 45 e 54 anos dizem que ja foram mod em alguma fase da vida

Fonte: Jornal The Observer
Link: www.guardian.co.uk


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THE FEATURES
Ao vivo no Lock 17, Londres, 11/07


O Lock 17 fica localizado em Camden Lock, uma área de Camden Town - bairro do norte da capital inglesa - super legal, com canais, barcos, bares e lojas. O concerto estava marcado para as oito da noite. Cheguei por volta desse horário e a luz do diz ainda estava presente. Como de costume, teriam duas bandas de abertura. A primeira era uma bosta e merecidamente tocou pra quase ninguem. Barulho disensavel e molecada se achando ‘rocker 4 real’. Isso é uma coisa que não suporto e está cheio aqui em Londres. Já o segundo grupo infelizmente se apresentou para umas 20 pessoas. Se chamam Louie. Como sou azarado, foi a segunda apresentação que encarei deles nos últimos dois meses, pois já os vi abrindo show das Pipettes antes. Dois vocalistas pulando e se achando os gostosões, cantando feito otários sob um punk rock chato e datado. Teve uma parte que comecaram um som roubado descaradamente um riff clássico do Iron Maiden que foi o cúmulo do ridículo. Putaquepariu!!, que grande cara de pau. Foi um plágio mais ou menos tão feio quanto o Jet chupando ‘Lust For Life’ do Iggy Pop naquele hit deles. Ainda bem que sou ex metaleiro e soube pegar o crime no ato. Devido aquela incompetência de som e atitude de babaca que era o Louie, fui para o lugar mais longe do palco aguardar real o motivo pelo qual estava la: The Features.

Opa, banda americana é mais difícil de ser ver aqui, por isso não podia deixar de conferir o The Features, de Tenessee. OS caras estão numa mini turnê por terras britânicas para promover o formidável álbum ‘Exibit A’, lançado aqui no começo do ano. Eu sabia que assim que a banda subisse ao palco e o vocalista começasse a despejar aquela voz inconfundível, uma sensação de prazer tomaria conta de mim. Rock’n’roll! E foi isso que aconteceu. Junto vinham as guitarras nerds e o teclado mais nerd ainda. Foram tocando o disco inteiro, faixa a faixa. E a platéia, formada em sua maioria por garotas, pulava de felicidade. Gostei de ‘Situation Gone Bad’. O single ‘Blow It Out’ foi uma das que balançou o lugar. Incrível, todo mundo estampando um puta sorriso no rosto. Eu tava nessa também. O conjunto manda um rock a la Weezer do album azul, com um gancho stadium-rock, meio hard-rock.

Ouvindo o disco e vendo o show, a impressão que temos eh que isso é apenas rock, como deve ser, simples e excitante. Matthew Pelham, vocalista, guitarrista e líder da banda, deu conta do recado, tocando do jeito que tinha que ser tocada as músicas, esbanjando energia e jovialidade. E seu vocal dramaticamente cantado foi a marca. Sairam para jogar água no rosto e voltaram em seguida, tocando o single explosivo ‘Leave It All Behind’, que era a faixa que eu mais estava esperando. E tirando como exemplo o pula-pula do público, acho que não era só eu que gostava dessa música. O mais legal foi o refrão, gritado, solto, todos pulando e se divertindo a beca. Putz, é nessas horas que vemos, como é bom um show de rock. Tocam mais uma e se despedem. Saem do palco, só para retornarem mais tarde e se juntarem timidamente com os fas no bar, que faziam os último pedidos no balcão. Como é bom um show de rock. The Features, they ROCK!


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BURN IT: musicas da semana!

HOT HOT HEAT “Middle Of Nowhere”:
Novo single dos canadenses Hot Hot Heat e sem dúvida uma das melhores faixas do último álbum deles. Isso é o que chamo de guitar-pop puro e perfeito.

THE CHALETS “Feel The Machine”: Esse combo está se destacando na cena indie inglêsa. Fazem um som que poderiamos dizer que é a fusão de casio-pop com 80’s new wave. São duas vocalistas, que cantam sobre teclados fofos e guitarras a la Blondie e B-52’s. ‘Feel The Machine’ é o primeiro single a ser tirado do álbum de estréia, que será lançado em agosto por aqui. Fique de olho neles.

THE RAVEONETTES “Love In a Trashcan”: O duo Noruegues The Raveonettes, composto pela lindona Sharin Foo e seu amigo Sune Rose Wagner estao de volta com novo álbum, e novamente cantam sobre prostitutas baratas, filmes dos anos 50, drogas e crimes. É um mundo pra lá de SLEAZY. Dessa vez o disco não feito com base no acorde B menor, como no trabalho anterior. Foram um pouco mais abrangentes, e no lp novo tem de baladas country ateh faixas synth-pop-rock. ‘Love In a Trashcan’ é o primeiro single, ótimo, confira!

MAXIMO PARK “Going Missing”: A cada dia que passa o Maximo Park sobe no meu conceito. Se você procura por um esperto elo perdido entre Gang Of Four e Pulp, ouça já Maximo Park. ‘Going Missing’ é o terceiro single tirado do debut album ‘A Certain Trigger’, e ataca com artilharia da mais pop. A letra é cortante: ‘I put my hand across my chest and dream of you with someone else’.

EDITORS “Blood”: Mais uma banda que tem influência do rock inglês do final dos 70, começo dos 80. Meio Joy Division, Echo & The Bunnymen e afins. Os Editors se dão bem aqui. ‘Blood’ é o segundo single do disco de estréia deles. Recomendo.

CLOR “Outlines”: O disco de estréia do Clor foi gravado na cama do vocalista e lider da banda Barry Dobbin, no sul de Londres, e soa como um mix de Devo com Pulp, com boas colheradas de Talking Heads, Pavement e kraut-rock. Foi uma das coisas mais fresh que ouvi esse ano, e por isso gosto tanto dessa banda. Confira o segundo single ‘Outlines’ e tire a prova.

THE WHITE STRIPES “My Doorbell”: Simplesmente adorei o segundo single do White Stripes para o disco ‘Get Behind Me Satan’. Essa música é genial, Jack e Meg White estão mais do que inspirados. Com roupagem exótica, crua e engraçada, essa é uma das músicas do ano. E olha que nem sou muito fã da banda…

KEREN ANN ‘La Forme Et Le Fond’: Keren Ann é uma cantora francesa, que recentemente se mudou para NYC para gravar seu segundo disco. Cantando em francês e ingles, o álbum é uma peróla pop do começo ao fim, recheado de climas trip-hop, chill-out, folk e afins. ‘La Forme Et Le Fond’ é inteirinha cantada em francês, e é meio como se o Air tivesse uma garota como vocalista e tocassem compositors da Hope Sandoval. Fino. Lindo. Eu estou simplesmente apaixonado pelo disco ‘Nolita’. Baixe já.

NOBODY “What Is The Light”: Nobody é um projeto do dj e produtor Elvin Estrella, e faz uma fusão de hip-hop, funk e eletrônica com roupagem super atual. O álbum ‘And Everything Else’ é uma das melhores coisas que ouvi esse ano e é la que tem essa fantástica cover dos The Flaming Lips. Quem não se tocar com essa versão é porque nao tem coração. Até rimou…. Soulseek já, mano!


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MARCIO CUSTODIO
marcio_custodio1980@yahoo.com.br





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Saturday, July 23, 2005

 

coluna 15 de julho

Bombas em Londres! Como já diria o famoso slogan: 'London's burning!'. Eu já comprei minha bicicleta e agora não dependo mais de transporte público. E você? Até porque os ônibus aqui são irritantemente LERDOS e o metrô irritantemente CHEIO.

Mas Londres continua. E a coluna também. Na edição de hoje, dou continuidade na lista dos discos mais legais lançados esse ano. Soulseek neles! Mais abaixo tem os álbums que já comentei aqui, e que você pode encontrar nas edições anteriores da coluna. Have fun!


THE TEARS | "HERE COME THE TEARS" | (Independiente)


Depois de onze anos de espera, finalmente foi lançada a continuação de Dog Man Star. Porque ouvindo esse novo trabalho de Brett Anderson e Bernard Butler, reconciliados após uma década, não consigo imaginar outra coisa. É claro que em 2005 Anderson e Butler não causam tanto furor como em 1995, pois os tempos são outros e agora lideram não mais uma chart-band, mas sim uma cult-band. A sonoridade é bem similar ao som do Suede, pois é claro, Brett Anderson tem uma voz tão marcante que qualquer coisa que ele faça, será parecido com Suede.

Alguns dizem que eles deveriam ter mudado um pouco o som, mas eu acho que não. Esse é o som deles e acho que ambos têm que persistir nisso - sem chances de lançarem um trabalho disco-funk-metal-goth só para soarem diferentes. The Tears é uma banda pop, e 'Here Come The Tears' nos reserva treze gemas pop, divididas entre hits de apelo radiofônico ('Lovers', 'Autograph' e 'Refugees') e baladas melodramáticas ('A Love As Strong As Death', 'Apollo 13' e 'The Ghost Of You'). As letras continuam com a característica de Brett Anderson, abordando histórias amorosas sobre deliquentes refugiados que dormem na sarjeta mas enxergam as estrelas. As linhas de guitarras de Bernard Butler, comoventes como é o seu estilo, foram tudo que a voz de Brett precisou para voltar a boa forma.

A produção do disco ficou por conta de Butler, que novamente abusou do seu hábito 'phil spector', com orquestras e climas grandiosos, assim como fez anteriormente no seus discos solo e na sua colaboração com David McAlmont. Para os que já conheciam Suede, 'Here Come The Tears' não traz nenhuma novidade. Para os fãs, foi um gracioso presente. Para aqueles com menos de 20 anos, ligados em grupos como Libertines e Franz Ferdinand, 'Here Come The Tears' pode ser uma introdução para o trabalho de Brett Anderson e Bernard Butler, tão boa quanto o primeiro disco do Suede. Vamos torcer para The Tears ter longa vida.


THE MAGIC NUMBERS | "THE MAGIC NUMBERS" | (Heavenly)

O que mais me fascina nos The Magic Numbers é o jeito que eles fazem as harmonias de voz entre as garotas e o vocalista Romeo. Será que é mágica ou esforço? Ouça hinos como 'Love Me Like You' ou 'Forever Lost' e tente você descobrir. A banda vem da zona oeste de Londres, passando por Nova Iorque e Tinidad, e é formada por irmãos.

O vocalista e guitarrista Romeu e a baixista Michelle vem da família Stodart. O baterista Sean e segunda vocalista, Angela, que também toca melódica e percussão, são da família Gannon. E essa intimidade entre os integrantes está clara na sonoridade das canções, que são sensíveis, intimistas e super harmoniosas, como em 'I See You, You See Me', um dueto entre Romeo e Angela, e possivelmente a faixa mais bonita do álbum.

O disco tem passagens power-pop, west-coast e as vezes alt.country. O quarteto ganhou o prêmio de banda revelação pela revista Mojo. A mídia gosta tanto deles que já os proclamaram como a versão indie dos The Mamas & The Papas. De fato, esse é realmente um dos melhores lançamentos do ano.


ARCHITECTURE IN HELSINKI | "IN CASE WE DIE" | (Bar / None)

Confesso que é difícil achar bandas com um pingo de originalidade em pleno 2005, pois praticamente tudo é derivativo de alguma coisa. Mas tem as que são derivativas e são legais, como é o caso do The Features, e as que são derivativas e são chatas, como o medíocre Kasabian. Porém, se fuçarmos bem no universo mágico da música pop, sempre encontramos aquelas que são bacanas, e com o maior trunfo de nos cativar com a sensação de frescor. The Go! Team é uma delas. E o Architecture In Helsink, direto da Austrália, é outra. No início não vem nenhum outro grupo a cabeça quando ouvimos a banda, somente temos a sensação prazeirosa de curtir uma bom refrão pop. Eu classificaria o som deles como 'música para parques de diversão'. Não sei quanto a você, leitor, mas fico com uma vontade enorme de comer chocolates coloridos M&Ms e fazer guerrinha com eles quando escuto AIH. Provavelmente isso acontece porque o som deles é ingenuamente maduro. Deliciosamente doce.

E alegre. Tem uma menina e um menino que dividem os vocais. As vezes eles gritam, as vezes dão risadas. Há orquestras, mas nada muito carregado. Pelo contrário, alegre, livre e solto. Li não sei onde que a banda, que conta com oito membros, usou trinta instrumentos diferentes na gravação do disco. Consigo identificar pianos, cello, guitarras, palmas, sintetizadores, harpas, trombone e algumas percussões. Acho que o resto deve ser brinquedos de crianças. Se eu destacasse alguma faixa, estaria sendo injusto com o restante do álbum. Todas as músicas têm a sua qualidade singular.

Só depois de algumas atentas audições, decifro uma pitada de Would Be Goods, banda clássica dos anos 80 da gravadora El Records, na sonoridade deles. Isso é o que mais aprecio no Architecture In Helsink, depois das agradáveis melodias pop: não escancaram suas referências logo de cara.


MAXIMO PARK | "A CERTAIN TRIGGER" | (Warp)

Quando esse quinteto surgiu no começo desse ano, fiquei meio desconfiado, afinal diziam que era mais uma banda pós-punk angular chupando o Gang of Four. Pois eu digo, jornalistas preguiçosos quem disse isso. O Maximo Park é muito mais que um sub Futureheads.

Sim, obviamente o fato de ambos os grupos serem de cidades vizinhas no norte da Inglaterra e abusarem de riffs angulares lhes dão alguma semelhança, mas o Maximo Park, de Newcastle, UK, tem uma veia mais pop enrraizada em sua música. Sob as guitarras classudas, você tem os teclados ao fundo, e ambos fazem a base perfeita para o vocalista figurão Paul Smith cantar em seu sotaque carregado do norte inglês. Fora que possuem um jeitão nerd danado.

A NME diz que o som deles é jerk-rock. Esse disco não tem sequer uma música dispensável. Eu diria que é o encontro de Pulp, Futureheads e Psychdelic Furs. É o que mostram as faixas 'Apply Some Pressure', 'Graffiti', 'Now I'm All Over The Shop' e 'The Coast Is Always Changing'.


THE CRIBS | "THE NEW FELLAS" | (Wichita)

O The Cribs é um trio composto por três irmãos da cidade de Leeds, UK, que gostam de fazer barulho. Um que canta e toca guitarra, outro que toca baixo e um terceiro que comanda a bateria. Ano passado lançaram o disco de estréia, intitulado apenas The Cribs, um punhado de músicas rock, simples e lindas. Gravaram as faixas para o disco em uma semana, no quarto deles. Uma produção simplória, mas ganchuda e pra lá de cativante. Esse ano estão de volta com um novo álbum, "The New Fellas", que, para nosso deleite, contém o mesmo espírito juvenil do trabalho anterior, e tão arrebatador quanto.

Se você não acredita, ouça já o single 'Hey Scenesters!', uma das melhores e mais pegajosas músicas desse ano. Quem não se empolga com ela, é porque já perdeu os sentidos. 'It Was Only Love' tem um jeitão bohemio, e dá a impressão que foi gravada num estúdio escuro, abafado e barulhento. As vezes soam como os Strokes, mas quer saber? Acho o The Cribs muito mais legal. Há mais entusiasmo neles do que nos novaiorquinos. Pega pra ouvir as matadoras 'Mirror Kissers', 'I'm Alright Me' ou 'The Wrong Way To Be' e tenho certeza que você vai me entender.


HAVENOTS | "NEVER SAY GOODNIGHT" | (Cooking Vinyl)

Havenots é mais uma banda que tem uma garota e um garoto dividindo os vocais. É um casal, residentes no norte da Inglaterra, cidade de Leicester.

Esse é o primeiro trabalho deles, basicamente permeado por dois climas opostos, um melancólico, o outro mais pra cima, up-beat. A sublime balada 'Undecorated' puxa para o lado triste, enquanto que 'Flyers' e 'Papercuts', de jeitão power-pop, espelham o clima mais pra cima do disco. Mas mesmo essas faixas up-beat, ainda sim tem uma pitada de melancólia, devido ao jeito afetuoso do casal cantar. Ideal para fãs de Club 8 e The Blue Nile.


THE DECEMBERISTS | "PICARESQUE" | (Kill Rock Stars)

O The Decemberists é um quinteto de Portland, EUA, e 'Picaresque' é uma excelente coleção de canções pop-folk, regada a sublimes climas orquestrados, com uma riquesa instrumental e que todo fã de Belle & Sebastian, Fairpop Convention e Divine Comedy merece se apaixonar. Os temas das músicas são novelistas e escritores históricos, aliados a prostitutas vitorianas e michês contemporâneos.

A voz do vocalista Colin Meloy se sobressai e nos remete a camponeses nordicos cantando cancoes folk. Destaques: 'Sixteen Military Wives', 'The Sporting Life', 'We Both Go Down Together' e 'Eli, The Barrow Boy'.


LOUIS XIV | "THE BEST LITTLE SECRETS ARE KEPT" | (Atlantic)

Com ecos de T-Rex e letras que falam de sexo, garotas e excessos, o quarteto Louis XIV surge na cena com esse ótimo debut álbum. Americanos de Los Angeles, a banda não é nenhum sopro de frescor no nosso rosto, mas é altamente recomendado para uma festa regada a sexo, drogas e rock'n'roll. As vezes fica claro que o som deles é de Los Angeles, com uma pegada poodle-sleaze-poser-rock. Mas tem horas que juramos que Marc Bolan saiu do caixão e veio dar uma canja no disco. Sem nenhuma originalidade, mas divertido e cheio de maquiagem, Louis XIV vai capturar a simpatia de fãs do Placebo, David Bowie e Mansun. Destaques: 'Hey Teacher', 'Finding Out True Love Is Blind' e 'A Letter To Dominique'.


THE PONYS | "CELEBRATION CASTLE" | (In The Red)

Com bandas como Editors, The Departure e The Ponys, o revival de rock dos anos 80 mostra que veio pra ficar. O The Ponys, de Chigago, EUA, é mais uma banda que possui referências dos anos 80. É indie-rock, as vezes garage-pop, com algumas colheradas de Talking Heads e The Cure. Repleto de riffs cortantes de guitarras, esse é o segundo trabalho deles e é ideal para quem gosta de indie-dark, na linha do Interpol. Exemplos disso são as músicas 'We Shot The World', 'Ferocious', 'Glass Conversation' e 'Discoteca'.


OUT HUD | "LET US NEVER SPEAK OF IT AGAIN" | (K7)

Esse é um projeto paralelo dos caras da banda!!!, de Nova Iorque. Ao invés de punk-funk, que é a característica deles, resolveram produzir algo mais na praia eletrônica, e se deram bem. Com vocais femininos, o disco 'Let Us Never Speak Of It Again' é composto por petardos dance-music com estilo singular, alguns indo mais para a linha acid-house e electro-groovy, outros com uma veia mais pop, assemelhando-se aos hits do New Order. Se a dance-music podre de fm se inspirasse em bandas como essa, o mundo seria um lugar mais legal. Destaques: 'It's For You', 'One Life To Leave' e 'How Long'.


FOUR TET | "EVERYTHING ECSTATIC" | (Domino)

Esse é o quarto álbum de Kieran Hebden sob a alcunha do Four Tet, e novamente é um belo exemplo de música eletrônica feita por um pulso humano, onde por mais experimentais que sejam os beats, eles ainda harmonizam entre si. A faixa 'Sun Drums And Soil' tem uma batida rítmica marcante, enquanto ouvimos percussões e experimentação ao fundo. Já 'Smile Around The Face' é quebrada nas batidas, porém com pitadas pop aqui e acolá. Pra quem quer boa melodia para um chill-out, a pedida é a música 'And Then Patterns', que tem quase cinco minutos, mas poderia facilmente se deslizar para mais de dez.

Possui fluxo. Já quem prefere esquisitice e xperimentação, as faixas 'High Fives' e 'Turtle Turtle Up' podem ser uma boa. Se você procura por algo criativo dentro da linha eletrônica, o Four Tet com certeza é a solução.


BOOM BIP | "BLUE EYED IN THE RED ROOM" | (Lex)

Esse é o segundo LP do Boom Bip e é sem dúvida uma prova de que música eletrônica as vezes também tem soul e substância. Recheado de instrumentos de corda, percussão e beats de vanguarda, 'Blue Eyed In The Red Room' traz consigo uma atmosfera melancólica e delicada, com cara de tardes de domingos de inverno. Juntamente com o Four Tet, o Boom Bip é uma banda eletrônica experimental, mas que ainda sim possui uma boa melodia por trás, sendo isso o grande trunfo delas.


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Abaixo você confere uma lista de discos lançados esse ano, resenhados nas colunas anterioes. Have a look.

- M83 | Before The Dawn Heals Us | (Mute Records)

- DESTROYER | Your Blues | (Talitres Records)

- THE BOY LEAST LIKELY TO | The Best Party Ever | (Too Young To Die Records)

- LEWIS TAYLOR | The Lost Album | (Slow Reality Records)

- BLOC PARTY | Silent Alarm | ( Wichita Recordings)

- MERCURY REV | The Secret Migration | (V2 Records)

- ISIS | Panopticon | (Ipecac Recordings)

- DOMINIK EULBERG | Flora & Fauna | (Traum Schallplatten)

- ANTONY & THE JOHNSONS | I Am A Bird Now | (Rough Trade)

- IDLEWILD | Warnings/Promises | (Parlophone)

- KAISER CHIEFS | Employment | (B-Unique)

- BRITISH SEA POWER | Open Season | (Rough Trade)

- M WARD | Transistor Radio | (Matador)

- THE SILENT LEAGUE | The Orquestra, Sadly, Has Refused | (Sic Records)

- THE BRAVERY | The Bravery | (Loog)

- THE SUPERIMPOSERS | The Superimposers | (Little League)

- ADAM GREEN | Gemstones* | (Rough Trade)

- TED LEO & THE PHARMACISTS | Shake The Sheets | (Lookout! Records)

- DUNGEN | "TA DET LUGNT" | (Memphis Industries)

- FINT TILLSAMMANS | "FINT TILLSAMMANS" | (Silence)

- JOSÉ GONZÁLEZ | "VENEER" | (Peacefrog)

- THE FEATURES | "EXHIBIT A" | (Universal)

- VHS OR BETA | "NIGHT ON FIRE" | (Astralwerks)

- TEGAN AND SARA | "SO JEALOUS" | (Sanctuary)

- SILVER RAY | "HUMANS" | (Broken Horse)

- ENGINEERS | "ENGINEERS" | (Echo)

- CUT COPY | "BRIGHT LIKE NEON LOVE" | (Modular)

- M.I.A. | "ARULAR" | (XL Recordings)

- JAGA JAZZIST | "WHAT WE MUST" | (Ninja Tune)

Tuesday, July 12, 2005

 

coluna 07 de julho

* Oi, alguém aí também achou engraçado os comentários do presidente da França sobre a comida inglesa, ou foi só eu? No começo dessa semana o tiozinho Jacques Chirac soltou a língua contra os ingleses, e claro, a primeira coisa que disse foi falar mal da comida da Inglaterra, a terra dos 'fish and chips', alegando que aqui tem a pior cozinha do mundo. Bem, não posso deixar de concordar com ele, pois realmente, aqui na Inglaterra se come muito mal, na minha modesta opinião. Não digo os pratos ingleses e os chefs de cozinha, que tem lá sua originalidade, mas sim da qualidade da comida, a comida que a gente compra no supermercado, sabe? Tudo muito artificial, quimicamente produzido e surrado de conservantes. Se quiser algo orgânico, paga-se bem mais caro. Dureza. Que saudade da minha padaria no Brasil!


THE DECEMBERISTS
Vocês já devem ter percebido que não passo de um fuçador de bandas obscuras que toda semana me apaixono por uma diferente. Mas enquanto algumas bandas chegam e saem do meu caminho em questão de dias, outras ficam por mais tempo. Já cansei de falar do The Decemberists aqui na coluna, mas sou obrigado a falar de novo, não porque a mídia inglesa está dando alguma atenção pra eles, muito pelo contrário, mas porque o cd 'Picaresque', terceiro trabalho da banda, não sai do meu tocador de cd e daqui a pouco vai furar de tanto que ouço. O The Decemberists é um quinteto de Portland, EUA, e 'Picaresque' é uma excelente coleção de canções pop-folk, regada a sublimes climas orquestrados, e que todo fã de Belle & Sebastian, Fairpop Convention e Divine Comedy merece se apaixonar. Os temas das músicas são novelistas e escritores históricos, aliados a prostitutas vitorianas e michês contemporâneos.


* Semana passada a explosiva e deliciosa banda Be Your Own Pet, falada aqui neste espaço, teve um show cancelado em Londres pois seus integrantes eram todos menores de 18 anos, e no lugar que tocariam era proibido a entrada de menores. Que lindo. Será que isso já aconteceu alguma vez na história do rock?


* Advinha?! A dupla The White Stripes está na capa da revista Mojo, com o Cristo Redentor do Rio de Janeiro como paisagem de fundo e a headline 'Brazil Tour Exclusive". Cool. Li a matéria, ótima por sinal, e fiquei com muita vontade de comprar o novo disco deles, 'Get Behind Me Satan". E olha que eu já tava de saco cheio de tanto hype. Mas me relacionei muito com o conceito desse disco e com o espírito da banda. Jack White diz que muita coisa deu errado na sua vida nos últimos anos, que depois que ficou famoso perdeu muitos amigos e muita gente tenta foder com ele. Sentiu que a coisa estava sinistra quando tudo dava errado literalmente no início das gravações do novo álbum.

Depois começou a se interessar por santos e espiritismo, a teoria das coincidências começou a rolar e ele viu que estava no caminho certo, passando por cima de todos os problemas. Vale muito a pena ler essa matéria, especialmente pelas várias referências ao Brasil, e de como foram os shows do The White Stripes por lá. O parágrafo clássico do artigo eu decidi até traduzir aqui na coluna: 'Certamente, a decisão de começar a promover o álbum Get Behind Me Satan na América do Sul, tocando em países que bandas de rock raramente se apresentam, diz Jack, foi um desejo de tocar fora da zona de conforto deles, fora do 'Little Room' deles. "Pedimos para nosso agente de turnê para encontrar lugares aonde ninguém toca", confessa Jack no camarim do Teatro Amazonas. " Provavelmente essa é a primeira turnê que não estamos ganhando dinheiro, mas não importa, foi a melhor turnê que já fizemos".'

A revista Mojo é encontrada em qualquer revistaria aqui em Londres. Vale muito a pena ler essa reportagem com os The White Stripes. www.mojo4music.com

E sai pra lá, Satã!


* Alguém aí assistiu o Live 8? O que foi Pete Doherty fazendo um dueto com Elton John para a música 'Children Of The Revolution" do T-Rex????? Bizarro. Pete maquiado, fumando um charuto, foi algo bem cômico de se ver. E Children Of The Revolution era o nome dessa coluna no início, não era? Mas veja abaixo como foi o show dos Babyshambles, dois dias antes do Live 8.



BABYSHAMBLES
Ao vivo no Wireless Festival, Hyde Park, Londres, 31/06

Eu não estava muito excitado com esse show, afinal sempre achei Babyshambles uma banda de palco pequeno e não de arena. Mas lá fui eu. Já vi Babyshambles ao vivo uma porção de vezes. A primeira foi logo quando Pete foi tirado dos Libertines, em agosto de 2004, e ainda tava no ar um lance 'Pete e seus músicos convidados'. A banda não tinha muita forma e ainda tínhamos esperança de que Pete desse uma canja e tocasse algo dos Libertines, coisa que não aconteceu. Foi a primeira vez que tinha ouvido as músicas da banda e me impressionei com a maioria. Parecia Libertines, mas mais surrado e solto, se é que vocês me entendem. E Pete não estava tocando guitarra, agora ele era o só o vocalista e possuia uma performance de palco impressionante. Me recordo muito bem de ter ouvido 'The Man Who Came To Stay" pela primeira vez e ter me apaixonado instantaneamente por ela. Depois desse show, assisti-os no Scala, como turnê do single " Killamangiro" em outubro, e vi que a banda tinha ganhado personalidade, e sua ascensão seria inevitável. A música 'Fuck Forever' começava a ganhar força.

Vem dezembro e a banda faz uma turnê de natal. Pete estava no auge dos seus problemas com crack e heroína. Foi nessa época que ele começou a faltar em shows e se apresentar totalmente chapado a ponto de não lembrar a letra das músicas e ficar deitado no chão gritando. Um certa vez a banda desistiu e saiu do palco, tamanho desgosto que era ver o Pete em tal estado. Nessa turnê peguei-os ao vivo no The Forum, e tive sorte, pois Pete apareceu em grande forma e simplesmente foi um dos melhores shows que vi até hoje. Os hits da banda tinham ganhado sustância, força, a banda inteira estava entrosada e Pete era um monstro. Eu estava muito empolgado. Na mesma semana, os Babyshambles iriam fazer sua despedida de 2004 e tocar no traditional Astoria, centro de Londres. Duas mil pessoas presentes e o que acontece? Pete não aparece e seus fãs destroem o lugar, fazendo uma riot cabulosa. Pronto. A partir daí os Babyshambles começaram a perder o brilho. 1) a baterista Gemma, que muitos consideravam a cara da banda, avisa que não aguenta mais as loucuras do Pete e decide sair da banda.

Assisti o show de estréia do novo batera no The Garage e percebi que alto estava diferente. O swing e sustância não estava lá. 2) Pete começou a namorar a Kate Moss e virou assunto de tablóide e revistas de celebrities toscas. 3) o coitado foi preso porque deu porrada num cara que vendeu fotos dele fumando heroína para tablóides, ficou sete dias na cadeia e teve que pagar 150 mil libras de fiança, tendo ainda que encarar a justiça num processo de agressão.

Pior, ficou sob custódia da polícia e não podia sair de casa depois das 10 da noite e antes das 10 da manhã. Após o final do processo, onde o acusador abandonou as acusações e Pete foi liberado, a banda iniciou as gravações do primeiro álbum.

E aqui estamos nós, junho de 2005, Pete está firme com a Kate Moss, tomando remédios fortes para tirar o vício da heroína e o álbum está gravado, com a banda se apresentando ao vivo regularmente. O show de hoje à noite não estava prometendo, como disse, por ser numa arena gigantesca. Pior, uma chuva desgraçada começa a cair pouco antes da banda subir ao palco. Mas advinha? Pete está atrasado. Depois de CINQUENTA minutos de atraso, ele chega. Beleza, o público se esperneia. Eu fico meio puto. E molhado. Começam com 'The Man Who Came To Stay". PUTAQUEPARIU! O que aconteceu com o som da banda? Cadê o fluxo? Cadê o brilho?

As faixas estão sem sustância, Pete, apesar de, como sempre, estar com uma performance de palco impecável, canta mal. Muito mal. As músicas não tem fluido, parece que acabaram de compôr e estão ensaiando-as pela segunda vez. Agora sei porque a NME, que sempre idolatrou Pete, falou mal do show deles no Glastonbury. A banda se perdeu, definitivamente.

Um cara da platéia grita: 'Pete, you fucker, você está atrasado!!!'. Pete faz uma cara irônica e responde 'eu sei, é que nesse parque tá cheio de polícia, e tive que vir desviando delas'. Ele sempre teve bom humor. Mas e o som explosivo e mágico dos Babyshambles, para onde foi?? Tudo está ruim nas músicas, e sinto que não problema técnico, e sim com a banda.

Tem uma canção deles que se chama 'Do You Know Me?' e que tem uma vibe reggae maravilhosa, na linha de 'Guns Of Brixton' do The Clash. Essa é uma das minha músicas favoritas dos Babyshambles desde o início e justamente nessa faixa Pete convida um cara pra cantar com ele, que foi apresentado como 'O General', para nós. O sujeito tem barba comprida, tem uns rasta no cabelo, está vestindo um sobretudo e tem toda pinta e ser um dos traficantes de Pete. Não é de hoje que ele convida seus traficantes para dar uma canja com ele no palco. Essa musica é a única que se saiu bem. O resto, de
'Kilimanjaro' a 'Fuck Forever', foi um emaranhado de barulho tosco, vazio e constragedor. Após 25 minutos, seis músicas tocadas, a produção do festival resolve acabar com a palhaçada e os tira do palco. O público vibra, mas, francamente, não deveria. O que aconteceu com os Babyshambles? É a pergunta que está na minha cabeça. Será que é a falta de heroína? Será que são os remédios que deixa Pete baqueado? Será que é a Kate Moss que está influenciando? WHAT BECAME OF THE LIKELY LADS? Esse show foi muito desapontante e espero que o álbum fique longe disso.


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BURN IT: Faixas espertas para pessoas mais ainda. Soulseek nelas! Bandas novas, músicas novas. Às vezes clássicos também. Just listen it!

THE LONG BLONDES "Appropriation (By Any Other Name)": Mais uma ótima banda de Leeds, UK. O The Long Blondes está ganhando o hype da mídia graças a seus ótimos shows e ao terceiro single, o deliciosamente charmoso " Appropriation (By Any Other Name)" que soa como uma fusão de Elastica com The Smiths. Apropriado para
baladas indie.

MYSTERY JETS "On My Feet": Outra banda que está causando furor na cena rock inglesa. A NME adora. Lançaram o primeiro single essa semana, com uma sonoridade meio The Coral, só que mais esquisito. Os shows são verdadeiros cultos psicodélicos.

OUT HUD "It's For You": O Out Hod é um projeto dos caras que tocam com o !!!, e lançaram o álbum Let Is Never Speak Of It Again esse ano por aqui, reunindo os mais variados beats. Às vezes é disco, outras vezes parece acid-house, ou electro, ou techno pop. "It's For You" é fresh, bombada, com uma pitada New Order. Se joga.

BECK "Girl": Novo single do Beck, que está no aclamado novo álbum. Simplesmente está entre as melhores coisas que ele ja fez até hoje. É o Beck de volta a boa forma, minha gente. Sorte nossa.


LOUIS XIV "Hey Teacher": Os rockers Louis XIV são de Los Angeles, EUA, e lançaram o primeiro disco recentemente em terras ianques. Mandem ver um rock com estilo, tirando referências de nyc rock'n'roll, poodle-rock e glam, tudo encaixado na medida certa. " Hey Teacher" prova isso.



marcio_custodio1980@yahoo.com.br





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Wednesday, July 06, 2005

 

coluna 30 de junho

Hi, how're you doing?

Depois de algumas semanas de total reclusão, voltei a ir pra shows aqui em Londres. Às vezes é bom dar um tempo, afinal, tudo em muita quantidade satura, não é mesmo?

Fui no Wireless Festival (não precisei acampar nem viajar, pois aconteceu no centro de Londres, fui de metrô) e mais em dois shows de brasileiros dando rolé por aqui. Gostei de todos. Seguem as resenhas na coluna de hoje, entre outras coisas. Enjoy!

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FESTIVAIS


Vocês perceberam que até agora não falei nada de festivals aqui na coluna, né? Então, o motivo é simples: eu não gosto de festivais.

Quer saber porque? Então olhe essa foto abaixo. Foi tirada no Glastonbury Festival no último final de semana.



Acho legal as bandas que tocam. Mas só. De resto, ir para um festival inglês é uma grande chateação. Ter que viajar, acampar em lugares toscos, tomar banho em condições precárias e ver as bandas em palcos gigantescos são algumas das razões.

Talvez seja bom, por exemplo, para quem mora no Brasil e não tem chances de assistir os conjuntos ao vivo. Aí, ter a oportunidade de ver praticamente todas as bandas o momento num único final de semana não é má idéia. Vale a pena o sacrifício de viajar e acampar. Eu mesmo quando morava no Brasil costumava vir pra Inglaterra só pra pegar os festivais. Valeu a pena, apesar dos problemas que tive para me manter nesses festivais.

Mas pra quem mora aqui, onde tem shows toda semana, acho que não compensa. Provavelmente devo ser um do poucos que acha isso, pois esses festivais sempre esgotam os ingressos. Cada um cada um, certo?

Essa história de que tem que entrar no espírito dos festivais e desencanar não é comigo. Eu não gosto de acampar numa área que vira depósito de lixo a partir do segundo dia de festival, e você tem que dormir ali, no meio do lixão. No way. E se chove então, vixe, a lama deixa o festival um show de horror. Tomar banho? Só se você tiver paciência pra esperar duas horas numa fila, com sua toalha e sabonete na mão. E pode ter certeza que pouco depois do banho, você vai ficar sujo de novo.

Nesses festivais ficamos mais preocupado se vamos morrer de cólera do que em qual horário as banda tocarão.

Pra você ter idéia do que estou falando, essa semana aconteceu o Glastonbury, o festival mais tradicional daqui. Rolou um temporal na sexta, primeiro dia. Olha só como ficou a área de acampamento.



E pior. Tem gente que acha romântico a chuva do Glastonbury e celebra o momento.



Só digo uma coisa: eca.

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Sabe as The Pipettes, minha paixão indie-pop, que eu tanto já babei aqui? Tem entrevistas com elas nos seguintes sites:

www.coquetelmolotov.com.br (português)

www.funkymofo.net/pipettes2005.html (inglês)

Confira!

www.thepipettes.co.uk/


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::: MOBY
Ao vivo no Wireless Festival, Hyde Park, Londres, sexta 24/06


Ouvi dizer que o novo disco do Moby, 'Hotel', é fraco. Não ouvi inteiro, mas acredito. O Moby também deve achar, pois só tocou duas músicas desse novo trabalho no show. O resto foram os hits dos álbums anteriores 'Play' (1999) e '18' (2002). Na hora que o careca entrou com sua banda no palco principal do festival, uma garoa fria e chata caía sobre o Hyde Park, e acho que isso refletiu na apresentação, pois o começo foi meio devagar, com os músicos um tanto apagados e Moby meio quietão. O clima tava estranho. Mas depois a coisa melhorou, com Moby fazendo piadas e sua banda mais a vontade no palco. 'Bodyrock' agitou bastante a galera e 'Why Does My Heart Feel So Bad' foi a minha preferida, com seu apelo trip-hop épico melancólico e efeitos psicodélicos no telão. As ótimas 'Porcelain' e 'We Are All Made Of Stars' também se destacaram. Fecharam com o último single 'Spiders', uma boa música, que encerrou a curta apresentação em alto estilo. Um bom show, pra ver uma vez apenas e é o suficiente. Valeu.


::: NEW ORDER
Ao vivo no Wireless Festival, Hyde Park, Londres, sexta 24/06


Antes de começar a resenha, tenho que dizer que o concerto do New Order foi a maior aglomeração de geezers & hooligans & lads & neds que eu já vi em um show aqui na Inglaterra. Parecia jogo de futebol da terceira divisão. Pra sentir o drama, eu estava com uma camiseta do The Tears e um gordão careca chegou em mim e gritou 'you fooking queer, shit t-shirt!". Não preciso falar mais nada. Hooligans a parte, vou te falar, não tava muito animado pra ver o New Order. Esse álbum recém-lançado é ruim e imaginei que fariam um set baseado nele, mas me enganei. Assim, como o Moby, deram prioridade para os hits e ignoraram o último trabalho. Sorte nossa, os fãs. Sabe as músicas que vem à cabeça quando a gente pensa em New Order?

Então, tocaram essas. Confesso que arrepiei total ao conferir ao vivo HINOS como 'Tempatation', 'Bizarre Love Triangle', 'Regret', 'True Faith', 'Crystal' etc. Peter Hook é uma verdadeira figura tocando seu baixo, como eu já imaginava. Ele tem um estilão próprio, meio laddy, durão, mas ao mesmo tempo um rock-star. Esse é show-man. O vocalista Bernard Summer deu agora de dançar feito um bêbado desengonçado e nerd, e foi isso que fez praticamente o show inteiro. Legal. Esquisito. Mas sua voz definitivamente faz a diferença. Impossível não ficar emocionado. Só não entendi porque o público ficou tão histérico quando tocaram músicas do Joy Division, como 'Love Will Tear Us Apart', 'Transmission' e 'Atmosphere'.

Francamente, essas músicas sem a voz e espírito de Ian Curtis não são as mesmas. A voz doce de Bernard Summer cantando elas ficou meio esquisito, por isso achei um ponto fraco do show. Fecharam o show com o clássico 'Blue Monday', que balançou geral o Hyde Park.

No final, eu que não dava nada, saí do show louco pra chegar em casa, colocar minha compilação do New Order e relembrar meus tempos de colegial. Lindo.

Mas o show no Hyde Park acabou cedo, e ao invés de ir pra casa ouvir New Order, decidi ir para o show do Hurtmold, que acontecia na mesma noite e era meio perto. Cheguei pouco antes do show começar. Veja como foi.


::: HURTMOLD
Ao vivo no Guanabara, Londres, 24/06


A notícia de que a banda paulista Hurtmold iria extender sua turnê européia e dar um pulinho em Londres me deixou muito feliz. Pois é. Tinha que ser iniciativa da revista Jungle Drums (www.jungledrums.org), que sempre tem idéia ousadas e criativas, mostrando a cultura brasileira sem cair nos clichês de apenas 'samba-carnaval-futebol'.

Quem foi ao Guanabara esperando mais uma vez ver uma banda tocar samba ou mpb, que é o que sempre tem lá, se deu mal, pois foi o avant-post-rock do Hurtmold que brilhou dessa vez.

Eu gosto de Hurtmold. Gosto porque fazem música de vanguarda com personalidade e inteligência. As improvisações, ecletismo e swing que saem das suas músicas são os motivos pelo qual os considero o melhor conjunto brasileiro atualmente. E depois de dois anos do último show que vi deles, em São Paulo, enfim, iria vê-los ao vivo aqui em Londres.

Recém-chegados da Espanha, onde se apresentaram no tradicional festival Sonar, a banda tocou músicas dos discos Cozido (2002) e Mestro (2004), fazendo um set totalmente instrumental, que durou aproximadamente uns cinquenta minutos. Foram minutos de puro deleite avant-post-rock, rechado de melodia e classe. O suficiente para me deixar, como acontece toda vez que os vejo ao vivo, de boca aberta.

As músicas começam com um emaranhado de instrumentos e barulho, tudo fora do lugar. Conforme o som vai fluindo, cada instrumento vai entrando no bonde e se colocando na sua posição. Com o som arrumado no lugar, seguem por alguns minutos, sempre com alguma improvisação aqui e acolá. Chocalhos, bateria eletrônica, clarinet, teclado, xilofone, corneta, estavam todos lá, dando as caras uma hora ou outra, deixando a marca registrada do Hurtmold. A bateria de Mauricio Takara era por vários instantes deliciosamente torta e descompassada, o que eu adoro. O baixo de Marcos Gerez tinha um groove. Tinha um swing. Um swing hipnótico. Gostei. Me fez balançar a cabeça e meus pés de forma um tanto excitado.

Parte da audiência claramente não foi muito com a cara do show. Normal. Afinal, eles estavam no lugar certo. O Hurtmold é que foi parar no lugar errado. Os boatos que chegaram no meu ouvido foi de que os donos do Guanabara não acharam o show com a cara do local e estavam desesperadamente torcendo para que terminasse
logo. Até imagino a cena. É o Hurtmold causando aqui em Londres, minha gente!

Tomara que da próxima vez eles toquem num lugar mais no estilo deles que, francamente, é o que não falta aqui em Londres. De qualquer jeito, o show foi excelente. Parabéns à banda e à Jungle Drums.


::: MARCELO D2
Ao vivo no The Marquee, Londres, 25/06


Já falei que sou um puta fã do disco "A Procura da Batida Perfeita"? Exato. A mistura de hip hop com samba que Marcelo D2 mandou nesse álbum é única. Ele soube como ninguém pegar as rimas e versos e beats do rap e colocar espertamente junto com os cavaquinhos e batuques e alto astral do samba. Ficou demais. Desde
que estou em Londres, há dois anos, que esse disco está em alta rotação no meu cd player. O boato que Marcelo D2 vinha pra Londres apresentar esse disco ao vivo tava rolando desde 2003, mas só foi se concretizar no último final de semana, no traditional The Marquee, centrão da capital inglesa. E qual foi minha surpresa quando fui convidado pra discotecar antes do show! Pois é, foi demais. Toquei de tudo MESMO, de Cocteau Twins a Miguel de Deus, com direito a Beastie Boys, Curtis Mayfield, The Tears, Seu Jorge, James Brown e Secos e Molhados, entre muitos outros.

Uma pena que o Marquee estava apenas parcialmente cheio, devido a má divulgação do evento. Pelo que sei, o show foi marcado de última hora. Mas isso não tirou o brilho da apresentação e muito menos o ânimo do público, e quando Marcelo D2 subiu com sua banda no palco, a histeria foi total. O clima estava ótimo. E que carisma esse cara tem no palco! Gostei. As músicas ao vivo ficaram tão boas quanto no disco, a banda é super competente e talentosa. A estrela da noite não parava um minuto, balançando os braços como nos bailes de rap e cantando os seus hits velhos - que eu não conhecia - junto com os do último lp "A Procura da Batida Perfeita".

Não esqueceram nenhuma das que eu gosto, como 'Pilotando o Bonde da Excursão', 'Maldiçãoo o Samba', 'Vai Vendo', 'A Procura da Batida Perfeita' e 'Re:Batucada'. O sucesso 'Qual é?' foi o á pice da noite. Na bacana 'Loadeando', fizeram uma versão raggae que, sinceramente, ficou melhor do que no disco. Muito boa. Como Marcelo D2 demorou tanto pra vir a Londres, ele não economizou nesse show, e tocou por duas horas seguidas. Repetiu algumas músicas ('Pilotando o Bonde da Excursão' teve duas versões, uma caindo mais para o samba e outra mais para hip-hop e beats), mas segurou muito bem a noite a lavou a alma dos que estavam presente.

Show nota 10, noite nota 10.


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BURN IT: Músicas em alta rotacao no meu iPOD. Soulseek nelas!

HARD-FI "Hard To Beat": Grande hit dessa banda inglesa que está fazendo muito sucesso por aqui. Esse é o terceiro single e a banda da toda a pinta de que vai longe. Imagine um electro-rock, com uma vibe madchester, ecos de Beck, Fatboy Slim e Cornershop e você chega perto. Pra se jogar numa pista de dança num sábado à noite e esquecer da vida.

THE SUBWAYS "Rock'n'Roll Queen": O trio de teenagers The Subways lança mais um single e novamente nos brinda com um garage-rock-grungy ganchudo e fervente. Tudo que o Von Bondies tentou fazer, e quase conseguiu. O álbum vai ser lançado em breve, mas já pode ser encontrado no soulseek.

BE YOUR OWN PET "Fire Department": A molecada Be Your Own Pet, direto de Nashville, EUA, ataca com mais um single, o primeiro pela gravadora Rough Trade. Segue a mesma linha do single anterior, um rock groovy, pop e sexy, tudo isso graças às guitarras altas e a voz marcante da vocalista loiríssima Jamina. Se você curte Yeah Yeah Yeahs, o Be Your Own Pet é a nova pedida.

ROYKSOPP "Only This Moment": Já perceberam como Fatboy Slim, Chemical Brothers e Moby estão cada vez mais datados? Pois é, esses dinossauros da música eletrônica perderam o bonde e agora quem tá por trás dos beats mais fresh e cool são o Mylo, da Escócia, e o Royksopp, da Noruega. Esse último lançou novo disco essa semana e a faixa 'Only This Moment" é o primeiro single. Com refrão suave e a voz linda de Kate Havnevik, impossível não se apaixonar.

THE TEARS "Song For The Migrant Worker": Acho que Brett Anderson deveria desencanar um pouco do formato pop-rock que vem fazendo desde o Suede e fazer um disco inteiro apenas com piano e voz. É essa minha opinião após ouvir esse b-side do The Tears. Soberbo. Ouça e me fale sua opinião.

THE DECEMBERISTS "Oh The Bus Mall": Essa é uma das faixas mais bonitas de 'Picaresque', último e ótimo á lbum dos The Decembrists, já comentado aqui na coluna. Direto de Portland, EUA, esse quinteto faz um pop rico, com direito a uma mini-orquestra, pianos e acordeon. É o que chamam de chamber-pop. Se Divine Comedy e Belle And Sebastian é a sua linha, os Decemberists estão esperando por você.

SHOUT OUT LOUDS "Very Loud": Mais uma banda sueca que conheci na minha recente viagem à Suécia. O Shout Out Louds já é conhecido na sua terra natal, mas aqui na Inglaterra o buzz só está começando agora, com o lançamento do single "Very Loud", que tem um jeitão retro-rock, new wave e é prato cheio pra quem gosta do novo rock como Bloc Party, The Bravery e Sons And Daughters.


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