Thursday, May 26, 2005

 

coluna 19 de maio

Ufa. Dias mais calmos por aqui. Pra você ver, estou até me dando ao luxo de escrever a coluna sob a luz do dia. De vez enquando é bom, né?

Às vezes vocês podem achar que eu falo bem de tantas bandas e nem todas elas são boas. Aquela coisa ‘muita quantidade e pouca qualidade'. Mas não é isso não! É que definitivamente tem muita coisa boa por aí.

É muita quantidade e muita qualidade, sim. Desculpem a franqueza.
Por exemplo, semana passada falei que a perfeição absoluta do pop eram os The Magic Numbers e The Pipettes. Ainda são. Mas essa semana entra mais uma banda para essa categoria. É o trio The Cribs, que ano passado lançou um dos discos mais legais de indie-rock e esse ano vem com um novo lp.

Ainda, comento o show dos Engineers aqui em Londres e outras coisas. Chega mais.


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>>> THE CRIBS: O MAINSTREAM VOS ESPERAM


Sucesso. Eles nem estavam querendo muito. Fama definitivamente era algo que nem pensavam quando formaram a banda. Gravaram o primeiro disco apenas em uma semana, de forma lo-fi e tosca. Mas com energia de sobra. Estavam mais interessados na diversão e em tudo mais de bom que o rock'n'roll lifestyle pode oferecer. Mas já era. It's over. Com o segundo disco, muito provavelmente o The Cribs vai sair da obscuridade.

O The Cribs é um trio originário de Leeds, norte da Inglaterra. Fazem um rock simples e honesto, jorrando vigor juvenil para todos os lados. Você ouve a banda e logo percebe que são moleques tocando. Moleques inspirados, diga-se de passagem. Isso é tudo que uma banda de rock deve soar. Simples e inspirada.

O primeiro disco, entitulado apenas ‘The Cribs', de 2004, teve uma gravação simplória e, somando ao fato da mídia nacional estar mais interessada em lixos como Kasabian e The Others, não deu em nada. Quer dizer, deu sim, pra mim e para os poucos que ouviram. Foi um dos melhores discos de rock lançados em 2004. Mas, como disse, pouca gente soube deles.

Agora dia 30 de maio será lançado o segundo álbum, com o nome de ‘The New Fellas'. Ouvi duas músicas e, desculpem a empolgação, são as melhores que fizeram até agora. Produzido por Edwin Collins, o disco promete fazer do The Cribs a nova sensação do rock aqui na Inglaterra. Finalmente a mídia nacional está dando ouvidos para a banda. A revista rock'n'roll Artrocker deu matéria de capa para eles, e não economizou nos elogios. Disse que estão mais do que predestinados para o sucesso.

O single ‘Hey Scenesters' é um rock firme e ganchudo, que te pega pelo pescoço e não te deixa escapar. Que refrão, Deus. Que refrão. Minha vontade é ficar batendo minha cabeça na parede quando ouço essa música. ‘The Wrong Way To Be', começa com um clima não muito promissor, mas depois se transforma em algo lindo e pegajoso e que se não te contagiar, é porque você já está morto.

Talvez eu e os críticos que apostam no sucesso do The Cribs estejamos enganados. Podem novamente não dar em nada. Mas o que interessa aqui é: famosos ou não, o The Cribs não vai deixar de ser o que é, ou seja, uma ótima banda de rock. E assim que deveriam ser todas elas.

The Cribs toca em Londres no dia 9 de junho no The Garage. Compre ingressos aqui: www.meanfiddler.com

www.thecribs.com/

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>>> BABYSHAMBLES ESTÁ PERTO DE COMPLETAR O DEBUT ÁLBUM

Pois é, parece que as coisas se acalmaram para o lado do crazy-boy Pete Doherty. Os Babyshambles iniciaram as gravacões do tão aguardado disco de estréia no mês passado no País de Gales e a banda já está próxima de terminar o trabalho.

Segundo a banda disse à NME, o disco será clássico. O baterista Adam Ficek contou que ‘o som é simples, honesto e sincero, e que o jeito que o produtor ex-Clash Mick Jones trabalha espelha isso. Não há overdubs e edições. É simplesmente o som de uma banda tocando num quarto fechado, cru e direto'.

O grupo gravou 30 músicas e daí vão escolher as que realmente entrarão no disco e as que serão b-sides. A rotina no estúdio era mais ou menos de oito horas de trabalho por dia, com uma dieta de The Kinks, Sex Pistols e ‘old jazz and ska' tocando ao fundo.

A favorita ‘Fuck Forever' será o próximo single, que provavelmente estará nas lojas em julho. O álbum deve ser lançado logo depois, mas ainda não há uma data definida.

O batera ainda afirmou que, ao contrário do que os tabloides disseram, a atmosfera nas gravações está super friendly e positiva, sem nenhum tensão e todos trabalhando juntos e curtindo.

A banda está muito confiante no disco e acha que os fãs dos Babyshambles ficarão felizes com o resultado. A pressão para esse disco está nas alturas mas mesmo assim acham que vão calar qualquer dúvida a cerca do álbum. Eu acredito.

A foto lá em cima é da banda no estúdio no País de Gales.

Junto com The Tears e The Magic Numbers, provavelmente esse será um dos discos do ano.

Mais notícias sobre os ‘Shambles em breve aqui nesse espaço.

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>>>ENGINEERS
Ao vivo no ICA, Londres, 14/05

Tenho uma história engraçada sobre o Engineers. Uma amiga minha conhece o vocalista Simon e um belo dia estava afim de ficar com ele. Pretendia levá-lo para sair e não sabia onde. Queria algo fora da cena rock.

Aí ela me ligou e falei que discotecaria numa festa de música brasileira, samba-rock e afins. Ela não pensou duas vezes, chamou-o para ir à tal festa. O cara respondeu, num tom sério, ‘beleza, mas não vou me fantasiar, ok?'. Hehe… Pra você sentir quão distante ele está da nossa cultura. Achar que tem que ir fantasiado numa festa de samba-rock. Bem, de fato ele é de uma cultura totalmente diferente. Apesar de serem de Manchester, os Engineers não têm swing nem batidas dançantes. Manchester, famosa pelo agito, ainda sim é cinzenta e chuvosa. Fazem um som dreamy, devagar e etéreo. Bem distante do samba.

O ICA não estava cheio. Apesar de sempre serem tocados na rádio Xfm, os Engineers não são tão conhecidos assim. A banda de abertura é um tal de Babel, que nunca tinha ouvido falar. Com uma sonoridade folk-rock-folclórico, eles não desapontaram. Juntos, os dois violões, cello e violino, davam às canções uma certa riqueza musical. O show é curto. Meia hora.

Após um rápido intervalo, os Engineers ocupam o palco. Logo começam a derramar o som dreamy e melancólico. Há pouca luz. A banda, que recentemente lançou um ep e um debute álbum, foi incluída no movimento Nu-Gazer, composto por bandas que resgatam a sonoridade shoegazer do comecinho dos anos 90. Eu nunca achei que os Engineers tinham muito a ver com shoegazer, pelo menos em disco. Mas ao vivo eles são diferentes.

Enquanto no álbum a roupagem eletrônica está tão destacada quanto as guitarras, soando como um elo entre Air, Pink Floyd e Slowdive, ao vivo, são as guitarras altas e barulhentas que mandam. Muito mais orgânico do que em estúdio. O que é ótimo. Para provar isso que estou falando, era só dar uma olhada na coleção de pedais que dispunham no palco. Mal podiam andar.

São formados por cinco músicos. Baterista, baixista, tecladista e dois guitarristas. Simon, o da história lá em cima, toca guitarra e canta. Seus vocais tristes são propositalmente tão baixos que mal o escutávamos durante as canções. A muralha de guitarras emcobria quase tudo, o que é característico numa banda shoegazer. Outro ponto marcante em bandas shoegazer é o volume do som, absurdamente alto. Os Engineers sabiam disso e colocoram o volume no talo. Dava a impressão que meus ouvidos iam apitar incansavelmente por duas semanas depois disso.

As músicas dos Engineers são, como disse, brilhantemente melancólicas e delicadas. Típicas para um dia chuvoso. O debute álbum, chamado apenas ‘Engineers', foi tocado praticamente por inteiro. O público presente estava super satisfeito, aplaudindo firmemente em cada intervalo. O show não se estendeu por muito tempo e não teve bis. Era sábado à noite mas ao invés de sair dali e ir para uma balada qualquer, fui para casa anteceder meu domingo e ouvir Engineers.

www.engineersweb.net/

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>>>Duas semanas atrás publiquei aqui uma lista com as baladas semanais mais legais de Londres. Dessa vez faço uma lista com algumas festas que são mais esporádicas, basicamente uma vez por mês, mas tão divertidas quanto as semanais. Ainda publico alguns flyers das festas. Confira.

ROCK'N'ROLL SOUL
A famosa Rock'n'Roll Soul acontece uma vez por mês no The Albany. A discotecagem é excelente, misturando com classe rock'n'roll e soul music. Algumas celebridades do rock já passaram por lá, como é o caso de Arthur Lee, do Love, Noel Gallagher, os caras do Soledad Brothers, Jet, Kings Of Leon e Warlocks. Realmente vale uma conferida.
http://members.lycos.co.uk/rockandrollsoul/

SONIC CATHEDRAL
Quem gosta de venerar os deuses shoegazers, esse é o lugar ideal. A discotecagem é só shoegazer. Nada mais. Muita fumaça, quase nenhuma luz, som no talo e uma parede de guitarras ensurdecedoras. Essa é a única Cathedral no mundo onde você pode cultuar os deuses shoegazers. Acontece uma vez a cada dois meses, acho.
http://soniccathedral.proboards31.com/index.cgi

STAY BEAUTIFUL
Tradicional clube organizado pelo lendário jornalista Simon Price. A discotecagem é pura diversão. Simon Price gosta de tudo que espalhafatoso, exagerado e que tem glitter, então a discotecagem é isso: glam, sleazy rock, 80's decadence e afins. Dançar na pista do Stay Beautiful é tão bom, que faz até uma banda como Do Me Bad Things soar legal. Tudo nessa festa é ‘over the top'. Os seres mais glam da face da terra estão aqui.
www.staybeautifulclub.co.uk/

HOW DOES IT FEEL TO BE LOVED
Comandada por Ian Watson, não existe festa mais fofa que essa. Se existe um clube onde nunca vai dar brigas e coisas do gênero, é esse. Por que?? Bom, eles tem uma política para a discotecagem. Veja:

No punk
No rock
No metal
No garage rock
No grunge
No britpop
No american college rock/indie rock
No contemporary haircut indie
No dance music
No hip hop
No shoegazing

O que se traduz para:

Indie pop
Tamla motown
Northern soul
French pop
Girl groups
Sixties heartbreak

Entendeu? O discotecagem mais fofa do mundo, com as pessoas mais fofas do mundo. Como não achei flyer da festa on-line, a foto aí em cima é da Tammi Terrell, diva soul adorada pelos organizadores da festa. Sempre rola djs convidados de preza. Já passaram por lá Everett True, Norman Blake, Dan Treacy, Amelia Fletcher, Stuart Murdoch e muitos outros. Acontece duas vezes por mês.
www.howdoesitfeel.co.uk/

CRIMES AGAINST POP
Essa festa é agitada pelo coletivo Strange Fruit. A discotecagem é mais eclética, tocando de tudo um pouco. Veja o manifesto que eles escreveram: ‘The only thing we ask is that you leave your musical prejudices at the door. Music is valid in all its forms and musical genres link together in ways you cannot imagine. Indie, pop, blues, folk, anti-folk, country, r'n'b and so on: all have their qualities. By keeping an open mind you can discover music that you never expected makes your heart soar'. Rola uma vez por mês e os djs variam.
www.strange-fruit.co.uk/pop/

CLUB BOHEMIA
O Club Bohemia é organizado pelo pessoal do site Glamourama e é semelhante ao clube Stay Beautiful, com excessão é que são mais underground. Artistas obscuros de cabaret e leituras de obras do Oscar Wilde sempre estão presentes. Segundo os próprios organizadores, o que eles tocam variam de avant-garde glam, rock and cabaret decadence. O público é uma ‘montação' só.
www.glam-ou-rama.co.uk


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>>>MEMBROS DO SUEDE SE ESPALHAM EM VARIADOS GRUPOS

Pois é, com o final do Suede cada integrante da banda foi tomar seu caminho. Todos continuaram a ser músicos. Quer dizer, todos menos o guitarrista Richard Oakes.

Brett Anderson formou o The Tears com Bernard Butler. Matt Osman toca numa banda chamada Mista Brown, aqui de Londres. Simon Gilbert se mudou para a Tailândia e formou uma banda por lá com o nome Futon. E Neil Codling foca com a cantora Pearl. Só o Richard que não faz nada relacionado com música, pelo menos por enquanto. O que será que ele está fazendo?

www.suede.net

www.thetears.org/


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BURN IT: guia de faixa espertas para fazer download

CUT COPY “Saturdays”: Se você gosta de um electro-disco sexy e swingado, essa é a pedida certa. O Cut Copy são australianos e ‘Saturdays' é do primeiro álbum deles, primeiramente lançado em 2004 na Austrália, mas somente agora está tendo a edição britânica. Remete-nos a Tiga, New Order e Pet Shop Boys.

EELS “Hey Man (Now You're Really Living)”: Esse é o primeiro single a ser tirado do último álbum do Eels. Uma jóia up-beat, com refrão lindo, cheio de lalala's. Ainda tem o saxofone no meio, adicionando ainda mais charme. Uma beleza de música. Muito bacana.

HOT HOT HEAT “Goodnight Goodnight”: O Hot Hot Heat está de volta e esse é o primero single do novo álbum. A energia está a mesma, um pouquinho só menos inspirado que o primeiro disco, mas ainda sim muito bacana. Uma das melhores bandas new-wave da atualidade.

BOY KILL BOY “Suzie”: Mais uma aposta do tradicional selo de North London Fierce Panda. O Boy Kill Boy é uma nova banda de Londres e a música “Suzie” é um rock-pop de primeira, melódico, soando como The Jam, um pouquinho mais pop. Ótimo. Esse é o primeiro single da banda. Estão em turnê com a NME em maio aqui na Inglaterra.

HELEN LOVE “Debbie Loves Joey”: O Helen Love volta em 2005 com o ep “The Bubblegum Killers”, com quarto faixas matadoras. “Debbie Loves Joey” é a melhor, puro joyful-bubblegum-killer-pop. Um chiclete pop, que você não consegue parar de mastigar. O ep só foi lançado em 7” vinyl cor-de-rosa. Fofo.

THE FEATURES “Situation Gone Bad”: Os americanos The Features lançaram um dos discos de rock mais legal do ano, chamado “Exhibit A”. Quatorze torpedos de preza. Uma fusão bacana de 70's rock, Undertones e Weezer. A faixa número dez do cd é “Situation Gone Bad”, um primor de rock, com apelo pop e bem melódico. Gosto muito dessa banda. Ainda falarei mais deles por aqui.

THE PIPETTES “It Hurts To See You Dance So Well”: Wow. As Pipettes mais uma vez aqui na coluna. Já disse e repito: essa banda é a salvação do pop. 60's girl-group feito em 2005. Sensibilidade pop, carisma e humor até não poder mais. Essa música, de apenas um minuto, é a prova. Meu irmão, uma das pessoas que melhor escreve sobre música que eu conheço, não consegue escrever nada sobre as Pipettes. Ele me falou, com lágrimas nos olhos, após um show delas: ‘Fico sem palavras com essa banda'. Pois é. Pipettes é tudo que você precisa em 2005.

MYLO “In My Arms”: Single tirado do álbum matador do Mylo ‘Destroy Rock'n'Roll'. Tem samples da Kim Carnes e é um clássico pop instantâneo. Quem não gosta de Mylo, boa pessoa não é. A capa desse single é uma das mais bonitas do ano.




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