Monday, December 19, 2005

 

coluna 7 de dezembro

Ufa, quinta 9 horas da manhã. Minha cabeça dói. Show do Maximo Park ontem. Me acabei. Mas você fica sabendo como foi na semana que vem, pois agora você vai se ligar como foi o show de Antony & The Johnsons aqui em Londres, que rolou na última segunda.

Antes disso, só quero dar o toque: A faixa "Trains To Brazil" do Guillemots está cada dia mais tomando conta do meu coração. Deus, que música é essa?!?! Alegre, triste, dançante, épica. Finalmente foi para as lojas o single dessa faixa e puta que pariu, fico ouvindo incontrolavelmente. Imagine a banda 80s Prefab Sprout atualizada para o pop do ano 2000. Adicione uma boa dose de swingue e BANG!, você chegou lá. Em breve mais Guillemots pra você. Mas já anote aí: essa é A banda para 2006.

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ANTONY & THE JOHNSONS
Ao vivo no Shepherd's Bush Empire, Londres, 05/12


Logo na entrada do charmoso Shepherd's Bush Empire - e também nas paredes dos corredores dentro do teatro - havia o seguinte aviso: "O Artista gentilmente pede silêncio e também para que ninguém fume". Bem vindo ao mundo de Antony, o ser mais talentoso de 2005.

Esse foi o primeiro show que ele fez após ganhar o prestigiado premio Mercury Prize aqui na Inglaterra, então as expectativas de público e crítica estavam nas alturas. Eu já estava esperando essa apresentação desde quando me dei por conta da existência de Antony.

Dessa vez comprei tickets para assistir sentado, pois convenhamos, um show desse não é pra ficar em pé. Os The Johnsons, a banda de apoio com seis músicos, entrou de mansinho no palco e se posicionou nos seus assentos. Por último veio a estrela da noite.

No momento em que Antony sentou e começou a deslizar suas canções sobre seu piano, pareceu que toda a platéia, incluindo eu, estavamos hipnotizados por um anjo. Eram as músicas do melhor disco de 2005 que estavam sendo graciosamente executadas ao vivo.

A faixa de abertura do concerto foi "My Lady Story", e recebeu gritos e aplausos logo nos primeiros acordes. Ninguém conseguiu fazer o silêncio que Antony pedia. Depois de anos na obscuridade, rodando pelo circuito art-gay de Nova Iorque e se mantendo em shit-jobs (chegou até ser faxineiro de um clube de prostituição, entre outras coisas), esse homem-mulher finalmente encontra o reconhecimento merecido.

Ele toca de um jeito meio esotérico. Extremamente tímido e nervoso, temos a impressão que ele está com o Mal de Parkinson. Quando toca com apenas uma mão, a outra treme compulsivamente. Ou então são os seus pés que ficam a tremer. Weird.

A banda foi tocando todo o álbum "I Am Bird Now", sempre variando em instrumentos: Acordeão, violino, cello, violão, baixo, piano e a bateria mais silenciosa da face da Terra. O som estava beirando a perfeição, super semelhante ao cd.

Antony permanecia sempre ao piano. "Man is The Baby" continha cada detalhe de seus esparsos quatro minutos, com a linha de violino e piano sendo tocados com a maior delicadeza e melancolia desse planeta. Foi o momento mais sublime do show. Antony se contorceu inteiro. Até pensei que estava a chorar.

Na hora do single "You Are My Sister", Antony chamou Boy George para um dueto. Houve uma ovação de quase cinco minutos quando George, de terno cintilante e seu tradicional chapéu, subiu ao palco. Juntos cantaram uma das baladas mais bonitas de todos os tempos. No final da canção, Antony saiu correndo do palco e voltou em segundos, trazendo um buquê de flores para seu convidado especial. Emocionado, a estrela do Culture Club abraçou Antony e disse: "Obrigado por me deixar ouvir a voz mais bonita que eu não ouvia há muito, muito tempo. Toda vez que te ouço cantar fico de coração partido". E dá-lhe mais aplausos.

O único momento que notei de fato a bateria foi na magnífica "Fistful Of Love", a parceria com Lou Reed do álbum. Antony, com expressão de alma torturada, conseguiu se superar, como se isso fosse posível. É incrível vê-lo cantar. Ele abre a boca bem pouquinho, e surpreendentemente de lá sai o canto mais explendido e grandioso e deslumbrante dessa vida. A única diferença em "Fistful Of Love" foi que os trumpetes presentes no final da faixa foram substituídos por uma robusta orquestração. Ficou tao mágica quanto a versão de estúdio.

"Bird Gerhl" e "For Today I Am A Boy" foram outras ocasiões nas quais perdi um pouco minha respiração. Tocaram duas covers: "All Is Loneliness" de Moon Dog e "The Guests" de Leonard Cohen. Ambas soaram fascinantes com a roupagem de Antony, obviamente.

Depois de uma incansável ovação do público e um agradecimento humilde e tímido de Antony e sua banda, o show se deu por terminar. Um lindo e inesquecível show, que só fortaleceu o que já venho pensando há algum tempo: Antony é a criatura que veio pra ficar.


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2005: o ano tá acabando. Em breve digo meus discos preferidos. Por hora fiquem com mais dois lançamentos que recomendo.

NEIL YOUNG -- "PRAIRIE WIND"

Esses dias eu dei uma de gostoso e desdenhei esse disco do Neil Young, questionando porque ele estava nas listas de melhores do ano das revistas inglesas. Tapa na minha cara. O disco é bom pra cacete. É que as vezes fico meio intrigado porque revistas como Mojo, Uncut e Word só dão destaque para tiozinhos e tiazinhas. Mas é que a maioria dos leitores dessas revistas preferem mesmo os velhinhos e,convenhamos, eu sou o peixe for a d'água. Voltando a "Prairie Wind", esse álbum completa a mágica trilogia Harvest de Neil Young, iniciada 33 anos atrás com "Harvest" (1972), e depois com "Harvest Moon" (1992). Ao contrário de discos barulhentos de rock e country, o que é uma das marcas de Young, a trilogia "Harvest" é composta por baladas contemplativas, soando um perfeito country meloso, cheio de orquestrações e ricos arranjos. "Prairie Wind" é exatamente assim. Toca fundo na sua alma. Ouça "It'a a Dream" e entenda o que estou falando. A faixa "No Wonder" é também outro ponto alto do disco, com corais, uma guitarra deslizante e a voz de Neil Young soando como um profeta gospel. O restante das músicas também possuem qualidade cinco estrelas, fazendo do álbum um 'must-buy'. Talvez o clima refletivo apenas espelhe o que o velho Neil Young passou no último ano. Ele teve um sério problema no cérebro e quase morreu. Ainda, seu pai faleceu no decorrer das gravações. Eis o que a vida não causa num homem para ele escrever algumas das mais tocantes canções desses tempos.


AMUSEMENT PARKS ON FIRE -- "AMUSEMENT PARKS ON FIRE"
Semana passada eu tava organizando os cds que comprei recentemente e percebi que, putaquepariu, só ando ouvindo baladinhas e músicas arrastadas. Tinha pouco rock. Bem pouco. Eis então que pego na mão essa muralha de guitarras e falo pra mim mesmo: "ainda tem rock bom por aí". Pois é, se depender do Amusements Parks On Fire, o rock tá mais do que firme. Essa é uma das boas bandas underground aqui na Inglaterra e esse é praticamente o primeiro álbum cheio que lançam. São nove lindas e destruidoras faixas, jorrando um suculento shoegazer, há anos não visto por aí. Começam com "23 Jewels", uma introdução com quatro minutos de texturas delicadas e sonhadoras. Logo em seguida vem a porrada "Venus In Cancer", a melhor faixa do cd. Seguem-se mais três torpedos, parando na faixa "Asphalt (Interlude)". Com início de pianos, ela aos poucos cai epicamente num muro de distorção e guitarradas. Nesse momento temos a certeza que essa banda é e melhor do mundo. Nas três faixas restantes, o álbum alterna em momentos épicos e barulhentos, até a distorção vagarosamente sair de cena. Perfeito.



COLUNAS ANTERIORES:
http://bestmusic2004.blogspot.com/

MARCIO CUSTODIO
marcio_custodio1980@yahoo.com.br







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