Wednesday, July 06, 2005

 

coluna 30 de junho

Hi, how're you doing?

Depois de algumas semanas de total reclusão, voltei a ir pra shows aqui em Londres. Às vezes é bom dar um tempo, afinal, tudo em muita quantidade satura, não é mesmo?

Fui no Wireless Festival (não precisei acampar nem viajar, pois aconteceu no centro de Londres, fui de metrô) e mais em dois shows de brasileiros dando rolé por aqui. Gostei de todos. Seguem as resenhas na coluna de hoje, entre outras coisas. Enjoy!

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FESTIVAIS


Vocês perceberam que até agora não falei nada de festivals aqui na coluna, né? Então, o motivo é simples: eu não gosto de festivais.

Quer saber porque? Então olhe essa foto abaixo. Foi tirada no Glastonbury Festival no último final de semana.



Acho legal as bandas que tocam. Mas só. De resto, ir para um festival inglês é uma grande chateação. Ter que viajar, acampar em lugares toscos, tomar banho em condições precárias e ver as bandas em palcos gigantescos são algumas das razões.

Talvez seja bom, por exemplo, para quem mora no Brasil e não tem chances de assistir os conjuntos ao vivo. Aí, ter a oportunidade de ver praticamente todas as bandas o momento num único final de semana não é má idéia. Vale a pena o sacrifício de viajar e acampar. Eu mesmo quando morava no Brasil costumava vir pra Inglaterra só pra pegar os festivais. Valeu a pena, apesar dos problemas que tive para me manter nesses festivais.

Mas pra quem mora aqui, onde tem shows toda semana, acho que não compensa. Provavelmente devo ser um do poucos que acha isso, pois esses festivais sempre esgotam os ingressos. Cada um cada um, certo?

Essa história de que tem que entrar no espírito dos festivais e desencanar não é comigo. Eu não gosto de acampar numa área que vira depósito de lixo a partir do segundo dia de festival, e você tem que dormir ali, no meio do lixão. No way. E se chove então, vixe, a lama deixa o festival um show de horror. Tomar banho? Só se você tiver paciência pra esperar duas horas numa fila, com sua toalha e sabonete na mão. E pode ter certeza que pouco depois do banho, você vai ficar sujo de novo.

Nesses festivais ficamos mais preocupado se vamos morrer de cólera do que em qual horário as banda tocarão.

Pra você ter idéia do que estou falando, essa semana aconteceu o Glastonbury, o festival mais tradicional daqui. Rolou um temporal na sexta, primeiro dia. Olha só como ficou a área de acampamento.



E pior. Tem gente que acha romântico a chuva do Glastonbury e celebra o momento.



Só digo uma coisa: eca.

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Sabe as The Pipettes, minha paixão indie-pop, que eu tanto já babei aqui? Tem entrevistas com elas nos seguintes sites:

www.coquetelmolotov.com.br (português)

www.funkymofo.net/pipettes2005.html (inglês)

Confira!

www.thepipettes.co.uk/


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::: MOBY
Ao vivo no Wireless Festival, Hyde Park, Londres, sexta 24/06


Ouvi dizer que o novo disco do Moby, 'Hotel', é fraco. Não ouvi inteiro, mas acredito. O Moby também deve achar, pois só tocou duas músicas desse novo trabalho no show. O resto foram os hits dos álbums anteriores 'Play' (1999) e '18' (2002). Na hora que o careca entrou com sua banda no palco principal do festival, uma garoa fria e chata caía sobre o Hyde Park, e acho que isso refletiu na apresentação, pois o começo foi meio devagar, com os músicos um tanto apagados e Moby meio quietão. O clima tava estranho. Mas depois a coisa melhorou, com Moby fazendo piadas e sua banda mais a vontade no palco. 'Bodyrock' agitou bastante a galera e 'Why Does My Heart Feel So Bad' foi a minha preferida, com seu apelo trip-hop épico melancólico e efeitos psicodélicos no telão. As ótimas 'Porcelain' e 'We Are All Made Of Stars' também se destacaram. Fecharam com o último single 'Spiders', uma boa música, que encerrou a curta apresentação em alto estilo. Um bom show, pra ver uma vez apenas e é o suficiente. Valeu.


::: NEW ORDER
Ao vivo no Wireless Festival, Hyde Park, Londres, sexta 24/06


Antes de começar a resenha, tenho que dizer que o concerto do New Order foi a maior aglomeração de geezers & hooligans & lads & neds que eu já vi em um show aqui na Inglaterra. Parecia jogo de futebol da terceira divisão. Pra sentir o drama, eu estava com uma camiseta do The Tears e um gordão careca chegou em mim e gritou 'you fooking queer, shit t-shirt!". Não preciso falar mais nada. Hooligans a parte, vou te falar, não tava muito animado pra ver o New Order. Esse álbum recém-lançado é ruim e imaginei que fariam um set baseado nele, mas me enganei. Assim, como o Moby, deram prioridade para os hits e ignoraram o último trabalho. Sorte nossa, os fãs. Sabe as músicas que vem à cabeça quando a gente pensa em New Order?

Então, tocaram essas. Confesso que arrepiei total ao conferir ao vivo HINOS como 'Tempatation', 'Bizarre Love Triangle', 'Regret', 'True Faith', 'Crystal' etc. Peter Hook é uma verdadeira figura tocando seu baixo, como eu já imaginava. Ele tem um estilão próprio, meio laddy, durão, mas ao mesmo tempo um rock-star. Esse é show-man. O vocalista Bernard Summer deu agora de dançar feito um bêbado desengonçado e nerd, e foi isso que fez praticamente o show inteiro. Legal. Esquisito. Mas sua voz definitivamente faz a diferença. Impossível não ficar emocionado. Só não entendi porque o público ficou tão histérico quando tocaram músicas do Joy Division, como 'Love Will Tear Us Apart', 'Transmission' e 'Atmosphere'.

Francamente, essas músicas sem a voz e espírito de Ian Curtis não são as mesmas. A voz doce de Bernard Summer cantando elas ficou meio esquisito, por isso achei um ponto fraco do show. Fecharam o show com o clássico 'Blue Monday', que balançou geral o Hyde Park.

No final, eu que não dava nada, saí do show louco pra chegar em casa, colocar minha compilação do New Order e relembrar meus tempos de colegial. Lindo.

Mas o show no Hyde Park acabou cedo, e ao invés de ir pra casa ouvir New Order, decidi ir para o show do Hurtmold, que acontecia na mesma noite e era meio perto. Cheguei pouco antes do show começar. Veja como foi.


::: HURTMOLD
Ao vivo no Guanabara, Londres, 24/06


A notícia de que a banda paulista Hurtmold iria extender sua turnê européia e dar um pulinho em Londres me deixou muito feliz. Pois é. Tinha que ser iniciativa da revista Jungle Drums (www.jungledrums.org), que sempre tem idéia ousadas e criativas, mostrando a cultura brasileira sem cair nos clichês de apenas 'samba-carnaval-futebol'.

Quem foi ao Guanabara esperando mais uma vez ver uma banda tocar samba ou mpb, que é o que sempre tem lá, se deu mal, pois foi o avant-post-rock do Hurtmold que brilhou dessa vez.

Eu gosto de Hurtmold. Gosto porque fazem música de vanguarda com personalidade e inteligência. As improvisações, ecletismo e swing que saem das suas músicas são os motivos pelo qual os considero o melhor conjunto brasileiro atualmente. E depois de dois anos do último show que vi deles, em São Paulo, enfim, iria vê-los ao vivo aqui em Londres.

Recém-chegados da Espanha, onde se apresentaram no tradicional festival Sonar, a banda tocou músicas dos discos Cozido (2002) e Mestro (2004), fazendo um set totalmente instrumental, que durou aproximadamente uns cinquenta minutos. Foram minutos de puro deleite avant-post-rock, rechado de melodia e classe. O suficiente para me deixar, como acontece toda vez que os vejo ao vivo, de boca aberta.

As músicas começam com um emaranhado de instrumentos e barulho, tudo fora do lugar. Conforme o som vai fluindo, cada instrumento vai entrando no bonde e se colocando na sua posição. Com o som arrumado no lugar, seguem por alguns minutos, sempre com alguma improvisação aqui e acolá. Chocalhos, bateria eletrônica, clarinet, teclado, xilofone, corneta, estavam todos lá, dando as caras uma hora ou outra, deixando a marca registrada do Hurtmold. A bateria de Mauricio Takara era por vários instantes deliciosamente torta e descompassada, o que eu adoro. O baixo de Marcos Gerez tinha um groove. Tinha um swing. Um swing hipnótico. Gostei. Me fez balançar a cabeça e meus pés de forma um tanto excitado.

Parte da audiência claramente não foi muito com a cara do show. Normal. Afinal, eles estavam no lugar certo. O Hurtmold é que foi parar no lugar errado. Os boatos que chegaram no meu ouvido foi de que os donos do Guanabara não acharam o show com a cara do local e estavam desesperadamente torcendo para que terminasse
logo. Até imagino a cena. É o Hurtmold causando aqui em Londres, minha gente!

Tomara que da próxima vez eles toquem num lugar mais no estilo deles que, francamente, é o que não falta aqui em Londres. De qualquer jeito, o show foi excelente. Parabéns à banda e à Jungle Drums.


::: MARCELO D2
Ao vivo no The Marquee, Londres, 25/06


Já falei que sou um puta fã do disco "A Procura da Batida Perfeita"? Exato. A mistura de hip hop com samba que Marcelo D2 mandou nesse álbum é única. Ele soube como ninguém pegar as rimas e versos e beats do rap e colocar espertamente junto com os cavaquinhos e batuques e alto astral do samba. Ficou demais. Desde
que estou em Londres, há dois anos, que esse disco está em alta rotação no meu cd player. O boato que Marcelo D2 vinha pra Londres apresentar esse disco ao vivo tava rolando desde 2003, mas só foi se concretizar no último final de semana, no traditional The Marquee, centrão da capital inglesa. E qual foi minha surpresa quando fui convidado pra discotecar antes do show! Pois é, foi demais. Toquei de tudo MESMO, de Cocteau Twins a Miguel de Deus, com direito a Beastie Boys, Curtis Mayfield, The Tears, Seu Jorge, James Brown e Secos e Molhados, entre muitos outros.

Uma pena que o Marquee estava apenas parcialmente cheio, devido a má divulgação do evento. Pelo que sei, o show foi marcado de última hora. Mas isso não tirou o brilho da apresentação e muito menos o ânimo do público, e quando Marcelo D2 subiu com sua banda no palco, a histeria foi total. O clima estava ótimo. E que carisma esse cara tem no palco! Gostei. As músicas ao vivo ficaram tão boas quanto no disco, a banda é super competente e talentosa. A estrela da noite não parava um minuto, balançando os braços como nos bailes de rap e cantando os seus hits velhos - que eu não conhecia - junto com os do último lp "A Procura da Batida Perfeita".

Não esqueceram nenhuma das que eu gosto, como 'Pilotando o Bonde da Excursão', 'Maldiçãoo o Samba', 'Vai Vendo', 'A Procura da Batida Perfeita' e 'Re:Batucada'. O sucesso 'Qual é?' foi o á pice da noite. Na bacana 'Loadeando', fizeram uma versão raggae que, sinceramente, ficou melhor do que no disco. Muito boa. Como Marcelo D2 demorou tanto pra vir a Londres, ele não economizou nesse show, e tocou por duas horas seguidas. Repetiu algumas músicas ('Pilotando o Bonde da Excursão' teve duas versões, uma caindo mais para o samba e outra mais para hip-hop e beats), mas segurou muito bem a noite a lavou a alma dos que estavam presente.

Show nota 10, noite nota 10.


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BURN IT: Músicas em alta rotacao no meu iPOD. Soulseek nelas!

HARD-FI "Hard To Beat": Grande hit dessa banda inglesa que está fazendo muito sucesso por aqui. Esse é o terceiro single e a banda da toda a pinta de que vai longe. Imagine um electro-rock, com uma vibe madchester, ecos de Beck, Fatboy Slim e Cornershop e você chega perto. Pra se jogar numa pista de dança num sábado à noite e esquecer da vida.

THE SUBWAYS "Rock'n'Roll Queen": O trio de teenagers The Subways lança mais um single e novamente nos brinda com um garage-rock-grungy ganchudo e fervente. Tudo que o Von Bondies tentou fazer, e quase conseguiu. O álbum vai ser lançado em breve, mas já pode ser encontrado no soulseek.

BE YOUR OWN PET "Fire Department": A molecada Be Your Own Pet, direto de Nashville, EUA, ataca com mais um single, o primeiro pela gravadora Rough Trade. Segue a mesma linha do single anterior, um rock groovy, pop e sexy, tudo isso graças às guitarras altas e a voz marcante da vocalista loiríssima Jamina. Se você curte Yeah Yeah Yeahs, o Be Your Own Pet é a nova pedida.

ROYKSOPP "Only This Moment": Já perceberam como Fatboy Slim, Chemical Brothers e Moby estão cada vez mais datados? Pois é, esses dinossauros da música eletrônica perderam o bonde e agora quem tá por trás dos beats mais fresh e cool são o Mylo, da Escócia, e o Royksopp, da Noruega. Esse último lançou novo disco essa semana e a faixa 'Only This Moment" é o primeiro single. Com refrão suave e a voz linda de Kate Havnevik, impossível não se apaixonar.

THE TEARS "Song For The Migrant Worker": Acho que Brett Anderson deveria desencanar um pouco do formato pop-rock que vem fazendo desde o Suede e fazer um disco inteiro apenas com piano e voz. É essa minha opinião após ouvir esse b-side do The Tears. Soberbo. Ouça e me fale sua opinião.

THE DECEMBERISTS "Oh The Bus Mall": Essa é uma das faixas mais bonitas de 'Picaresque', último e ótimo á lbum dos The Decembrists, já comentado aqui na coluna. Direto de Portland, EUA, esse quinteto faz um pop rico, com direito a uma mini-orquestra, pianos e acordeon. É o que chamam de chamber-pop. Se Divine Comedy e Belle And Sebastian é a sua linha, os Decemberists estão esperando por você.

SHOUT OUT LOUDS "Very Loud": Mais uma banda sueca que conheci na minha recente viagem à Suécia. O Shout Out Louds já é conhecido na sua terra natal, mas aqui na Inglaterra o buzz só está começando agora, com o lançamento do single "Very Loud", que tem um jeitão retro-rock, new wave e é prato cheio pra quem gosta do novo rock como Bloc Party, The Bravery e Sons And Daughters.


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