Saturday, July 23, 2005

 

coluna 15 de julho

Bombas em Londres! Como já diria o famoso slogan: 'London's burning!'. Eu já comprei minha bicicleta e agora não dependo mais de transporte público. E você? Até porque os ônibus aqui são irritantemente LERDOS e o metrô irritantemente CHEIO.

Mas Londres continua. E a coluna também. Na edição de hoje, dou continuidade na lista dos discos mais legais lançados esse ano. Soulseek neles! Mais abaixo tem os álbums que já comentei aqui, e que você pode encontrar nas edições anteriores da coluna. Have fun!


THE TEARS | "HERE COME THE TEARS" | (Independiente)


Depois de onze anos de espera, finalmente foi lançada a continuação de Dog Man Star. Porque ouvindo esse novo trabalho de Brett Anderson e Bernard Butler, reconciliados após uma década, não consigo imaginar outra coisa. É claro que em 2005 Anderson e Butler não causam tanto furor como em 1995, pois os tempos são outros e agora lideram não mais uma chart-band, mas sim uma cult-band. A sonoridade é bem similar ao som do Suede, pois é claro, Brett Anderson tem uma voz tão marcante que qualquer coisa que ele faça, será parecido com Suede.

Alguns dizem que eles deveriam ter mudado um pouco o som, mas eu acho que não. Esse é o som deles e acho que ambos têm que persistir nisso - sem chances de lançarem um trabalho disco-funk-metal-goth só para soarem diferentes. The Tears é uma banda pop, e 'Here Come The Tears' nos reserva treze gemas pop, divididas entre hits de apelo radiofônico ('Lovers', 'Autograph' e 'Refugees') e baladas melodramáticas ('A Love As Strong As Death', 'Apollo 13' e 'The Ghost Of You'). As letras continuam com a característica de Brett Anderson, abordando histórias amorosas sobre deliquentes refugiados que dormem na sarjeta mas enxergam as estrelas. As linhas de guitarras de Bernard Butler, comoventes como é o seu estilo, foram tudo que a voz de Brett precisou para voltar a boa forma.

A produção do disco ficou por conta de Butler, que novamente abusou do seu hábito 'phil spector', com orquestras e climas grandiosos, assim como fez anteriormente no seus discos solo e na sua colaboração com David McAlmont. Para os que já conheciam Suede, 'Here Come The Tears' não traz nenhuma novidade. Para os fãs, foi um gracioso presente. Para aqueles com menos de 20 anos, ligados em grupos como Libertines e Franz Ferdinand, 'Here Come The Tears' pode ser uma introdução para o trabalho de Brett Anderson e Bernard Butler, tão boa quanto o primeiro disco do Suede. Vamos torcer para The Tears ter longa vida.


THE MAGIC NUMBERS | "THE MAGIC NUMBERS" | (Heavenly)

O que mais me fascina nos The Magic Numbers é o jeito que eles fazem as harmonias de voz entre as garotas e o vocalista Romeo. Será que é mágica ou esforço? Ouça hinos como 'Love Me Like You' ou 'Forever Lost' e tente você descobrir. A banda vem da zona oeste de Londres, passando por Nova Iorque e Tinidad, e é formada por irmãos.

O vocalista e guitarrista Romeu e a baixista Michelle vem da família Stodart. O baterista Sean e segunda vocalista, Angela, que também toca melódica e percussão, são da família Gannon. E essa intimidade entre os integrantes está clara na sonoridade das canções, que são sensíveis, intimistas e super harmoniosas, como em 'I See You, You See Me', um dueto entre Romeo e Angela, e possivelmente a faixa mais bonita do álbum.

O disco tem passagens power-pop, west-coast e as vezes alt.country. O quarteto ganhou o prêmio de banda revelação pela revista Mojo. A mídia gosta tanto deles que já os proclamaram como a versão indie dos The Mamas & The Papas. De fato, esse é realmente um dos melhores lançamentos do ano.


ARCHITECTURE IN HELSINKI | "IN CASE WE DIE" | (Bar / None)

Confesso que é difícil achar bandas com um pingo de originalidade em pleno 2005, pois praticamente tudo é derivativo de alguma coisa. Mas tem as que são derivativas e são legais, como é o caso do The Features, e as que são derivativas e são chatas, como o medíocre Kasabian. Porém, se fuçarmos bem no universo mágico da música pop, sempre encontramos aquelas que são bacanas, e com o maior trunfo de nos cativar com a sensação de frescor. The Go! Team é uma delas. E o Architecture In Helsink, direto da Austrália, é outra. No início não vem nenhum outro grupo a cabeça quando ouvimos a banda, somente temos a sensação prazeirosa de curtir uma bom refrão pop. Eu classificaria o som deles como 'música para parques de diversão'. Não sei quanto a você, leitor, mas fico com uma vontade enorme de comer chocolates coloridos M&Ms e fazer guerrinha com eles quando escuto AIH. Provavelmente isso acontece porque o som deles é ingenuamente maduro. Deliciosamente doce.

E alegre. Tem uma menina e um menino que dividem os vocais. As vezes eles gritam, as vezes dão risadas. Há orquestras, mas nada muito carregado. Pelo contrário, alegre, livre e solto. Li não sei onde que a banda, que conta com oito membros, usou trinta instrumentos diferentes na gravação do disco. Consigo identificar pianos, cello, guitarras, palmas, sintetizadores, harpas, trombone e algumas percussões. Acho que o resto deve ser brinquedos de crianças. Se eu destacasse alguma faixa, estaria sendo injusto com o restante do álbum. Todas as músicas têm a sua qualidade singular.

Só depois de algumas atentas audições, decifro uma pitada de Would Be Goods, banda clássica dos anos 80 da gravadora El Records, na sonoridade deles. Isso é o que mais aprecio no Architecture In Helsink, depois das agradáveis melodias pop: não escancaram suas referências logo de cara.


MAXIMO PARK | "A CERTAIN TRIGGER" | (Warp)

Quando esse quinteto surgiu no começo desse ano, fiquei meio desconfiado, afinal diziam que era mais uma banda pós-punk angular chupando o Gang of Four. Pois eu digo, jornalistas preguiçosos quem disse isso. O Maximo Park é muito mais que um sub Futureheads.

Sim, obviamente o fato de ambos os grupos serem de cidades vizinhas no norte da Inglaterra e abusarem de riffs angulares lhes dão alguma semelhança, mas o Maximo Park, de Newcastle, UK, tem uma veia mais pop enrraizada em sua música. Sob as guitarras classudas, você tem os teclados ao fundo, e ambos fazem a base perfeita para o vocalista figurão Paul Smith cantar em seu sotaque carregado do norte inglês. Fora que possuem um jeitão nerd danado.

A NME diz que o som deles é jerk-rock. Esse disco não tem sequer uma música dispensável. Eu diria que é o encontro de Pulp, Futureheads e Psychdelic Furs. É o que mostram as faixas 'Apply Some Pressure', 'Graffiti', 'Now I'm All Over The Shop' e 'The Coast Is Always Changing'.


THE CRIBS | "THE NEW FELLAS" | (Wichita)

O The Cribs é um trio composto por três irmãos da cidade de Leeds, UK, que gostam de fazer barulho. Um que canta e toca guitarra, outro que toca baixo e um terceiro que comanda a bateria. Ano passado lançaram o disco de estréia, intitulado apenas The Cribs, um punhado de músicas rock, simples e lindas. Gravaram as faixas para o disco em uma semana, no quarto deles. Uma produção simplória, mas ganchuda e pra lá de cativante. Esse ano estão de volta com um novo álbum, "The New Fellas", que, para nosso deleite, contém o mesmo espírito juvenil do trabalho anterior, e tão arrebatador quanto.

Se você não acredita, ouça já o single 'Hey Scenesters!', uma das melhores e mais pegajosas músicas desse ano. Quem não se empolga com ela, é porque já perdeu os sentidos. 'It Was Only Love' tem um jeitão bohemio, e dá a impressão que foi gravada num estúdio escuro, abafado e barulhento. As vezes soam como os Strokes, mas quer saber? Acho o The Cribs muito mais legal. Há mais entusiasmo neles do que nos novaiorquinos. Pega pra ouvir as matadoras 'Mirror Kissers', 'I'm Alright Me' ou 'The Wrong Way To Be' e tenho certeza que você vai me entender.


HAVENOTS | "NEVER SAY GOODNIGHT" | (Cooking Vinyl)

Havenots é mais uma banda que tem uma garota e um garoto dividindo os vocais. É um casal, residentes no norte da Inglaterra, cidade de Leicester.

Esse é o primeiro trabalho deles, basicamente permeado por dois climas opostos, um melancólico, o outro mais pra cima, up-beat. A sublime balada 'Undecorated' puxa para o lado triste, enquanto que 'Flyers' e 'Papercuts', de jeitão power-pop, espelham o clima mais pra cima do disco. Mas mesmo essas faixas up-beat, ainda sim tem uma pitada de melancólia, devido ao jeito afetuoso do casal cantar. Ideal para fãs de Club 8 e The Blue Nile.


THE DECEMBERISTS | "PICARESQUE" | (Kill Rock Stars)

O The Decemberists é um quinteto de Portland, EUA, e 'Picaresque' é uma excelente coleção de canções pop-folk, regada a sublimes climas orquestrados, com uma riquesa instrumental e que todo fã de Belle & Sebastian, Fairpop Convention e Divine Comedy merece se apaixonar. Os temas das músicas são novelistas e escritores históricos, aliados a prostitutas vitorianas e michês contemporâneos.

A voz do vocalista Colin Meloy se sobressai e nos remete a camponeses nordicos cantando cancoes folk. Destaques: 'Sixteen Military Wives', 'The Sporting Life', 'We Both Go Down Together' e 'Eli, The Barrow Boy'.


LOUIS XIV | "THE BEST LITTLE SECRETS ARE KEPT" | (Atlantic)

Com ecos de T-Rex e letras que falam de sexo, garotas e excessos, o quarteto Louis XIV surge na cena com esse ótimo debut álbum. Americanos de Los Angeles, a banda não é nenhum sopro de frescor no nosso rosto, mas é altamente recomendado para uma festa regada a sexo, drogas e rock'n'roll. As vezes fica claro que o som deles é de Los Angeles, com uma pegada poodle-sleaze-poser-rock. Mas tem horas que juramos que Marc Bolan saiu do caixão e veio dar uma canja no disco. Sem nenhuma originalidade, mas divertido e cheio de maquiagem, Louis XIV vai capturar a simpatia de fãs do Placebo, David Bowie e Mansun. Destaques: 'Hey Teacher', 'Finding Out True Love Is Blind' e 'A Letter To Dominique'.


THE PONYS | "CELEBRATION CASTLE" | (In The Red)

Com bandas como Editors, The Departure e The Ponys, o revival de rock dos anos 80 mostra que veio pra ficar. O The Ponys, de Chigago, EUA, é mais uma banda que possui referências dos anos 80. É indie-rock, as vezes garage-pop, com algumas colheradas de Talking Heads e The Cure. Repleto de riffs cortantes de guitarras, esse é o segundo trabalho deles e é ideal para quem gosta de indie-dark, na linha do Interpol. Exemplos disso são as músicas 'We Shot The World', 'Ferocious', 'Glass Conversation' e 'Discoteca'.


OUT HUD | "LET US NEVER SPEAK OF IT AGAIN" | (K7)

Esse é um projeto paralelo dos caras da banda!!!, de Nova Iorque. Ao invés de punk-funk, que é a característica deles, resolveram produzir algo mais na praia eletrônica, e se deram bem. Com vocais femininos, o disco 'Let Us Never Speak Of It Again' é composto por petardos dance-music com estilo singular, alguns indo mais para a linha acid-house e electro-groovy, outros com uma veia mais pop, assemelhando-se aos hits do New Order. Se a dance-music podre de fm se inspirasse em bandas como essa, o mundo seria um lugar mais legal. Destaques: 'It's For You', 'One Life To Leave' e 'How Long'.


FOUR TET | "EVERYTHING ECSTATIC" | (Domino)

Esse é o quarto álbum de Kieran Hebden sob a alcunha do Four Tet, e novamente é um belo exemplo de música eletrônica feita por um pulso humano, onde por mais experimentais que sejam os beats, eles ainda harmonizam entre si. A faixa 'Sun Drums And Soil' tem uma batida rítmica marcante, enquanto ouvimos percussões e experimentação ao fundo. Já 'Smile Around The Face' é quebrada nas batidas, porém com pitadas pop aqui e acolá. Pra quem quer boa melodia para um chill-out, a pedida é a música 'And Then Patterns', que tem quase cinco minutos, mas poderia facilmente se deslizar para mais de dez.

Possui fluxo. Já quem prefere esquisitice e xperimentação, as faixas 'High Fives' e 'Turtle Turtle Up' podem ser uma boa. Se você procura por algo criativo dentro da linha eletrônica, o Four Tet com certeza é a solução.


BOOM BIP | "BLUE EYED IN THE RED ROOM" | (Lex)

Esse é o segundo LP do Boom Bip e é sem dúvida uma prova de que música eletrônica as vezes também tem soul e substância. Recheado de instrumentos de corda, percussão e beats de vanguarda, 'Blue Eyed In The Red Room' traz consigo uma atmosfera melancólica e delicada, com cara de tardes de domingos de inverno. Juntamente com o Four Tet, o Boom Bip é uma banda eletrônica experimental, mas que ainda sim possui uma boa melodia por trás, sendo isso o grande trunfo delas.


*** *** ***

Abaixo você confere uma lista de discos lançados esse ano, resenhados nas colunas anterioes. Have a look.

- M83 | Before The Dawn Heals Us | (Mute Records)

- DESTROYER | Your Blues | (Talitres Records)

- THE BOY LEAST LIKELY TO | The Best Party Ever | (Too Young To Die Records)

- LEWIS TAYLOR | The Lost Album | (Slow Reality Records)

- BLOC PARTY | Silent Alarm | ( Wichita Recordings)

- MERCURY REV | The Secret Migration | (V2 Records)

- ISIS | Panopticon | (Ipecac Recordings)

- DOMINIK EULBERG | Flora & Fauna | (Traum Schallplatten)

- ANTONY & THE JOHNSONS | I Am A Bird Now | (Rough Trade)

- IDLEWILD | Warnings/Promises | (Parlophone)

- KAISER CHIEFS | Employment | (B-Unique)

- BRITISH SEA POWER | Open Season | (Rough Trade)

- M WARD | Transistor Radio | (Matador)

- THE SILENT LEAGUE | The Orquestra, Sadly, Has Refused | (Sic Records)

- THE BRAVERY | The Bravery | (Loog)

- THE SUPERIMPOSERS | The Superimposers | (Little League)

- ADAM GREEN | Gemstones* | (Rough Trade)

- TED LEO & THE PHARMACISTS | Shake The Sheets | (Lookout! Records)

- DUNGEN | "TA DET LUGNT" | (Memphis Industries)

- FINT TILLSAMMANS | "FINT TILLSAMMANS" | (Silence)

- JOSÉ GONZÁLEZ | "VENEER" | (Peacefrog)

- THE FEATURES | "EXHIBIT A" | (Universal)

- VHS OR BETA | "NIGHT ON FIRE" | (Astralwerks)

- TEGAN AND SARA | "SO JEALOUS" | (Sanctuary)

- SILVER RAY | "HUMANS" | (Broken Horse)

- ENGINEERS | "ENGINEERS" | (Echo)

- CUT COPY | "BRIGHT LIKE NEON LOVE" | (Modular)

- M.I.A. | "ARULAR" | (XL Recordings)

- JAGA JAZZIST | "WHAT WE MUST" | (Ninja Tune)



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