Thursday, September 29, 2005

 

coluna 21 de setembro

Então eu e as Pipettes sentamos para bater um papo. Isso mesmo. Na semana passada tive o privilégio de conversar com as garotas por vinte minutos, exclusivamente para essa coluna. Uau.

Eu já tava com a idéia de conhecer algumas bandas e meio que entrevista-las, mas nunca me sobrou tempo para tal tarefa. Porém no último final de semana, quando vi que as Pipettes tocariam seguidamente no sábado e domingo, em dois lugares diferentes no bairro de Shoreditch, pensei comigo, ‘é agora!’. Quem já acompanha a coluna faz tempo, já sabe da magia das Pipettes.

Como eu já meio que conheço a banda e o manager de tanto que frequento os shows, foi fácil de arranjar esse papo. Combinamos que após o show do domingo, eu e as meninas sentariamos para uma conversa no jardim do bar Cargo, um espaço bacana para baladas e bandas ao vivo no Leste de Londres.

Meio que me limitei a não fazer muitas perguntas, até mesmo para não ocupar o tempo da banda, mas principalmente para não ocupar o meu tempo, hehe… Imagina, tenho que me preparar para o papo, bater o papo e gravar, depois ouvir com calma e passar a conversa inteira para o word. Isso leva horas! E realmente aqui em Londres eu meio que trampo demais e meu tempo é precioso.

Eu também gostaria de falar com os garotos, os The Cassets, a banda de apoio por tras das meninas, mas eles não dao entrevistas. Segundo o manager Andy, eles não se comportam bem o suficiente para tal privilegio (!!!). Entao foi somente com as garotas que conversei: Rose, a preferida dos fas, de cabelo preto; Gweno, a galesa loira de visual ‘California Girl’; e Riot Becki, a simpatica garota de oculos.

E finalmente, depois de vinte minutos apos o termino do otimo show de domingo (recheado de músicas novas!), o manager Andy me chamou e disse que as garotas estavam me esperando la fora no jardim. Well, ‘vamos la’, pensei. Quando cheguei, tive a surpresa de ver que elas ainda estavam com os tradicionais vestidos de bolinhas, e isso não era justo. Eu pensei que elas estariam trocadas ja, como pessoas normais, e no entanto la estavam elas, do mesmo jeito que cantam e dancam no palco. Isso me intimidou! Eram elas mesmas, as Pipettes dos vestidos de bolinhas! Claro que fiquei nervoso com isso. A partir do momento que me sentei para a suposta entrevista, tive vontade de dizer ‘olha garotas, na verdade eu nem tava muito afim disso, tem como a gente cancelar essa historia???’, mas isso seria muito imbecil da minha parte. Comecei a ficar com sede. E putz, não tinha sequer uma latinha de cerveja por perto…

Entao ta, estou eu sentado com as Pipettes no jardim de um bar. Estou preparando meu microfone e laptop. E as garotas iniciam o papo. Preciso falar que meu ingles travou e eu comecei a gaguejar feito um idiota?? Claro que não, você ja deve ter imaginado isso. Meu, tudo o que eu queria era sair dali e voltar pra casa. Mas era tarde demais.

E foi mais o menos assim que a conversa começou….

Eu: Primeiramente, porque só vocês dão entrevistas e não os garotos (The Cassets) também?


Rose: Acho que eles não querem ser entrevistados. Faz parte do conceito da banda ter eles como músicos de apoio. Embora eles sejam bem ‘falantes’ entre nos (risos), acho que eles estão felizes em deixar a gente lhe dar com o spotlight.

Riot Becki: Também eles querem o mistério. Eles preferem que as pessoas queiram saber deles, porque eles gostam disso, sabe, das pessoas ficarem imaginando o que eles fazem ‘por trás das cortinas’.

Eu: Quanto tempos vocês estao juntos?

Rose: Dois anos, mas as vezes parece que é desde que eu nasci! (risos)

Eu: Parece que a ideia inicial da banda veio do guitarrista Bobby. E vocês, ja se imaginavam numa girl-group BAND antes de conhecer ele?

Rose: não, nunca. Eu cantava numas bandas indie antes.

Gweno: Eu escrevia músicas sozinha, cheguei até a lançar algumas demos.

Riot Becki: não…

Eu: As tradicionais girl-groups dos anos 60 eram obviamente formadas por garotas, mas que que tinham as músicas escritas por outros compositores. Vejo que com vocês é diferente, ja que vocês tambem participam do processo de criacao das cancoes. Como é esse processo? vocês compoem juntos com os The Cassets?

Riot Becki: Basicamente, a gente precisa ter as letras, e tambem uma melodia meio pronta. Um de nos escreve algo e traz isso para nosso ensaio, ai todo mundo sugere ideas e a gente comeca a tocar e a compor juntos. Eu acho muito legal o fato da gente ter sete compositores na banda, pois isso faz com que tenhamos uma rapida rotacao de ideas indo e vindo, o que siginifica que a gente tem que escolher realmente as melhores coisas de tudo que temos. Muito melhor do que depender de apenas um compositor, que faz tudo, pois se ele parar, a banda inteira para. Se um de nos não esta muito afim de escrever, temos mais seis pessoas que podem fazer isso, o que é fantastico.

Rose: E tambem a gente aprende um com outro. Embora no palco os garotos soh tocam e nos garotas soh cantamos e dancamos, fora do palco não é assim. Somos meio que iguais…

Todas: Aeee, cervejas!!! Woohooo… Valeu Andy!!!

[Nessa hora o manager Andy chega com cervejas para elas, mas não pra mim. Eu estava com a boca seca e tudo que queria era uma breja pra mim, mas não dava pra ir até o bar. Pensei em falar para o manager, ‘hey, pega uma pra mim tambem!’, mas isso seria ridiculo. Quase que pedi um gole da cerveja delas, mas isso seria mais ridiculo ainda…]

Eu: Sei que vocês gostam das 60s girl-groups, aquela sonoridade Phil Spector e tambem o som da Motown. E quanto a cena músical atual, que bandas impressionam vocês?

Rose: E adoro o novo single da Sugarbabes. (risos)

Eu: Sugarbabes? Nunca ouvi…

Rose: é muito bom. Eu gosto muito de música pop.

Eu: O que você quer dizer com música pop?

Rose: Bem, acho que é pop comercial… Tipo Annie, eu adoro, ela é otima. Mas eu tambem gosto de outrcas coisas…

Riot Becki: Eu não tenho ouvido muita coisa nova ultimamente…


Eu: Mas você gosta de bandas riot-girl como Bikini Kill e Sleater-Kinney…

Riot Becki: Sim, gosto, mas ultimamente tenho mais visto shows, tem muito coisa boa por ai, tipo o Gravy Train!!! [quarteto americano formado por dois garotos e duas garotas, e sao totalmente pirados e engracados ao vivo, e possuem uma sonoridade casio-pop meio comedia], que é soberbo, super performance, uma das melhores performances que vi na minha vida, ninguem bate eles! Mas falando da cena atual de bandas britanicas, eu gosto bastante do Vincent Vincent And The Villains… [combo aqui de Londres que faz um som rockabilly]

Rose: Yeah! E ia dizer isso! Eles sao muito bons! Meus favoritos!


Eu: E as The Priscillas [banda londrina formada por quatro garotas, que sao totalmente 50s tanto no visual quanto no som], que é outra banda retro de garotas tocando por ai…?

Rose: Gosto um pouco delas… Nos ja tocamos juntas uma vez…

Riot Becki: Elas tem um visual lindo!

Rose: Sim, o look delas é brilhante, mas eu não gosto tanto do som delas…

Gweno: não é o tipo de música que eu gosto tambem…


Eu: E o que vocês acham da imprensa músical britanica?

Riot Becki: Acho que ela é muito obvia, é fácil de dizer o que ela vai escrever…

Rose: Bem, tem coisas tipo a NME, que defintivamente não tem nada a ver comigo. não tem nada a ver com o nosso tipo de som.

Gweno: é incrivelmente padronizada…

Rose: E tem muita coisa legal por ai que não sai na midia, o que é uma pena. Mas existem algumas revistas de música interessantes aqui, que infelizmente sao dominadas pelas revistas ruins…

Eu: vocês tem feito bastante shows do ano passado pra ca, e recentemente fizeram turne com The Magic Numbers e The Go! Team. vocês se divertem com os shows?

Gweno: Bem, estar numa banda e fazer turnes é um puta trabalho, ha um monte de detalhes que a gente tem que se preocupar, mas pra mim, no momento que eu subo no palco, isso sempre confirma qualquer inseguranca do tipo ‘porque estou nessa banda?’, pois é uma coisa tao boa, que é tipo ‘é por isso que estou aqui’, confirma minha paixao pela banda, é meio uma terapia. Eu adoro. Toda vez que me sinto down por alguma coisa, sei que vou ficar feliz novamente assim que eu subir no palco e comecar a dancar e cantar…

Riot Becki: Exatamente. é incrivel. Eu posso estar triste ou deprimida ou de ressaca, mas sempre que estou no palco, ‘fico feliz de novo’! é a melhor droga do mundo tocar ao vivo, é muito excitante pra mim.

Rose: E é sempre diferente, cada show é uma vibe diferente, entao a gente se diverte muito…


Eu: Ha algum show que foi especial pra vocês?

Gweno: Bem, pra mim, que entrei esse ano na banda, acho que foi o festival que a gente tocou na Suecia recentemente, o show foi lindo, tinha 1.500 pessoas e a vibe foi a melhor!


Eu: E como foi fazer shows fora da Inglaterra?

Gweno: Foi maravilhoso, pois a gente não tinha ideia como as pessoas iriam reagir. Tipo, ha pessoas que entram no nosso website e que sao de diversos paises, mas tocar ao vivo num outro pais é diferente, foi um desafio para nos conectar com o publico. E a gente conseguiu, foi otimo!


Eu: Bem, é um pais diferente mas suponho que o publico era formado por indie kids…

Gweno: (risos) Sim!!


Eu: E indie kids sao os mesmos no mundo inteiro!

Riot Becki: Hauhauhauahuahaua!!!

Gweno: (risos) Isso é verdade, isso é muito verdade! Hahahaha…

Eu: Ok… Por que a Julia [ex Pipette que deixou a banda a cerca de quatro meses] saiu da banda e como vocês encontraram Gweno?

Rose: Julia saiu porque ela não estava curtindo muito, as coisas não estavam como ela imaginou, e a gente respeita isso. Fomos apresentados para a Gweno atraves do nosso manager, e foi otimo porque ela tem tudo a ver com a banda, ela simplesmente se encaixou muito bem, e é otimo e excitante trabalhar com ela.

Gweno: é estranho, pois eu nunca conheci a Julia, mas tenho um enorme respeito por ela, pois ela estava no meu lugar antes.

Rose: Mas vocês duas sao completamente diferentes…

Gweno: Yeah…

Riot Becki: E é engracado que a entrada da Gweno deu um novo gas pra gente, fez a gente realmente dar o sangue pela banda. Antes estavamos meio preguicosos, e não pensando muito no futuro da banda…

Eu: Mesmo??

Riot Becki: Yeah… E realmente valeu muito a pena a entrada da Gweno… Tipo, a banda ocupa um espaco tremendo nas nossas vidas, a gente desisitiu de empregos e coisas do tipo, e desde da entrada dela estamos realmente mais focados para que as coisas funcionem para a banda… Sangue novo, sabe?!

Eu: E as coreografias, quem cria elas? vocês praticam bastante?

Riot Becki: Haha… sim, um pouco… A gente tem que praticar…

Eu: Sim, imagino…

Riot Becki: Ontem mesmo a gente tava criando as danças para a música nova da Gweno (risos), a gente ensaiou uma vez com a banda, ai mudamos a coreografia, ai tivemos que ensaiar de novo! Haha… Foi trabalhoso…

Rose: As vezes a gente meio que inventa na hora a coreografia…


Eu: vocês pretendem continuar fazendo isso?

Riot Becki: Muitas vezes a gente somente dança, balança e isso é um bom modo de deixar as pessoas pra cima, e também não enjoarmos das coreografias… Acho que não é necessario fazer sempre… temos que balancear nossa performance, ai ninguém fica de saco cheio (risos)!!

Eu: E as letras? Quais são as inspirações?

Rose: São pequenas histórias que acontecem com a gente, algumas fantasias tambem… (risos)

Eu: vocês conhecem algo de música do Brasil?

Riot Becki: Errr… eu so conheço drum’n’bass do Brasil… haha… Uma cena completamente diferente… hehe…

Gweno: Mesmo?? Brilhante!! Como é?

Riot Becki: é maravilhoso, bem soulful!!!

Gweno: Ohh… imagino que seja mesmo, tipo, eu tenho uma idéia vaga de música brasileira, tipo batuques… Ha alguma banda que você recomenda?

Eu: Bem, o Brasil é um pais grande e temos diversos tipos de música lá. Internacionalmente, os genêros mais conhecidos são samba e bossa-nova, eu gosto desse tipo de som, principalmente dos anos 60 e 70...

Rose: A Astrud Gilberto é brasileira ou espanhola?

Eu: é brasileira. Ela é relativa do João Gilberto…

Rose: Yeahh… Ela é maravilhosa, eu adoro!! A música dela é tão tocante… Beautiful!!!

Eu: Eu tambem gosto muito dela. A epoca dos anos 60 foi muito boa. Ainda tem coisas legais surgindo, até algumas bandas indie, mas os melhores artistas na minha opinião são daquela época. No momento aqui na Inglaterra tem muita gente falando de ‘Baile Funk’…

Riot Becki: Ah, é!! Eu li essa manhã uma matéria sobre isso no The Observer! A MIA sampleou umas músicas brasileiras…

Eu: Pois é… Eu não sou um profundo conhecedor de ‘Baile Funk’, mas acho engraçado algumas músicas! Então vocês conhecem drum’n’bass e Astrud Gilberto somente?

Todas: Oohhhhhh….

Rose: Isso é mal!!! Ohhhh… Que vergonhoso… Sorry…

Eu: não tem problema, não da pra ficar ligado em tudo que acontece no mundo… Se vocês me perguntassem se eu conheço alguma banda da Austria, eu não saberia lhe dizer…

Gweno: Pois é, tem muita coisa boa por ai, impossível saber de tudo…

Eu: Bem, pra finalizar, vocês lançaram dois singles limitados em vinil 7” aqui na Inglaterra, que se esgotaram frenéticamente. Em novembro vocês vao lançar o novo single ‘Dirty Mind’, e depois?

Rose: Album!! Provavelmente em abril do ano que vem será lançado nosso álbum, pela Memphis Industries, uma gravadora de Brighton.

Eu: Legal, vou tentar lançar o disco de vocês lá no Brasil, conheço pessoas que tem contatos com algumas gravadoras por lá… quem sabe…

Gweno: Ohh… Lindo!! Isso seria ótimo!! Já pensou a gente fazendo turne no Brasil??! Seria demais!!!!

Riot Becki: Eu adoraria!!

Eu: Ok, garotas. Esse papo vai entrar no site www.oilondres.com.br, eu passarei o endereco para o Andy. Posso tirar uma foto de vocês?

Rose: Sim, mas a gente não ta muito bem pra fotos… (risos)

Eu: No worries…

[tiro a foto]

Gweno: Deixa eu ver!!!

[dou a camera pra elas]

Rose: Argh! To completamente miseravel!!!

Riot Becki: Deixa eu ver… Ae, eu to sorrindo, vocês não!!

Rose: Putz, eu tentei sorrir, mas to tao acabada que o sorriso não saiu…

Gweno: Hahaha…

Eu: OK, finish! Obrigado pela atencao, garotas!


Rose: Valeu você! A gente sempre ve você nos shows, obrigado por prestigiar a banda e o nosso som!

Eu: De nada, continuarei indo aos shows! See you next time, yeah?!


***


A partir dai eu ainda fiquei um tempo arrumando umas coisas no computador e depois sai dali e fui direto pegar uma breja. Finalmente! No caminho de volta, resolvo comprar o The Observer e ler a tal matéria de Baile Funk que a Riot Becki comentou. Putaquepariu!!! Que artigo é esse!?!?!?!! Entre várias coisas malucas e bizarras que diz sobre o Brasil (comum em reportagens sobre o Funk Carioca aqui no UK), tem uma parte que o reporter entrevista um funkeiro carioca e o cara solta: “Nos brasileiros não nos importamos com a buceta, não gostamos de sexo vaginal, queremos mesmo é sexo anal, metemos pra valer mesmo é no cu”. Meudeus!!!!!! Imagina o que a Riot Becki tava pensando de mim?!!!?! é foda, são matérias como essa que queimam total o filme dos brasileiros aqui na Inglaterra. Never mind. Agora com a entrevista gravada, eu teria que começar a escrever e a passar para word, coisa que estou finalizando agora.


So dando um toque, o single ‘Dirty Mind’ será lançado aqui na Inglaterra dia 14 de novembro, pela Memphis Industries. O formato em cd vira com as demos ‘Tell Me What’ e ‘We Are The Pipettes’ como b-side, e a versao vinil 7” contará com ‘Because It’s Not Love’, ao vivo na Xfm. não marquem bobeira e comprem!! Dessa vez, ao contrário dos outros sigles limitadíssimos, a distribuição será por toda a Inglaterra, inclusive a Amazon.co.uk Imperdivel.

A banda ja gravou até um clipe para o novo single, como você confere nas fotos abaixo.

Outra coisa, eles estão mesmo interessados em lançar o disco no Brasil e o manager Andy me falou que se eu souber de alguém interessado, pra passar o contato pra ele. E isso ai, se alguém de gravadora estiver interessado em lançar o disco das Pipettes no Brasil, me dá um toque que eu coloco em contato com o manager.

Um disco das Pipettes no mercado brasileiro seria perfeito, acho que o som da banda tem tudo a ver com o Brasil, que é um pais maluco e alegre. Fora que o fato de ter tres meninas de vestidos de bolinha como vocalistas é também um diferencial. Já existiu alguma vez uma girl-group no Brasil?? não sei.

Acho que daria super certo as Pipettes no Brasil. Sem contar o mercado infantil, que é coisa que eles tambem estao focando aqui. Ja pensou sua irma pequena louca pelas Pipettes?? Isso é fácil de acontecer. Como já disse diversas vezes aqui na coluna, a música das Pipettes é fácil, divertida, cool, soulful, capas de cativar multidões.

Well, agora dá um look na foto que tirei delas na mesa, e também segue uma do show de domingo. Lá embaixo tem elas gravando o clip de ‘Dirty Mind’.










MARCIO CUSTODIO
marcio_custodio1980@yahoo.com.br



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