Wednesday, August 16, 2006

 

coluna 10 de agosto

Essa semana publico um artigo que escrevi sobre John Howard, um dos meus pianistas favoritos e que tive o prazer de conhecer e entrevistar recentemente. Já escrevi sobre ele diversas vezes aqui na coluna, e agora faço uma espécie de biografia para aqueles que querem conhecer a saga deste homem. Howard lançou um ótimo disco esse ano na Inglaterra, e promete um novo trabalho para o final do ano. Definitivamente inspiração é o que não falta. Confira a biografia, e mais abaixo a entrevista exclusiva.

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JOHN HOWARD
A saga de um sobrevivente


Vocês conhecem aquele famoso ditado 'o mundo da voltas', né? Então, ele poderia facilmente se encaixar na vida do pianista John Howard. Aqui temos a verdadeira história de um sobrevivente dos tempos. Uma alma que venceu e alcançou não dinheiro ou sucesso, mas sim satisfação pessoal e espiritual.

A fábula de Howard começa lá nos anos 60, quando o guri do interior
da Inglaterra brincava com o piano do pai, este um pianista profissional. Aos sete anos de idade, Howard teve início a aulas de piano. Já em sua adolescência, fã de Bowie e Bolan, ele começou a compor suas próprias canções e se apresentar em bares e pubs ao redor da região onde morava, Lancashire. Num desses pequenos concertos, em 1973, ele foi 'descoberto' por um agente de produções de Londres, que conseguiu convencer Howard, na época um menino 20 anos, a se mudar para a capital e batalhar uma carreira. No final de 73, conseguiu um contrato com a gravadora CBS, e começava aí uma grande dor de cabeça com a indústria da música. Se existe um exemplo de como gravadoras grandes são uma faca de dois legumes, este exemplo seria o próprio John Howard. Com o contrato assinado, ele teria dinheiro para gravar seu álbum, mas também enfrentaria pressões e pessoas querendo dar ordem de como deveria ser sua música.

Durante o ano de 74, o pianista gravou seu álbum debutante, intitulado
"Kid In a Big World" e lançado no começo de 1975. Gravado nos estúdios
Abbey Road, aliado a uma produção fantástica e contendo dez deslumbrantes faixas, o disco é pura excelência glam, com pianos e uma ou outra orquestração dando o tom, somando à isso a magnífica voz de Howard, cantando histórias sobre garotas tristes, angústias adolescentes e o fato dele agora estar numa cidade grande, como espelha o título do LP. Eu não estaria exagerando se dissesse que "Kid In a Big World" é o equivalente de piano aos sonhos folky de “Hunky Dory”, de Mr. David Bowie. Antes mesmo de lançar esse primeiro trabalho, Howard já enfrentava discordâncias com a CBS. Para a capa do disco, o pianista tirou uma série de fotos abusando de luxo e glamour, em paisagens vitorianas, repletas de maquiagem e ousadia. Porém, a gravadora quando viu, censurou a arte logo de cara, alegando que era muito 'exótica' e 'extravagante'. Fez-se uma nova sessão de fotos, dessa vez sem maquiagem, e assim a gravadora deu sinal verde.

Com 21 anos, recém chegado à Londres, motivado pelo contrato com a gravadora e se apresentando ao vivo em lugares 'chiques', John Howard sonhou que "Kid In a Big World" seria um grande sucesso na época. Entretanto, a indústria da música não achou o mesmo. Dois singles foram escolhidos para promoção do álbum: as esplêndidas "Goodbye Suzie" e "Family Man". Mas as malditas rádios se recusaram a tocar ambas, alegando que a primeira, que falava do suicídio de uma garota, tinha uma letra muito deprimente, e a segunda era muito 'anti-mulheres'. Desapontada com as baixas vendas e a falta de hits, a gravadora decidiu deletar o álbum do catálogo, poucos meses após seu lançamento. Howard alegou que sua arte não era pra ser baseada em hits instantâneos, mas sim ser construída a longo prazo, com turnês e boa promoção e conseqüentemente ir formando uma base de fãs. Mas a CBS não deu ouvidos.

Triste por ter seu trabalho engavetado, John Howard ainda sim não se abalou e continuou a compor. Lá para o final de 1975, ele já tinha um número significante de faixas para gravar um segundo disco. Foi o que fez. Retratando a tristeza e solidão que Londres injeta em qualquer imigrante, as faixas que Howard começou a gravar eram mais minimalistas e melancólicas que seu primeiro disco, e com uma produção mais simples, ainda que peculiar. Foi escolhido até um título para o suposto álbum: "Technicolour Biography". Pouco antes do término das gravações, a CBS quis ouvir as músicas e, claro, alegando falta de hits, a gravadora se recusou a lançar o que seria o segundo trabalho de John Howard. E, sem mesmo ter finalizado as gravações, "Technicolour Biography" foi abandonado.

Contudo, a gravadora ainda apostava no sucesso de Howard, e colocaria ele em estúdio com um grande produtor-maestro Disco da época, conhecido como Biddu, contanto que 'o artista colaborasse'. Houveram tremendas discussões entre Howard e sua gravadora, essa insistindo que o compositor fosse para um lado mais 'soul' e 'disco', já que isso era o que estava vendendo na época. Jovem e ainda inexperiente, Howard não segurou a barra e, em 1976, cedeu para gravar com Biddu. O resultado é o LP "Can You Hear Me OK?", uma bela coleção de músicas com roupagem orquestrada e, digamos, um tanto 'disco-soul-glam'. Foi tirado até um single, a ótima "I Got My Lady". Essa chegou a ser bastante tocada na rádio Capital, mas, pra variar, não conseguiu entrar no playlist da poderosa Radio 1. A CBS decidiu então novamente abandonar o projeto de lançar o LP e finalmente John Howard saiu da gravadora.

Nos próximos 18 meses, Howard voltou a se apresentar em bares e cabarets por Londres. Ele também se envolveu em um acidente doméstico, onde quebrou as costelas, tendo assim que permanecer de repouso por alguns meses. No ano de 1977, John Howard foi apresentado para o produtor Trevor Horn, e juntos começaram a gravar demos. O fruto disso foram vários singles, entre eles o soberbo "I Can Breath Again", jorrando falsettos e disco-music para todos os lados. Entretanto, nenhum single foi muito longe e Trevor Horn, bastante ocupado com sua nova banda The Buggles e seu recém single número 1 "Video Killed The Radio Stars", inevitavelmente se distanciou de Howard. Já no começo dos anos 80, desiludido com a falta de reconhecimento e sucesso, John Howard praticamente largou seu piano, desistiu do sonho e rumou para outros caminhos da vida.

Na primeira metade da década de 80, ele basicamente não compôs nada, e raramente tocava ao vivo, tão pouco gravava alguma faixa. Isso só acontecia quando surgiam convites de amigos. Mas eram sessões mais para divertimento e bebedeira do que para vislumbrar alguma carreira. Pouquíssimos singles foram os frutos dessas gravações, todos lançados por minúsculas gravadoras independentes. Em 1984, recebeu um convite para trabalhar como funcionário da gravadora EMI. Decidiu aceitar a oferta e trabalhou nisso nos próximos 16 anos, tratando de artistas do calibre do Madness, Elkie Brooks e Maria Friedman.

Até que no novo milênio a magia renasceu. Em 2001 "Kid In a Big World", seu primeiro e esquecido clássico álbum, começou a causar auê entre colecionadores de discos por todo o mundo. A copia original em vinil chegou a aparecer no eBay por 500 libras, e Howard passou a receber e-mails de pessoas de todo o planeta perguntando sobre o álbum. Ainda, "Kid In a Big World" foi citado no livro "In Search of The Lost Record". Isso tudo fez com que a gravadora especializada em velharias RPM Records corresse atrás das fitas originais do LP e, no final de 2003, relançou o mesmo em CD, com faixas bônus e um encarte suculento contando a história de John Howard. As tais fotos 'ousadas' que Howard tirou na época com maquiagem e glamour, e que foram banidas pela gravadora, dessa vez fizeram parte do encarte e foram publicadas pela primeira vez.

O relançamento em cd foi absurdamente bem recebido pela imprensa, com
a revista Uncut dando cinco estrelas. Em abril de 2004, o pianista se apresentou ao vivo em Londres depois de um hiato de 25 anos sem tocar na capital inglesa. O show recebeu uma avaliação cinco estrelas do jornal The Guardian. No final daquele ano, a gravadora RPM Records, motivada com a falação acerca de John Howard, decidiu lançar em cd "Technicolour Biography". Foi a primeira vez que o álbum viu a luz do dia, após trinta anos depois de ter sido gravado e abandonado. Melancólico, o cd traz doze pérolas que, mesmo de produção simplória, soa como se fosse trilha sonora para um filme romântico dos anos 30. A canção em destaque é justamente a faixa-título, esbanjando tristeza e brilho nos seus épicos seis minutos. Obviamente, esse trabalho também foi bem recebido pelos jornalistas.

Surgiram alguns modestos shows e também o relançamento em cd de "Can You Hear Me OK?", o tal álbum disco-soul-glam. Junto com ele vieram os singles produzidos por Trevor Horn como faixas bônus. Sentindo boas energias e motivado pelas resenhas positivas que receberam seus discos relançados dos anos 70, no meio de 2004 John Howard finalmente voltou a compor e criar músicas, dessa vez em parceria com o poeta Robert Cochrane. Foi assim que surgiu o cd "The Dangerous Hours", lançado em 2005 pela micro-gravadora The Bad Pressing. O trabalho é basicamente John Howard musicando os poemas de Robert Cochrane e, particularmente, o meu preferido da carreira de Howard. Aqui ele compõe melodias direto das entranhas de seu coração, soando amargo, melancólico, sarcástico e esperançoso. É similar ao seu som dos anos 70, mas há claramente uma maturidade no ar. Um prato cheio pra quem atualmente se identifica com Antony & The Johnsons ou Rufus Wainwright. O disco inteiro compõe-se apenas piano e voz (que voz!), e se você não se tocar com algum dos quatorze números, é porque seu coração congelou. Foi inteiro produzido, composto e tocado por John Howard. É difícil escolher uma como destaque, mas ainda sim eu tento: chore com "Save The Days". E claro, a imprensa especializada adorou o retorno do pianista, com a Uncut dando quatro estrelas para a obra.

Em 2005 Howard fez alguns shows pequenos por Londres e, nesse mesmo ano,
começou a trabalhar num novo álbum, que saiu agora em janeiro de 2006. Com o nome de "As I Was Saying", o cd é composto por dez cancões novíssimas e inéditas (+ uma regravação de uma outra faixa sua), soando como se ele realmente tivesse sido enterrado nos anos 70 junto com sua majestade glam e ressuscitado luxuosamente em 2006. Gravado com o guitarrista/percussionista André Barreau e o baixista Phil King, foi a primeira vez desde sua primeira obra há 30 anos atrás que John Howard compôs as músicas em parceria com um conjunto de músicos, que juntos iam criando as melodias organicamente e construindo as estruturas ideais. Antes, ou ele tinha usado músicos especiais para sessão, ou tinha tocado tudo sozinho. Segundo o próprio, foi um grande prazer poder sentar e assistir a interação dos músicos um com o outro e o fluxo de idéias indo e vindo.

Possuindo uma produção impecável, dessa vez as prósperas linhas de piano dão espaço para violão e órgão. No início de "Magic Of The Mystery" há uma gravação-vinheta de John Howard, rapazinho de quatro anos de idade cantando para seu pai ao piano, para depois cair num majestoso folky-glam, agora Howard adulto, brilhando como só ele sabe. Já "The Dilemma Of The Homosapien" entra num swing cabaret, emulando criaturas como Klaus Nomi e Jobriath, mas não tão dark. E "Lonely Again (Brenda's Song)", uma canção em homenagem a sua falecida mãe, é apenas uma balada linda de morrer.

Um dos melhores números de "The Dangerous Hours", aquele álbum que Howard musicou poemas, é "Dear Glitterheart". Aqui ela ganhou um novo arranjo e, como se isso ainda fosse possível, ficou ainda melhor, ecoando o hino "All The Young Dudes" de David Bowie. A melhor música do cd, entretanto, fica com a faixa de abertura, “Taking It All To Heart”, com alguns dos versos mais bonitos, nostálgicos e verdadeiros desses tempos: “On reflection is a great place to be / When you’re able to make corrections / To the fate of you and me / On reflections is a good state of mind / When you’re a able to make connections / To what we left behind”. Parece que Senhor Howard anda refletindo bastante sobre seu majestoso passado. É exatamente isso.

Sobre suas novas as letras, ele diz que esse cd é muito pessoal. Vivenciando o
interesse das pessoas novamente pela sua arte dos anos 70, isso obviamente o fez pensar e relembrar os 'velhos tempos', e também meio que perceber que já se passaram cinqüenta anos de sua vida. Nesse novo álbum, ele mergulha em angústias do passado, na sua relação com sua mãe, que morreu um mês antes de seu primeiro disco em 1974, sobre como foram aqueles dias em que ele sonhava em ser um pop star. Diz também que mesmo depois de 30 anos, parece que foi ontem que ele lançou seus primeiros trabalhos. A capa de "As I Was Saying" aparece John Howard segurando seu primeiro disco em vinil "Kid In a Big World". As revistas inglesas Uncut e Plan B elogiaram o novo cd.

John Howard é um exemplo de um talento que brilhou para si mesmo e sonhou com fama, reconhecimento e dinheiro, mas acabou sendo derrubado pela vida. E mesmo depois de décadas na obscuridade, não deixou sua arte e magia secar.

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Semanas atrás me encontrei com a lenda John Howard em Londres e bati um papinho rápido. Confira:

A música "Sanctuary's Sojourn", que está no seu novo álbum, é apenas voz e violão. Você pretende incluir elementos folk em suas músicas novas ou esse foi um momento único? Voçê toca violão também?
John Howard:
Aquela faixa foi idéia do meu parceiro Neil. Estávamos testando as músicas para o álbum aqui em nossa casa em Pembrokeshire com André Barreau e Phil King e "Sanctuary's Sojourn" estava ficando difícil de soar como a gente queria. Neil sugeriu que André e eu fizéssemos a coisa sozinhos, de forma simples, e então a gente tentou e deu certo. Eu nunca tinha cantado com um violão ao fundo antes e nós gravamos essa em apenas três takes, sendo que escolhemos a segunda. André veio com o ritmo e tivemos de ajustar o tempo da letra, mas ela é agora uma das favoritas ao vivo, parte por causa que soa tão diferente do meu repertório usual. Tentei tocar violão na minha adolescência, mas não curti, pois cortava meus dedos! Neil comprou pra mim um violão ano passado para eu tentar de novo, mas ainda machuca meus dedos!

Quais compositores e bandas lhe impressionam nos dias de hoje?
JH:
Ouço cada vez menos música nova atualmente, já que mais uma vez estou concentrado nas minhas próprias composições. Quando eu era jovem, nos anos 60 e 70, meus heróis eram os Beatles, Bowie e Bolan. Tornei-me um grande fã de Prince e Kate Bush nos anos 80 e também amava bandas como o Adam and The Ants. Sempre amei Stars, que são fantásticos e soam completamente individual. Agora eu admiro compositores como Rufus Wainwright e sua irmã Martha; Richard Ashcroft é legal também, e sempre que os ouço nas rádios eu curto Franz Ferdinand e Arctic Monkeys, a energia das músicas deles são ótimas. Mas tenho escutado muita pouca música atualmente, com exceção das que estão dentro da minha cabeça!

Você foi praticamente ‘sabotado’ em todos seus lançamentos nos anos 70 por sua gravadora major. E nos anos 80 e 90 você trabalhou para elas, as gravadoras major. Como você se sentiu trabalhando no ‘o outro lado’? Você sente alguma amargura para a indústria da música depois que ela engavetou e abandonou dois dos seus álbuns?
JH:
Eu nunca senti amargura. Em retrospecto agora eu sinto um pouquinho de tristeza de imaginar o que teria acontecido se a CBS tivesse lançado “Technicolour Biography” e “Can You Hear Me OK?” em 1975 e 1976. Tipo ‘o que aconteceria se...’. Mas a vida continua e na época eu apenas aceitei que a gravadora tinha perdido o interesse em mim e seguido em frente com outras coisas. Trabalhar com artistas maravilhosos e talentosos como Elkie Brooks e Maria Friedman foi divertido, e uma oportunidade de assistir gênios trabalhando. Foi só no relançamento de “Kid In a Big World” em 2003 pela RPM que eu comecei a me ver novamente como um artista. Mas agora eu sinto que estou de volta fazendo o que quero e onde eu sempre deveria ter ficado. Mas... c'est la vie!

Como você vê a Grã-Bretanha multi-racial dos dias de hoje? É muito diferente de quando você começou a compor música? Isso afeta você?
JH:
A Grã-Bretanha certamente se tornou mais multi-racial e multi-cultural nos últimos trinta anos. Na minha escola nos anos 60 a gente só tinha uma garota negra e ela era uma espécie de heroína para nós. Acho que é maravilhoso o fato de agora vivermos numa era cosmopolita. Só espero que todos fiquem mais tolerantes no futuro. O que me preocupa é a intolerância para as diferenças. Nós só temos um planeta e precisamos viver harmoniosamente e tratar o mundo e os outros como se fossem nossos amigos.

O que você conhece sobre música brasileira ou mesmo sobre o Brasil?
JH:
Sempre amei a música de Astrud Gilberto e Tom Jobim nos anos 60, e mais recentemente estou ciente de artistas latino americanos como Tito Puente. Acho que a música brasileira parece vital agora com muitos jovens artistas e eu deveria investigar mais. Quando trabalhei na indústria da música nos anos 90 um colega meu trabalhou para a Warners no Rio e ele sempre me chamava para conhecer seu país, e eu deveria ter aceitado o convite. Mas nunca deu. Amigos meus que já tiveram no Brasil dizem que é um país bonito. Talvez um dia...

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Para novidades sobre novos lançamentos e shows, visite: www.kidinabigworld.co.uk ou www.myspace.com/kidinabigworld



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coluna 03 de agosto

THE HORRORS

Deu na NME e eu confirmo: The Horrors causa desordem em Londres!

O quinteto londrino, já conhecido desse espaço, lançou um novo single essa semana, chamado “Death At The Chapel”, e ontem foi o show de comemoração, na loja de discos Pure Groove, no norte de Londres. Só que o que era pra ser apenas um show normal, dentro de um local pequeno, virou confusão após a chegada centenas e centenas de fãs. O show teve que ser transferido para o pub ao lado! Daqui a pouco estrão esgotando ingressos por onde tocarem.

The Horrors toca dia 20 de agosto em Londres. Informações: www.myspace.com/thehorrors


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THE BISHOPS

Quem continua na batalha é o trio The Bishops, que lança uma nova música de trabalho em setembro e vai com tudo para turnê européia. Com o nome de “Higher Now”, o single possivelmente deve fazer bonito nos charts britânicos. Você já sabe: toda música dos caras é um hit potencial. São uma das principais bandas da atualidade que emulam os anos 60 sem cair em clichês. O vigor juvenil é um dos trunfos do The Bishops. Admirados tanto pelo pessoal da velha guarda como também pela molecada indie de agora, podem muito bem virar hype e ganhar o mundo nos próximos meses. Eu aposto!

Assista o clip de “Higher Now”



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THE AUTOMATIC

A melhor banda galesa desses tempos atuais, The Automatic, mostrou suas raízes rock’n’roll e CAUSOU num programa de televisão britânica na semana passada. O quarteto estava apresentando o contagiante hit “Monster” (apenas dublando, e não tocando ao vivo), quando perceberam que tudo estava sendo muito ridículo, aí chegaram na hora e destruíram o set do palco, derrubando tudo e causando geral.

Conversando com a NME após o episódio, o tecladista Alex Pennie disse que tudo aconteceu porque estavam virados da noite anterior. Decidiram não dormir depois de um show, e ficaram acordados direto até de manhã para gravar o programa. Não são muito bons em acordar cedo. Aí decidiram beber para passar o tempo e, quando chegou a hora da gravação, estavam todos de pileque! Já viu. Foi hilário. Quem começou foi o guitarrista James Frost, atacando a guitarra, pulando feito louco e se jogando na bateria. Depois o tecladista entrou na onda. Quando se deram conta, estavam de cuecas causando geral. Adoro bandas desse naipe: sem compromisso com a mídia mainstream e esbanjando bom humor e espírito jovem. Foram lá, viram que era um programa imbecil, tomaram umas e zuaram o barraco. Adoro!!

E vendo a apresentação, repare que antes mesmo de começar a desordem, a banda já estava claramente tirando um sarro dessa dublagem fake. Eu faria o mesmo. Payback ninguém merece.

E você pode assistir como foi a bagunça aqui:


Fora isso, o The Automatic lança “Recover” para próximo single, uma das faixas matadoras do álbum de estréia, “Not Accepted Anywhere”. O lancamento está previsto pra outubro no Reino Unido. Assista o clip aqui:


The Automatic é uma banda foda, não é?



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RESENHAS


ACID CASUALS – “Omni”

Esse é um projeto de um dos caras do Super Furry Animals, e foi lançado pela própria gravadora da banda. É um disco que se destaca pela criatividade e dissemelhança entre suas dez trilhas. Cada uma se difere da outra. Há momentos em que até na mesma faixa a sonoridade muda completamente, como é o caso de “If I'm A Selt You're A Sunt”, que abre o disco. É pop no começo, e no final vira uma trilha-sonora vanguardista, com elementos eletrônicos. “Y Ferch Ar Y Cei Yn Rio” é a minha predileta do álbum, e remete ao High Llammas. Há um clima de desamparo na faixa, e eu não consigo explicar porquê. Cutuca minhas memórias. A mesma coisa acontece com “J.T. 100%”, a trilha seguinte. É como se o Stereolab estivesse passando por uma crise de identidade. Outro destaque é a faixa “Long Time No See”, uma doçura esquisita de arrepiar. “Omni” é uma obra que desgasta seus ouvidos e seus sentimentos. Parece inofensiva, mas não é. Eu gostei, mas ouvir duas vezes seguidas é tarefa árdua. Em suma, uma música pop das mais inquietas que escutei nos últimos anos.

ISOBEL CAMPBELL & MARK LANEGAN – “Ballad Of Tthe Broken Seas”
Essa colaboracão entre Isobel Campbell (ex Belle And Sebastian) e Mark Lanegan (ex Screaming Trees) foi das melhores coisas que aconteceu em 2006 para quem é realmente fascinado por uma boa e tocante música pop. Os dois se conheceram em Glasgow e Mark chegou dizendo que era fã dos trabalhos de Isobel, dando a idéia de comporem um disco juntos. Isobel achou a idéia legal e escreveu algumas músicas pensando em Mark. E ele fez o mesmo. Mark em Los Angeles e Isobel em Glasgow. Ficaram moldando e trocando músicas pela internet e, quando a coisa tava madura, Isobel foi até Los Angeles gravar os melhores momentos dessa brincadeira. Uma brincadeira que deu certo. Esse disco desencadeia num ótimo clima folky-country, com a voz angelical de Isobel salientando com a voz perturbada de Mark. Orquestras aparecem em algumas faixas, como a soberba “Revolver”. Em “Ramblin' Man” temos a impressão que estamos num bar perdido numa cidade perdida sob o sol do Texas, enquanto que “It's Hard To Kill a Bad Thing”, a melhor faixa do cd, percorre três minutos com uma esperançosa e suave instrumentação, apenas com violão, violino e uma leve percussão. A simplória “(Do You Wanna) Come Walk With Me” remete aos trabalhos solos de Isobel. Doce, simples e ingênua. A loja de discos Rough Trade comparou Mark e Isobel com Lee Hazlewood e Nancy Sinatra, e eu estaria sendo tolo em não concordar.

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PETE DOHERTY: O PAPAI NOEL INDIE!!

Pete estava na NME da semana passada. Pedindo desculpas pelas suas maluquices nesses últimos meses. A pergunta é: onde Pete não está? Coloquei aqui a ótima entrevista que ele concedeu ao programa do Jonathan Ross, há algumas semanas atrás. É só ir no link das colunas anteriores, lá embaixo, e você assiste. E tem mais. Na semana passada apareceu no youtube.com uma nova entrevista, feita para o programa Transmission, aqui no UK. Impagável, como sempre.

A entrevista começa com Lauren Laverne, a apresentadora do programa, perguntando qual a importância de East London (zona leste de Londres) na música de Pete, e ele responde que a maioria das pessoas com quem trabalhou e ainda trabalha são de East London: refugiados e malucões da pesada. Depois Laverne faz uma pergunta infeliz, que deixou Pete assim: O QUEEEEEEEEEEE??!?!?! Laverne ficou sem graça, com medinho, e disse: Pete, só estou perguntando, só estou perguntando... Veja que pergunta idiota: ela quis saber se é a impressa que fica no pé de Pete ou se é ele que esta fazendo joguinho. Bobeira. Pete não faz joguinho não, Laverne. Ele é assim mesmo: especial, carismático e problemático. E a imprensa naturalmente quer faturar em cima dele e não o deixa em paz. Imprensa sensacionalista e conservadora é uma merda. Mas ainda assim, como você pode assistir na entrevista, Pete é considerado uma “Instituição Nacional”. Só mesmo na Inglaterra para isso acontecer.

Depois conversam sobre o livro que Pete irá lançar em breve, coletando os melhores momentos de seu diário “Books Of Albion”. Aí papo vai, papo vem, e o assunto chega no festival que os Babyshambles irá tocar em Agosto aqui em Londres, Get Loaded In The Park. Pete, sempre surpreendendo em sua atitude perante seus fãs, diz: “a propósito, se alguém ainda não têm ingressos, trouxe alguns aqui”. Todo mundo vibra e Lauren Laverne fala: THE INDIE SANTA!

Pronto, minha gente: Pete Doherty é o Papai Noel Indie! Hehe.

Doherty então distribui os ingressos do show para os fãs, alguém grita “A GENTE TE AMA PETE!!!”, e o programa termina com ele cantando sua nova música, “Beg, Steal And Borrow”.

Assista a entrevista:


Pois é, meus queridos leitores, a avalanche de Pete aqui na coluna é apenas um espelho do que é ele: talentoso, doido varrido, e com presença em todos os lugares.

P.s.: Não posso deixar de comentar minha decepção com Lauren Laverne. Ela era uma indie-top-girl quando surgiu na cena na época dourada do britpop, nos anos 90, com sua ótima banda Kenickie. Sua voz e visual era pra deixar qualquer um babando. O punk-bubblegun do Kenickie era afiadíssimo. A banda lançou alguns álbuns e depois desapareceu. Laverne voltou como locutora de rádio na Xfm, onde teve ótimos programas e sempre tocou muita coisa legal. Sua voz é uma delícia, e ouvir seus programas me fazia bem. Entretanto, tenho notado que a moça está cada vez mais enfiada nesse mundinho ‘celebrity’. Está toda hora em programas toscos de televisão. Big Brother e tals. Sem contar suas roupas, penteado do cabelo e brincos, tudo horroroso.

Ela tá uma completa loira-aguada!! Laverne, vá assistir seu Big Brother e deixe Pete em paz!!! Você se tornou uma bregona!! Assista a entrevista e veja como Laverne está agora, e veja essa foto do passado. Percebe a diferença?

Você entende indie-top-girls que viram bregonas??? Eu juro que não.




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Tuesday, August 01, 2006

 

coluna 27 de julho

Essa semana não tem nada de música. Acho que é a primeira vez que isso acontece desde que iniciei a coluna, em janeiro de 2005. Mas fique calmo, semana que vem você vai entrar aqui e encontrar esse espaço repleto de resenhas e outras dicas. Por hora, fiquem com um artigo que traduzi da revista Time Out (18 de janeiro 2006) sobre a área de Londres que mais gosto: Soho.

Desde do primeiro dia que pisei em Londres, Soho foi o primeiro bairro onde fui cair. Foi amor a primeira vista. Além de ser a região mais central da cidade, é onde nos deparamos com a melhor cultura e vida boêmia do mundo, com suas esquinas e lojas que respiram arte e mistério. Lojas de discos, pubs do rock, casas de shows, sebos, cafés, bordéis, sex shops, bares ilegais, estúdios de tatuagem, salões de cabeleleiros, points gays e restaurantes vegetarianos. Tem de tudo.

Teve uma época que trabalhei no Soho. Só tenho boas memórias de quando eu passava meu horário de almoço em Soho Square ou atacava as lojas de discos em Berwick Street após o expediente. Sem contar que tenho um amigo que trabalha no pub mais rock e cool do Soho, em Wardour Street. E o infeliz sempre me dava pints de graça. Era um estrago. Posso fazer uma lista imensa de popstars que trombei caminhando pelo Soho. De Thon Yorke à Marc Almond, passando por Jonathan Ross, Elvis Costello e Pete Doherty. Todos adoram o Soho e não é difícil encontrá-los bebendo por lá. Lendo a matéria abaixo, você verá que o lugar sempre foi cheio das pessoas mais excêntricas do mundo artístico e lar dos mais malucos. Enjoy!

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BOHEMIAN RHAPSODY
Por mais de 300 anos, a área entre Oxford Street e Leicester Square tem atraído aqueles que não se encaixam em nenhum outro lugar em Londres. Exilados, artistas e anarquistas: todos encontraram um lar nas suas ruas escuras e seus bares noturnos. Peter Watts e John O’Connell mapeiam uma trajetória pela história vívida do Soho.


Soho sempre foi considerada de certa forma um lugar não-Londres; sua diversidade resume bastante o que faz Londres diferente de outras cidades britânicas. No passado, foi seu estrangeirismo que se destacou. No animado guia de CG Harper, “Queer Things About London” (N.d.T. 1), lançado em 1923, o autor atira um olhar inglês desmoralizador sobre ‘aquele curioso quarteirão estrangeiro no centro de Londres’, comentando alarmado que, ‘no Soho você pode ver mulheres francesas fazendo compras exatamente como elas fazem na França, sem usar chapéu, como nenhuma mulher inglesa jamais faria’. Ele concede que ‘é um quarteirão muito interessante, com uma parte italiana, portanto, cheio de pequenos restaurantes de bichas, cujos porões encontramos baratas’.

Este caráter estrangeiro foi estabelecido em 1680s por um influxo de refugiados Huguenot da França. Recebidos pelo raramente relutante Anti-Catolicismo da Inglaterra, a chegada dos Huguenot coincidiu com uma série de construções na área, ao passo que os velhos campos de caça ao norte de Leicester Square foram desenvolvidos pelo notório construtor Nicholas Barbon (que fez fortuna re-desenvolvendo Londres após o Great Fire of 1666). (N.d.T. 2)

A área tirou seu nome dos gritos de caça dos anciões Anglo-Norman de “Soho! Soho!”, dado pelos caçadores nas perseguições de suas presas quando a área era um bosque. Agora os terrenos arborizados foram substituídos por ruas – Gerrard, Old Compton, Greek e Frith – e os exilados franceses mudaram-se pra lá. Transformando a parte térrea dos prédios em lojas, cafés e restaurantes, a presença deles encorajaram ainda mais a vinda de outros estrangeiros na área: Gregos (fugindo dos Mulçumanos Ottomans), Italianos, Judeus e Alemães chegaram em grande número, estampando suas identidades nas ruas. Depois deles vieram os boêmios – artistas, poetas, filósofos ativistas, cortesãs, agitadores e vagabundos – qualquer um que fosse atraído pelo que fosse diferente.

O caráter do Soho como um refúgio da normalidade foi dessa maneira determinado. Já nos anos 50, o guia “Baedeker’s London” notou que ‘com numerosos restaurantes e lojas estrangeiras, Soho possui um ar não inglês’, enquanto que “In Search Of London” (1951), da HV Morton, observou que, “as pessoas que ocupam as ruas são pessoas forasteiras tão diferentes das pessoas típicas de Londres como as exóticas mercearias, com seus frascos de vinho Chianti, seus queijos parmesão, peixe atum e dentes de alho.

Morton também detectou um ‘ar melancólico’ na área, um astral refletido na associação do Soho com ramo de sexo, uma união do desamparo com desespero. Soho sempre foi famoso pelas suas prostitutas. Em 1788, o guia “Harris’s Guide to Covent Garden Ladies” louvou prostitutas do Soho, como ‘Miss B, do número 18 da Old Compton Street, Soho – uma delicada beldade que acabou de chegar em seu décimo oitavo ano... soberana em cada artifício de contexto amoroso. Na cama, ela é tudo o que um coração deseja, e os olhos admiram; cada limbo em simetria, cada ato coberto com muita ternura; o preço dela: duas libras’.

Lá pelo final do século XVIII, o Hotel Hoopers no Soho Square oferecia quartos para prazer (flagelação era a especialidade) e Joan Goadby operava um bordel exclusivo de estilo parisiense na Berwick Street. Em 1869, a publicação de James Greenwood, “The Seven Cursos Of London”, estimou que havia 152 bordéis no Soho e, quando novas e mais severas leis contra prostituição nas ruas entraram em vigor em 1959, o número subiu, já que as prostitutas foram forçadas a deixar as calçadas. Ao mesmo tempo, os bares The Windmill e Raymond’s Revue estavam armando cabarés de nudez (embora no The Windmill fosse ‘quadros vivos’, com as mulheres sendo obrigadas a ficarem sem se mover para não ter problemas com a lei de censura). Soho se tornou sinônimo de sexo.

Agora é apenas o finalzinho da Berwick Street que mantém aquele sabor decadente e sujo. O comércio de sexo foi primeiro profissionalizado pelos irmãos Maltese Messina nos anos 30, que importava garotas da Franca e Espanha para satisfazer os soldados errantes durante a Segunda Guerra Mundial. Nos anos 70, havia mais de 250 sex shops no Soho. Agora, para a alegria do grupo conservador Soho Society, há menos de 50. As prostitutas que continuam são na maioria controladas por gangsters da Albânia – os mais recentes numa longa linha de cartéis estrangeiros de crime que controlam o Soho. A face criminosa mais famosa da área foi um gangster judeu, Jack Spot, que no dia 11 de agosto de 1955 enfrentou uma violenta briga de faca com seu rival italiano Albert Dimes, na esquina da rua Frith Street com Old Compton Street. A conseqüência da batalha, conhecida como “a briga que nunca foi”, permitiu os Krays que se mudassem para o território (eles administram o clube El Marrocco na Gerrard Street).

Juntamente com os clubs ilegais, haviam os famosos pubs e clubs – The Marquee, 21’s, Ronnie Scotts, The Scene, The French House, De Hem’s, Gargoyle, Metro, The Colony Room, The Coach & Horses, Les Cousins, The Groucho, Tatty Bogles e Soho House – dos quais alguns ainda se mantém, outros são meramente memórias. Foi em tais lugares que a reputação do Soho como um lugar de bêbados causadores foi forjada, visto que Francis Bacon, Dylan Thomas, Jeffrey Bernard e companhia bebiam até cair. O escritor Julian Mclaren-Ross era uma figura familiar no Soho nos anos 40, um dandy elegante, raramente visto sem seu casaco de pele ou sua sombra de olho Aviator. Paul Willets, seu biografo, aponta que naquela época, a diferença entre o Soho Norte (hoje chamado Fitzrovia) e Soho Sul era imensa. ‘Soho Norte era a área da arte’, ele diz. ‘The Fitzroy na Charlotte Street era o principal pub bohêmio dos anos 20 até metade dos 30, quando The Wheatsheaf na rua Rathbone Place tomou conta. Você podia trombar com George Orwell, Stephen Spender, o crítico de teatro James Agate’.

É nesses passos mitológicos que os atuais membros do The Groucho e Soho House esperam caminhar. Esses bêbados da pesada, artistas e atores agora se sobressaem com a duradoura comunidade gay do Soho, que se mudaram vindos de Earls Court no começo dos anos 90. Sempre houveram pubs gays no Soho. O Golden Lion na Dean Street foi ponto de pegação para gays, usado por Noel Coward, e o Fitzroy na Charlotte Street foi popular nos anos 40 e 50, mas o renascimento da rua Old Compton Street como uma vila gay fez os velhos sex shops se tornarem boutiques caras.

Nos dias de hoje, a grana dos gays se mistura com a grana da mídia da rua Wardour Street, para entupir os caríssimos restaurantes e bares. Mas ainda assim, no meio desses caça-níqueis, você pode encontrar as raízes, freqüentados pelos que moram – ou gostariam de morar – na verdadeira margem da vida de Londres. O pessoal da velha guarda resmunga que o Soho não é mais o que era, mas os londrinos ainda emigram aqui para encontrar seu recanto numa área que sempre será um pouco diferente – Londres e não-Londres ao mesmo tempo.


Notas do tradutor

1. Coisas de gays em Londres.
2. Grande Incêndio de 1666, quando a cidade de Londres pegou fogo e foi destruída quase por completa.



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coluna 20 de julho

SCOTT WALKER – “The Drift”

Se existe um disco tenso e estranho e descomunal que foi lançado esse ano, é esse aqui do Scott Walker. Após nove anos de silêncio, o mestre sai da toca para mostrar novamente sua arte. Seu trabalho anterior, chamado “Tilt”, foi uma das coisas mais esquisitas que ouvi na minha vida. E olha que meu ouvido já ouviu muito ruído. Agora nesse novo álbum, o panorama está levemente menos surreal, mas ainda sim muito complexo. Há momentos de pura esquisitice, que por vezes caem numa intensidade tão grande, que faz você ficar com medo. É trilha sonora de um filme de terror. E bota terror nisso. Um exemplo disso é a faixa “Jessé”. Uma música paranormal. É como se o Guillemots fosse uma banda de doentes mentais. Esquizofrênicos.

Há ruídos e barulhos, todos batendo de frente com a voz doída e sofrida de Scott. Parece que ouvimos a dor de alguém trepidando num abismo. Cítaras são tocadas; ao mesmo tempo ouvimos passos de alguém. As cítaras entram em desespero, e os passos se apressam. Scott canta “It’s a lovely afternoon, yes, it’s a lovely afternoon”. Só que estou escrevendo essas linhas exatamente as 2h26 da madrugada e pra mim não é tarde porra nenhum. Trevas. Os passos cessam. Uma orquestra entra com tudo, para desaparecer cinco segundos depois. Rola uma atmosfera, ouvimos copos quebrando, e depois uma barulheira pesada. Scott sempre cantando. Sempre.

O mais curioso disso tudo é que Scott Walker é um dos meus cantores preferidos dos anos 60. Com sua banda Walker Brothers, gravou discos lindíssimos. Depois saiu em carreira solo, lançando obras primas, românticas, melancólicas e elegantes, repletas de magia e com uma das vozes mais lindas que a humanidade já escutou. Ouça “Scott 2” como prova. Depois foi aos poucos saindo de cena, e só retorna com essas esquisitices. Scott demorou cerca de oito anos para gravar esse “The Drift”. Li numa entrevista que ele não gosta do jeito que cantava no passado. Mas é diferente. Não dá pra comparar. Atualmente Scott me parece uma pessoa serena, ao mesmo tempo conturbada com algo. Em suas fotos para imprensa, ele esconde o rosto. Não olha jamais para a câmera. Scott deu as costas para o mundo e a fama, e agora grava os sons mais retumbantes já vistos. “The Drift” é difícil. Se quiser vir, bem vindo a viajem. Mas depois não vai mais poder desistir.



LAMBCHOP – “Damaged”
Pra lavar a alma. Pra aliviar a tensão. 2006 é o ano dos discos de rancho, mato e sossego. Jenny Lewis, Tres Chicas, Camera Obscura e El Pero Del Mar já lançaram suas jóias, conforme você leu aqui nas colunas passadas. E agora “Damaged”, décimo álbum do Lambchop, chegou para confirmar minha tese. Será que existe algo mais relaxante que um disco do Lambchop? Como será que Kurt Wagner, o sujeito a frente da banda, conseguiu criar a fórmula perfeita para mesclar soul, country e pop? E como Deus deu pra ele uma voz tão magnífica? Perguntas que não sei a resposta. O que eu sei é que Lambchop não dá bola fora. É como Richard Hawley ou Jens Lekman: podem lançar o que for, sempre será de excelente qualidade. “Damaged” compila dez formidáveis canções, que transmitem conforto e serenidade, independente de onde você ouvir. A banda é de Nashville, EUA, e esse novo trabalho acabou de ir pára as lojas do Reino Unido.


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VOXTROT

Essa é a nova sensação do underground. Foram o destaque do importante festival South By Southwest, nos EUA, esse ano, e a indústria está apostando neles. Baixei o EP “Mothers, Sisters, Daughters & Wives”, e contém cinco faixas uma mais linda que a outra. Me lembra coisas anos 90 do britpop, como Marion e Cast, só que menos quadrado. Há influências anos 60, mas com elementos do rock atual. Adorei. Dá pra tocar as cinco músicas nas pistas indies desse mundo afora.

O mais legal é que eles estão vindo para Londres! Confira a turnê que farão em agosto por aqui:

Aug 12 >> Queens Of Noize @ secret venue, London
Aug 14 >> Trash @ The End, London
Aug 15 >> White Heat @ Madame JoJo's, London
Aug 16 >> Playlouder Singles Club @ The Old Blue Last, London


Ouça o Voxtrot aqui: www.myspace.com/voxtrot


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BABYSHAMBLES “Beg, Steal And Borrow”

É a nova faixa dos Babyshambles, e eu achei uma graça. “Peca esmolas, roube e empreste”. Típico Pete e seus delinqüentes. Vamos ver se ele grava mais alguma coisa em 2006.

“Beg, Steal And Borrow” é uma música de promoção. Se você comprar ingressos para o festival Get Loaded In The Park, que vai rola no domingo dia 27 de agosto, em Londres, você ganha o cd dessa faixa. Ou vá em www.myspace.com/getloadedinthepark e ouça agora.

Além dos Babyshambles, outras bandas legais vão tomar conta do palco do festival: The Pipettes, Graham Coxon, Buzzcocks, The Boy Least Likely To, British Sea Power, Lily Allen...


RECOMENDO!



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coluna 13 de julho

Pára tudo! Boletim OiLondres urgente!

CANSEI DE SER SEXY ESTOUROU AQUI NO UK!

É isso mesmo que você leu acima. Felizmente, eu estava errado nas minhas premeditações! Pelo caráter xenófobo que é a sociedade inglesa, pensei que seria meio difícil uma banda brasileira emplacar na indústria da música do Reino Unido.

Há mais ou menos dois meses atrás, Johnny Borrell disse numa entrevista à NME que até hoje, mesmo depois de ganhar o estrelato máximo, sua banda Razorlight ainda passa por racismo dentro da indústria, devido a dois integrantes suecos que o grupo possui. Mas o Cansei de Ser Sexy parece ser algo tão fresh e cool e exótico, que estão passando por cima disso.

Claro, a gravadora Sub Pop também é responsável por isso. E provavelmente o fato do CSS ter cinco garotas também ajuda. Assim é o mundo, não é? Mas o mais importante mesmo é a música. Muito provável as faixas do CSS serem idolatradas pela juventude indie britânica. Podem tranquilamente agradar fãs de bandas contemporâneas como Giant Drag, Peaches, The Pipettes, Yeah Yeah Yeahs, The Subways e Be Your Own Pet. Eu, como disse aqui na coluna em fevereiro, achei as músicas ótimas, mas faltavam um refrão estrondoso. Entretanto, encaremos a realidade, devo ser o único ser no planeta que ainda preza por um refrão potente. Devo ser um dos únicos sujeitos chatos no mundo que ainda ouve "Dare" do Human League e chora. Mas mesmo assim eu adoro o CSS.

Nesses últimos dias, o vídeo de "Let´s Make Love And Listen Death From Above" vem passando adoidado na programação da MTV2, junto com clips de bandas como The Kooks, Arctic Monkeys, The Long Blondes, The Automatic, Boy Kill Boy e Lily Allen. Veja esse link e comprove você mesmo, quem é o 'hot new one' dessa semana: http://www.mtv.co.uk/mtv2/shows/article.jhtml?articleId=30132287

Além disso, a NME está abrindo cada vez mais espaço para o CSS, com notinhas cada vez maiores em sua revista semanal, sempre com muitos elogios ao "Tired Of Being Sexy". Se uma banda já conseguiu convencer a NME e MTV2, já é 60% do caminho andado ao mainstream. Faltam as rádios. Essas são mais difíceis, mas não impossíveis.

Confesso que não entendo o critério para as rádios colocarem certas músicas na programação diária. Se vão com a cara do grupo ou se tem jabá, eu não sei e nem quero saber. Mas sei que com os programas específicos, como do Steve Lamacq na BBC, é bem fácil. Já até consigo imaginar Lamacq descendo louvações ao Cansei de Ser Sexy. Uma Xfm Session também pode rolar. Imaginem então se o John Peel estivesse vivo! Ah, o CSS com certeza seria um dos prediletos dele!

Diz pra mim, seria lindo ouvir a deliciosa Lauren Laverne, principal locutora da Xfm, dizendo "Alright Then, now it's time for the energetic & esoteric CSS, Tired of Being Sexy!!!!, with the song (whisper it) Let´s Make Love And Listen Death From Above", não seria?! Já até imagino ela falando isso em seu Breakfest Show com aquela voz doce e linda.

Se não bastasse, a melhor e mais tradicional loja de discos da Inglaterra, a Rough Trade, escolheu o cd do Cansei de Ser Sexy como "ALBUM OF THE WEEK". O disco está em destaque tanto no site on-line, como nas próprias prateleiras das lojas em Londres. Os caras, claro, estão se gabando para o CSS.

E a coisa não pára por aí. A banda está com turnê marcada para os EUA, Canadá e Europa. Esses dias uma amiga minha que trabalha na indústria da música nos EUA me mandou uma mensagem no msn. Ela perguntou "Marcio, do you know a band called Tired Of Being Sexy? They are from your city, Sao Paolo. We just received their cd and my boss is very excited!!". Falei que conhecia e perguntei se ela achava se era possível eles estourarem. Ela disse "Not sooooo huge like Franz and Strokes, buy yeah, I pretty much belive they can do something similar to Clap Your Hands Say Yeah and stuff". Vamos torcer!

Então, gente, essa coluna fala sobre Londres e suas aventuras, e parece que os paulistas Cansei de Ser Sexy estará mais presente por aqui nas próximas semanas.

CSS: eu aposto, e você?

Assiata o clip de "Let´s Make Love And Listen Death From Above"



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PETE DOHERTY no JONATHAN ROSS

Foi só eu recomendar o Jonathan Ross aqui na coluna, na semana passada, que o próprio conseguiu o que muitos tentam, mas poucos conseguem: lever Pete Doherty para uma entrevista exclusiva. Pete já há muito tempo está numa situação que mal consegue ir aos próprios shows, quanto mais participar de um bate papo na televisão em horário nobre. Por isso a surpresa.

O programa foi gravado na quarta-feita da semana passada e foi ao ar na sexta a noite. Com 20 minutos de duração, Pete, pálido como nunca, conversa honestamente sobre os Libertines, sua dependência de heroína e crack e outras coisas, além de apresentar, naquele 'jeitão' dele, a nova música de trabalho dos Babyshambles, "Beg, Steal and Borrow". Ainda, admite que seu talento para escrever músicas sofreu com seu vício.

Por mais que ele esteja se acabando com as drogas, por mais que ele tenha feito tanta besteira, e tenha sido o motivo do fim dos Libertines e da decadência dos Babyshambles, simplesmente não dá pra não se encantar com seu carisma. Veja ele falando que queria ser jogador de futebol no estilo 'socks down', fazendo a robot-dance, tirando sarro do seu implante anti-heroína e dando de presente a Jonathan um quadro tosco com a letra da música que ele tocaria naquela noite.

E o mais importante: confessando que pela primeira vez na vida está realmente tentando tratar sua dependência. Desculpa, ele pode morrer amanhã, mas Pete tem mil vezes mais carisma que Carl. Não tem jeito, carisma é algo que a pessoa ou nasce com, ou nasce sem. Mas ainda sim, acho que Pete precisa urgente de uma luz e torço para que saia de sua aguda dependência, e quem sabe, um dia possa novamente sentar junto a Carl e compor algo tão mágico como "Death On The Stairs".

Assista a entrevista em duas partes:

PARTE 1



PARTE 2



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LILY ALLEN

Só queria avisar que a dondoca inglesa Lily Allen é número 1 das paradas inglesas com o single "Smile". E pra constatar que a música ficou disponível on-line no MySpace por meses antes de ser oficialmente lançada para as lojas.

Da-lhe MySpace!

Da-lhe Lily Allen!

A moca ta bem na capa da NME dessa semana, diz aí?!

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THE PIPETTES

As Pipettes entraram nos charts britânicos em XXXX lugar com o belíssimo single "Pull Shapes". O álbum "We Are The Pipettes" será lançado na próxima segunda-feira, dia 17, e para promove-lo, a banda tocará ao vivo GRATUITAMENTE no loja de discos HMV, na Oxford Street. Imperdível, imperdível. A apresentação começa 18hs e depois disso ainda tem sessão de autógrafos. Você vai deixar passar a chance de conhecer a Rose, Riot Becki e Gwenno??? JAMAIS!!! Compareça, é evento histórico no centro de Londres. Veja na foto, elas estão sentadinhas esperando por você! ;-)

PIPETTES AO VIVO – GRATIS
DIA 17/07 – 18hs
HMV Oxford Street
LONDRES


Veja informações da turnê das Pipettes nas próximas duas semanas, aqui no Reino Unido:

www.myspace.com/thepipettes

A data de Londres é dia 29 de setembro, no Koko. Compre ingressos já!

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CAPTAIN

O quinteto londrino Captain dá continuidade na sua jornada rumo ao mainstream e lança mais um single, o terceiro, no dia 31 de julho. Com o nome de "Glorious", a faixa segue os passos dos singles anteriores, um pop meigo e aprazível, com produção esperta de Mister Trevor Horn. Enfim, o Captain será comparado para o resto de suas vidas com os lendários Prefab Sprout, dos anos 80. Das harmonias vocais aos arranjos de guitarra, tudo lembra o Prefab Sprout. Mas mesmo que sejam idênticos, o Captain faz canções adoráveis, lindas de morrer, então não me importo nem um pouquinho com a similaridade das duas bandas. Vale lembrar que o single anterior do Captain, "Broke", é uma das músicas do ano. "Glorious" não é tão linda quanto, mas chega perto.

Ouça "Glorious" aqui: www.myspace.com/captaintheband

Assista o clip de "Broke", um dos clips mais bonitos desse ano:




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RESENHAS


JAMES DEAN BRADFIELD – "The Great Western"
Juro pra você que quando fui escrever o nome do James aí em cima, escrevi Manics Street Preachers sem querer. Tive que corrigir. Juro. Mas o motivo é simples. Esse disco solo do grande James Dean Bradfield é puro Manic Street Preachers. Tá. Você não sabe quem é o sujeito e nem o que é esse tal de Manic. Ok. Manic Street Preachers é uma das mais fantásticas bandas surgidas dos anos 90 pra cá, e James Dean Bradfield é o vocalista, guitarrista e líder da gangue. E esse é seu primeiro álbum solo, depois de sete discos com os Manics. Francamente, é como se fosse o oitavo disco com sua banda oficial. Aquela voz é muito marcante, não tem jeito. A maioria das músicas segue um formato rock-pop, e se assemelham demais aos últimos trabalhos dos Manics: maturidade e talento se colidindo. As faixas são ótimas, agradáveis e repletas com a magia de James. Poucos são bons como ele. Apenas a folky "To See A Friend In Tears" é uma canção que não vejo os Manics compondo. O resto, é ouvir e correr para o abraço. Em suma, James Dean Bradfield não dá bola fora. Destaques: "Say Hello To The Pope", "An English Gentleman", "Bad Boys And Painkillers" e a balada "Still A Long Way To Go".


TV ON THE RADIO – "Return to Cookie Mountain"
Que cassetada! Rapaz, esse disco aqui é demais de bom! Coisa linda de Deus! Esses malacos de NYC surgiram com um bom LP de estréia em 2004 e, aqui nesse segundo, conseguiram se superar. A fusão de soul-music com eletrônica vanguardista, jazz e post-rock nunca foi tão infalível e irresistível como em "Return to Cookie Mountain". As guitarras estão menos tímidas e dão as faixas mais vigor e energia, ainda sim soando atmosférico. É o caso de “Playhouses”, que abre o álbum, onde parece que a banda não teve medo de assumir suas raízes rockers. Daí pra frente, o som é um emaranhado de texturas e instrumentos diversos, ora tortos ora calcados em swing, mas que sempre primam por um resultado coeso e melódico. O vocal dramático e assombroso de Tunde Adebimpe é um dos pontos altos de "Return to Cookie Mountain", que também conta com participação especial de nada mais nada menos que David Bowie em algumas partes. Bowie é fã confesso de TVOTR. É uma pena falar, mas o Radiohead, que lançou discos lindíssimos no passado, caiu nos próprios clichês nos dois últimos dois trabalhos e atualmente não chega nem perto da excelência que é o TV On The Radio. Certamente esse disco ficará no topo da minha lista de melhores do ano. Highlights:


MORNING RUNNER – "Wilderness Is Paradise Now"
Esses caras são bombardeados devido a pouca originalidade do som. As críticas mais comuns dizem que é a banda cover de b-side do Coldplay. Calma lá, pessoal, não precisa humilhar. Não é bem assim. Claro que originalidade não é algo pelo qual o Morning Runner ficará famoso, mas o grupo tem lá suas musicas bonitinhas. Tem sim. Quer que eu cite exemplos? Então vai: "Punching Walls", "It's Not Like Everyone's My Friend", "Gone Up In Flames" e "Oceans", pra citar apenas quarto. Hoje em dia tudo é derivativo na música, e se você prezar apenas pela originalidade, vai escutar pouca coisa feita nos últimos 15 anos. O critério pra mim é assim: a banda possui faixas boas ou não? Na minha opinião, o Morning Runner possui. O resto é conversa fiada. Esse álbum de estréia contém onze trilhas e a sonoridade é um indie-rock regado com baladas e climas dramáticos, e, além de Coldplay, remetem muito ao James e ao Stereophonics do comecinho.



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