Thursday, February 10, 2005

 

coluna 08 de fevereiro

The Future Starts Here!

Uma das coisas que mais me deixa feliz é música. Não vivo um dia sequer sem ouvir uma boa melodia. Mas o que me deixa ainda mais excitado é a nova música. A sensação da descoberta de uma boa nova canção é inexplicável. É tao bom quanto um orgasmo. Fico até arrepiado enquanto escrevo esse texto só de pensar nessas boas novas melodias. É o mesmo arrepio que senti quando escutei pela primeira vez 'life-changing songs' como "Mr. Brightside" dos The Killers, "The Lovers" dos The Tears ou "Fuck Forever" dos Babyshambles. Em cada um dos três exemplos citados acima, minha vida definitivamente mudou. Elas não existiam para mim e em míseros três minutos passaram a fazer parte da minha vida e agora me acompanharão para o resto dos meus dias. Uma vez John Peel falou que cada nova demo que recebia, ele colocava para escutar com carinho e esperança de encontrar uma nova "Teenage Kicks". Comigo não é diferente.

O passado é bom e eu gosto, mas não dá pra ficar vivendo dele pra sempre. Por isso, em prol do futuro da música, nessa segunda edição de Children Of The Revolution comento sobre algumas bandas que farão o ano de 2005 mais legal. Para os que já conhecem essas bandas, I salute you . Para os que não conhecem, eu invejo-lhes pelo sabor da descoberta. Enjoy.

The Tears
A Tearful Renaissance

"Nunca tivemos dúvidas sobre Brett Anderson a cerca de seu talento como cantor e frontman, porém tivemos algumas a cerca de suas composições e letras. Nunca tivemos dúvidas sobre Bernard Butler a cerca de seu talento como compositor e guitarrista, porém tivemos algumas a cerca de ser um cantor e frontman. Por isso, Brett Anderson e Bernard Butler foram feitos um para o outro." Simon Price, dezembro de 2004.

Existem certas coisas no mundo que jamais serão mudadas. A cor dos nossos olhos ou o tipo do nosso sangue são exemplos disso. E a combinacão da guitarra de Bernard Butler com a voz de Brett Anderson é um outro exemplo. A beleza será sempre a mesma, indiscutivelmente. Quando Brett Anderson terminou temporariamente com o Suede no final de 2003 e foi atrás do seu ‘demo', tinha certeza de que era de Butler que ele estava se referindo. E o que aconteceu foi que Brett terminou com o Suede e formou o The Tears com Bernard, e o resultado é que as cancões do The Tears estão entre as melhores canções do Suede. O delicioso sabor não mudou com esses dez anos de ‘gap'. Em dezembro do ano passado, os The Tears deram dois shows na Inglaterra para teste das ‘brand new songs', o primeiro na cidade de Oxford, na casa de shows Zodiac (a foto acima é desse show) e o segundo na boate gay Heaven, em Londres. Obviamente compareci aos dois shows e testemunhei que, das doze músicas apresentadas, eu diria que dez possuem potencial para serem singles. I'm not joking. Os shows foram ‘hits after hits'. Faixas como ‘The Lovers' ou ‘Refugees' nos remetem aos melhores momentos de ‘New Generation' ou ‘The Wild Ones' e as lindíssimas baladas ‘A Love As Strong As Dead' e ‘Apollo 13' conseguem tirar nossa respiracão do mesmo jeito que ‘The 2 of Us' e ‘Sleeping Pills'. Infelizmente, até o momento nada foi lançado e nenhuma música vazou na internet. A nova banda, que conta com o baixista Nathan Fisher e o baterista Mako Sakamoto, promete lançar “Refugees” como single em abril. Os fãs do Suede estão em ferveção. A ansiedade está nas nuvens. No entanto, a grande mídia parece não estar nem aí com a volta de Brett & Butler , pois pouca coisa foi dita sobre os The Tears. Mas sinceramente, isso pouco me importa. O que importa é que toda vez que ouço a absurda ‘The Lovers' (sim, comprei um bootleg-dvd do show de Londres em Camden Town – onde mais? - e não paro de assistir) sou injetado por um enorme otimismo não só para com o futuro da banda, mas com a minha vida também, de tão bela que a música é. Deus, que canção!! ‘We are the Lovers, we're the lovers, two different colours… la la la la….'. Ok, sou suspeito pra falar, eu sei. Se isso soa como um fã, é porque de fato eu sou um puta fã de Brett & Cia, e com devoção. Mal posso esperar pelo álbum.

************************

Babyshambles
What a Shambles!

Escrever sobre Peter Doherty está cada vez mais difícil, já que o cara não pára um minuto e qualquer coisa sólida que possamos dizer sobre ele pode deixar de existir a qualquer momento. Tudo referente a vida de Doherty pode desabar de um minuto para outro. Fato: os Libertines não tiveram culhão para enfrentar os problemas de Pete e os tiraram da banda. Pete formou os Babyshambles e desde então compôs uma dúzia de músicas clássicas, tão boas quanto as do Libertines e lançou dois singles apenas. Os Libertines sem o Pete acabaram.

Os Babyshambles estão em turnê desde Julho de 2004 (essa foto foi de um concerto que fui em agosto, no club Frog, centro de Londres) e os shows (ou os não shows) são tão espetaculares quanto os do Libertines. O caos é o mesmo. Quando Pete aparece para cantar, o que vemos é uma ótima banda a ponto de dominar o mundo a qualquer momento. Músicas como ‘Fuck Forever' (minha preferida), ‘The Man Who Came To Stay', ‘Killamangiro', ‘Babyshambles', ‘What Katie Did' ou ‘Wolfman' fazem do lugar uma completa histeria quando são tocadas ao vivo. Mas como disse, Pete não é fácil. Quando ele não consegue levantar da cadeira de tão chapado e não comparece nos shows marcados, seus fãs fazem uma riot e quebram tudo no palco. O império novamente implode chão abaixo.

Tive a chance de conhecê-lo pessoalmente e vi de fato que o buraco é muito mais embaixo do que eu imaginava. Ele se tornou um viciado em heroína e crack dos mais apetitosos, um junkie de rua, helpless. Pete está na Arcadia e pelo que parece não voltará tão cedo. Ele tem 25 anos e fala meio que igual ao Ozzy Osbourne hoje em dia. O problema do crack e heroína é grave. Quem viu entrevistas do Pete em 2002 e agora o assistiu no programa Newsnight recentemente, comprovou o quao diferente ele está. Ele era articulado, ativo e engracado. Agora ele está pálido, devagar, pensativo, spaced. É irônico quando eu falo ‘helpless' sobre o Pete, pois muita gente ao seu redor está tentando ajudá-lo, mas ele dispensa qualquer ajuda. Disse várias vezes que quer empurrar seu corpo e alma o mais fundo possível nas drogas para ver até onde ele consegue ir. Quando o conheci, apertei sua mão e fiquei com nojo. Sua mão áspera tinha traços de sangue pisado e suas unhas estavam pretas, não de esmalte, mas de sujeira. WHAT A WASTER! Mas Pete com mãos sujas ou não, ainda consegue ficar com a Kate Moss a ponto dos dois fazerem uma tatuagem com as iniciais um do outro. K no Pete e P na Kate. Pelo menos isso é o que os tablóides dizem. Na semana seguinte ao assumirem o affair, mais precisamente segunda feira dia 31, enquanto Kate lançava sua marca de perfume em Paris , Pete dava um show no Garage em Londres, a quinze minutos da minha casa. O show foi uma mess. Caótico, mal tocado, tosco, sensacional. Garotos e garotas subiam no palco a todo instante para agarrar e beijar Pete e depois voar de volta ao público. Pete não deixava barato e a cada música iniciada dava um mosh na platéia, para desespero dos seguranças que tinham que colocá-lo de volta ao palco. Dois dias depois da apresentação, dia 02, Pete vai preso, acusado de agressão e roubo. Saiu na capa de todos os tablóides na Inglaterra. O que aconteceu é que Pete foi atrás de um film-maker que vendeu fotografias suas usando heroína para os tablóides e, enfurecido, espancou o cara e ainda roubou os cartões de crédito do sujeito. Foi preso no ato e só agora pouco, enquanto escrevo essas linhas, terça-feira dia 08, é que Pete foi solto da cadeia onde estava há seis dias, aqui perto da minha casa, no norte de Londres, na prisão tough de Pentonville, após pagamento de 150 mil libras de fiança, dinheiro cedido parte por sua gravadora, parte por Kate Moss.
Pete está solto mas o futuro é mais do que imprevisível. Ele ainda está sob custódia da polícia, tendo que dormir todos os dias em seu endereço e não ficar fora de casa depois da 22hs e antes das 7hs. Fora isso, quando sair durante o dia, tem que ser acompanhado de um agente da polícia. Dizem que Pete saindo da prisão vai direto para um centro de reabilitação contra drogas, pela quarta vez em sua vida, onde vai tomar o forte remédio Naltrexone, que bloqueia o efeito do ópio (heroína), significando que o corpo de Pete não sentirá falta da droga enquanto estiver sob os efeitos do remédio. Ainda, Pete não está totalmente livre da lei, pois enfrenta uma court no dia 21 de fevereiro para o juiz provar se ele é culpado ou inocente no caso da agressão. E isso ocorre apenas UM dia antes de seu grande show do Brixton Academy, marcado para dia 22 desse mês.

Se tudo der certo, para o bem do rock, os Babyshambles podem enfim gravar suas tão sinceras canções e aparecer no Brixton Academy e se consagrar ou a banda pode muito bem acabar antes disso, se Pete for considerado culpado pelo juiz. Vou além, na verdade, não existe consagração na vida de Pete. Os Babyshambles jamais serão garotos bem comportados como o Franz Ferdinand. Mesmo se os Babyshambles triunfarem no Brixton Academy e conseguirem o mesmo status dos Franz, Pete vai destruir esse status. Ele já disse em diversas entrevistas que é auto-destrutivo com tudo na sua vida, da relação com sua família e amigos de infância, com relacionamentos com garotas e, claro, até mesmo com suas bandas. Ele sempre destroí tudo de bom que tem em sua vida e é o primeiro a admitir isso.

O que me deixa mais excitado é que, se os Babyshambles triunfarem ou não, estou vivenciando tudo isso e os tão lindos shows que vi até agora (seis no total) jamais sairão da minha memória. É como ver os Smiths em 84 ou o Suede em 93. Pete está no auge e estou testemunhando tudo. Tomara muito que ele se livre de mais essa.

A NME dessa semana tem um pequeno artigo sobre a música "Fuck Forever", descrevendo-a como 'brutal majesty' e dizendo que é um dos maiores clássicos do rock de todos os tempos, comparando sua força com "Smells Like Teen Spirit" e "(I Can't Get No) Satisfaction". Diz que a canção é o 'Pete Doherty's greatest musical archivement to date' e fala da ameaça da música ser um 'lost classic', pois nunca foi gravada e 'god only knows' o que vai acontecer na vida de Pete nos próximos dias. Enquanto escrevo esse texto, só tenho um refrão gritando no meu ouvido: AAHHHHH, FUCK FOREVER, IF YOU DON'T MIND!!!


************************

The Pipettes
Cute girls of the world, unite!

Meu Deus, porque o mundo tem tamanho mal gosto para música? Por que as paradas de sucesso são inundadas por lixos como Britney Spears e não pelas sensacionais The Pipettes?? Sim, são as Pipettes que merecem vender milhões de discos pelo mundo afora, e não essa porra badly-over-produced da Britney Spears ou a merda do U2. As The Pipettes (três LINDAS garotas de vestidos de bolinhas + uma banda de apoio) fazem músicas tão pegajosas e fáceis e fantásticas e felizes e soulful e engraçadas que eu simplesmente não entendo por que diabos elas não dominaram o mundo ainda. Pense nas Shangri-Las versão garage-indie-pop-2005. Os shows são maravilhosos, com as três raparigas à frente cantando, harmonisando e fazendo coreografias bem sacadas (e um tanto geek…) que é impossível não se apaixonar. O grupo vem de Brighton, sul da Inglaterra, e é bem possível que a grande mídia rejeite-os para todo e sempre. Mas é por isso que estou aqui, prezado leitor, para lhe dizer o que não sai na grande mídia. Visite o site das meninas (http://www.thepipettes.co.uk/), ouça as músicas, veja as fotos e se apaixone você também. Devem lançar algo em breve.


************************

Bloc Party
Just another art-rock band, but we love it!

O quarteto multi-racial Bloc Party tem tudo para trilhar o mesmo caminho do Franz Ferdinand. Não que o som das duas bandas sejam completamente iguais, afinal o Bloc Party resgata referências fora do ciclo 'another-band-who-loves-gang-of-four-and-talking-heads'. O que quero dizer é que o Bloc Party, do leste de Londres, vai fazer em 2005 extamente o que o Franz fez em 2004: lançar um disco no começo de ano, fazer todo o ciclo de promoção do jeito certo, se comportar direitinho, dar milhares de entrevistas, sair em capas de revistas, fazer shows pelo mundo todo, tentar ser famoso nos EUA, ganhar prêmios, promover, tocar em todos os festivais do planeta, promover mais um pouquinho e depois no final do ano tirar férias e voltar para a saga do segundo álbum no começo de 2006. Tudo muito previsível o status que o Bloc Party vai ter. O som? Um ótimo rock'n'roll cheio de guitarras mais do que sedutoras e pitadas de Clash, Cure, Suede, Pil e Futureheads. Fora que o vocal de Kele Okereke é um dos mais bonitos da música atual. O álbum “Silent Alarm” acabou de ser lançado, com destaque para as ótimas faixas “Banquet” e “Helicopter”. 2005 é definitivamente o ano desses rapazes.

************************

The Subways
Grunge in Style!

Os Subways são três jovens de Londres que mandaram uma demo para Michael Eavis, o chefão do Glastonbury , e viram sua vida mudar após isso. Vi os meninos abrindo para os The Tears em dezembro e fiquei impressionado com o potencial deles. O som tem um puta punch firme e pontente, ao mesmo tempo melódico, e o vocalista possui uma voz marcante. Nem parece que eles ainda nem chegaram nos 20… Os Subways ao vivo lhe dá dois soco na barriga, com a mão esquerda é o The Coral e com a direita é Nirvana. Fiquem de olho, pois devem lançar um single em breve. Ainda, a baixista Charlotte será uma das indie-queens de 2005. E pelo que sei, Subways e os heróis-sorocabanos Wry têm conecções.


************************

The Best Of The Rest

Abaixo tem mais nomes de ótimos grupos que merecem uma orelhada, com destaque para o duo Johnny Boy. Vou dizer o nome deles e uma expressão em seguida para descrever o que é. Kaiser Chiefs (art-rock 1)
Black Wire (art-rock 2)
The Rakes (art-rock 3)
Wry (punk-shoegazers) - esses muita gente já conhece, são heróis!
The Bravery (synth rock)
The Magic Numbers (magia folk)
Hal (folk-pop)
Johnny Boy (soul rock)
The Features (rock'n'roll)
The Dead 60s (ska rock)
Thee Unstrung (indie-garage)
The Departure (Joy Division-esque)
Performance (synth pop)
Six Organs Of Admittance (folk)
The Last Town Chorus (etereo pop)
The Silent League (melancholic pop)
Yeti (avant-rock)
The Boy Least Likely To (indie pop B&S-esque)
Hard-Fi (electro-rock Clash-esque)
The Mystery Jets (prog-folk)

Na próxima coluna comentarei o retorno do Idlewild + Embrace e Rilo Kiley e solto os rumores para os festivais de verão por aqui na Inglaterra. Até lá!

Comments: Post a Comment

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?