Thursday, February 16, 2006

 

coluna 09 de fevereiro

Terra Brasílis. Aqui estou eu. Olha só. Essa coluna foi a mais difícil pra escrever EVER. Simplesmente porque eu não raciocino com esse calor. Mas aqui estou, na batalha para arrancar linhas diretas da insanidade do meu cérebro. Tenho que aproveitar que estou fresquinho fresquinho, pois acabei de sair do TERCEIRO banho de hoje. E pensar que na Inglaterra eu fico as vezes três dias sem olhar a cara do chuveiro... hihihihi...

Como eu sou chatinho, né? Lembro de quando comecei a escrever a coluna para o site, cerca de um ano atrás, eu reclamava do frio inglês. Agora aqui estou, derretendo nesse calor de Zâmbia. Quem me viu, quem me vê.

Mas essa é a natureza do ser humano, queridos leitores. Quando estou em Londres eu reclamo de Londres. Quando estou em São Paulo eu reclamo de São Paulo. (nhé). E vai ser assim até o final dos meus dias.

Falando em Terra Brasílis, alguém me explica como é possível passarem filmes de terror em todos os canais 24 horas por dia na TV brasileira. Sim, a TV Brasileira é TERROR TOTAL. Eu tenho muito medo de ligar a TV daqui.

Esses dias minha querida mãezinha tava vendo uns programas e eu entrei de gaiato. Tive pesadelos nas duas noites seguintes. O rádio eu nem me atrevi a ligar. Posso entrar em depressão profunda e ser internado direto num psiquiatra.

Dicas para ser feliz no Brasil: não ligue a TV nem o Rádio. JAMAIS. Os jornais eu ainda leio. A parte de esportes, claro. Li uma ótima entrevista do Zagallo esses dias, inclusive. Vou levar para Londres. Conheço alguns turcos lá que idolatram o Zagallo, "the old man from Brazil", segundo os próprios.

[SÓ UM INSTANTE, VOU TOMAR OUTRO BANHO E JÁ VOLTO]

[BACK]

E ontem eu fui na Nuvem Nove, uma das melhores lojas de discos aqui em SP, e fiquei extremamente magoado. Triste mesmo, sabe?! A pastelaria ao lado da loja não existe mais. Desapareceu. Na verdade, eu costumava freqüentar a Nuvem Nove antes e, confesso, era meio que uma desculpa para comer aqueles pastéis de queijo cheios de gorduras e deliciosos. Mas agora a pastelaria não existe mais. Nem sei se vou voltar a Nuvem Nove. Quer dizer, claro que vou, pois a loja é ótima e os funcionários são melhores ainda. Mas agora toda vez que for lá, vou de barriga cheia já. E o dinheiro dos pastéis vai para os discos.

O resultado dessa minha visita a Nuvem Nove foi que, como de praxe, gastei uma bufunfa. Comprei alguns badulaques, entre eles o tão-falado-oh-meu-Deus-do-ceu-vamo-q-vamo primeiro disco do Cansei de Ser Sexy. 25 pratas, tá valendo. Voltei da Nuvem Nove ouvindo o disco dos caras no talo. Quer dizer, das minas + o cara. Ou melhor, do cara + as minas. E sabe o que? Adorei, claro. Que produção legal, né? E o swing então? Vish, arrasaram. Há um fluxo de idéias ali. Me empolguei, até. Quando cheguei em casa, fui tomar um banho. Saí e, pelado mesmo, já coloquei o cd deles rapidinho. Bem alto, como as batidas pedem. Fiquei ouvindo o álbum por meia hora e daí minha mãe veio me pedir pra buscar minha irmã na escola. Sempre às ordens, claro. Peguei o carro e mais uma vez coloquei o CSS pra bombar. Ar condicionado e CSS no talo. Dá hora. No caminho, parei num farol e tinha um vendedor de suco de laranja. Mesmo depois do banho, eu já tava um pouquinho grudentinho, então resolvi acenar pro tiozinho, e pedir um suco. Ele veio e quando abri o vidro, tava bombando o refrão "Bezzi, eu já peguei o Bezzi". O tio ficou meio intimidado com o volume do som, que claro eu não abaixei quando ele se aproximou. Tirei umas moedas do bolso e comprei o suco geladinho e quando ele tava se afastando do carro, pensei que ele ia perguntar "Você já pegou o Bezzi também???". Mas isso não aconteceu, claro, ficou só na minha imaginação. Depois veio uma faixa chamada "Off The Hook", com a vocalista mandando um inglês meio de sotaque americano. Curti. Eu adoro sotaque americano. Esse negócio de brasas quererem falar inglês em sotaque inglês é coisa de mané. Sotaque americano é muito mais fácil e muito mais sexy. Adoro cada r puxadinho que os americanos têm. E fui ouvindo o cd. Peguei minha irmã e na volta continuei com o CSS. Eles me lembraram o Stereo Total em alguns momentos. Simpatizei com a música "Music is My Hot Sex". Cheguei em casa e ainda ouvi mais um pouco. Mas sabe o que aconteceu? Depois de mais de duas horas ouvindo o disco, não fiquei com nenhuma melodia deles na minha cabeça. E eu não sei se isso é bom ou ruim. Quer dizer, pra mim um refrão explosivo é essencial em qualquer música pop. Mas talvez eles pensem diferente.

Do pouco que ouço de bandas pop brasileiras, o Cansei de Ser Sexy é uma das melhores, mesmo sem nenhum refrão matador. O Brasil pode acolher muito bem eles, acredito. Mas no mercado internacional ela é só mais uma. E eu encaro isso como um elogio. Às vezes essas bandas só-mais-uma-banda acabam se dando muito bem. Veja o caso do Editors na Inglaterra. Inclusive há boatos de que vão assinar contrato com uma gravadora ícone da cena independente americana. E eu torço por eles.

http://www.trama.com.br/portalv2/css/

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Mas então chega de fábulas brasileiras, pois esse site/coluna fala da Swinging London. E o que anda acontecendo por lá, hein? Desce aí...


JOHNNY BOY


Semana passada, no dia que eu estava embarcando para São Paulo, consegui baixar o tão aguardado álbum do Johnny Boy, dupla de Londres formada por Davo e a vocalista Jolly. Fiz um cd-r rápido e trouxe aqui comigo. Eu estava esperando esse disco há mais de um ano. Tomei conhecimento deles em agosto de 2004, com o lançamento do super-hit-single "You Are the Generation That Bought More Shoes and You Get What You Deserve". Caí de amores logo nas primeiras notas que ouvi. Esse tipo de banda aparece uma vez por ano no mundo da música. Qual é a deles? Uma dupla responsável pelas melodias pop mais cativantes desses tempos, tudo isso com uma roupagem Phil-Spector, aliadas a samples, guitarras certeiras, soul music, vocais femininos melodramáticos e muitas idéias criativas indo e vindo. A última coisa mais ou menos semelhante que apareceu foi o The Go! Team.

Esse LP de estréia do Johnny Boy ficou dentro das minhas expectativas, que eram altas. Uma certa vez, eu, cansado de esperar por esse disco e preocupado com o sumiço deles, resolvi mandar um e-mail para a banda, através do site deles. Este escriba disse que fazia uma coluna musical para um guia turístico on-line e que gostaria de saber se eles teriam alguma previsão para o lançamento do disco. Me responderam mais ou menos assim: "Ao invés de você ficar esperando pela gente, porque você não forma uma banda?". Resposta antológica. Fiquei ainda mais apaixonado pela banda. É claro que não formei uma banda e é claro que fiquei ainda mais ansioso pelo lançamento do LP. Eis então que, meses depois, eu acho o dito cujo dando sopa na internet. Vapt Vupt! Direto pro meu HD, baby. O que é estranho é que se você entra no site deles, não há informação nenhuma de quando o disco será de fato lançado. Pelo que vasculhei pela net, fiquei sabendo que a banda assinou um contrato com uma micro-gravadora da Suécia e que o possível primeiro lançamento será por lá. Inclusive a banda quebrou o jejum de shows e tocou recentemente em Estocolmo, onde essa foto foi tirada. Mas parece que estão analisando propostas de gravadoras grandes de todo o mundo. Sei que esse disco que peguei é genuíno pois, quando baixei, o track-list bateu com uma resenha que encontrei por aí. E também o som é totalmente eles. Não há dúvidas.

Aí é que tá. Como eu queimei um cdzinho esperto e trouxe para a viagem, os nomes das músicas estão no meu lap-top em Londres. Tirando a primeira faixa, que é o delicioso single "You Are the Generation That Bought More Shoes and You Get What You Deserve", e a última, chamada "Johnny Boy Theme", eu não sei os títulos do restante das faixas. Mas isso não importa. O que importa, por exemplo, é que a faixa número TRÊS é uma das coisas mais empolgantes que meus ouvidos saborearam esse ano e que a QUATRO não fica atrás, nem um pouquinho. Música pop a todo vapor, com refrão contagiante "to die for" e *aquela* voz da vocalista Jolly. O som é basicamente cheio, poluído sonoramente e cuspindo alto astral para todos os cantos, tudo sob um espírito totalmente pop e acessível.

Um clima ritualístico. A faixa CINCO flerta com o Massive Attack e o resultado é bacana, muito bacana. A SETE e OITO atacam novamente com uma explosão pop de gelar a espinha. Ah, esqueci de dizer, mas o tal super-hit-single que abre o disco foi produzido por James Dean Bradfield, líder dos Manic Street Preachers. Ele é um dos fiéis seguidores do Johnny Boy. O disco é curto o suficiente com um total de dez números, com a linda "Johnny Boy Theme" deixando na gente um gostinho de 'quero muito mais'. Resta saber afinal quando esse clássico instantâneo vai estar nas prateleiras das lojas. Espero que muito em breve. Enquanto isso não acontece, Soulseek já!

www.johnnyboyinc.co.uk

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BELLE AND SEBASTIAN – "The Life Pursuit"
E o conjunto escocês começa o ano de 2006 com cd novo nas lojas do Reino Unido. Mais um álbum do Belle And Sebastian, e mais uma obra impecável. O LP anterior teve produção do maestro tecnopop Trevor Horn e muita gente torceu o nariz. Não no meu caso. Adoro aquele disco. E agora nesse novo trabalho, embora não tenha produção de Horn, sentimos que a banda deu continuidade ao caminho trilhado no anterior. Quem acha o B&S uma banda indie-chata, vai morder a língua ouvindo jóias como "We Are The Sleepyheads". Clima pra cima, a faixa parece que é o Orange Juice em rítmo de carnaval, com um solinho de guitarra que, me desculpem, está emulando muito bem o J. Macis. Já "White Collar Boy" chega logo de cara com uma base electro, para depois cair em puro pop orgânico. Quem diria, hein? Mas não se preocupe, ainda sim soa B&S do jeito que a gente gosta. Também em climinha contagiante é a "Sukie In The Graveyard". Delícia. O primeiro single tirado desse álbum foi "Funny Little Frog", e é linda de morrer. Aqui vemos o quanto a voz de Stuart Murdoch é especial. Ainda há baladas dreamy-folk, que caracterizaram a banda. Pegue "Mornington Crescent", uma música feita em homenagem a estação de metrô mais simpática e vazia de Londres. O Belle And Sebastian está aí há uma década. A cada lançamento, temos a impressão que eles ganham fôlego pra muito mais. Sorte nossa.

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THE MAN WHO CAME TO STAY

Pete Doherty é um homem livre! Yeah! Ele recebeu uma sentença de 12 meses em reabilitação e a meu ver isso foi o melhor que poderia ter acontecido com ele. Se fosse preso, o rapaz arrumaria drogas a cada cinco minutos nas celas. Mas agora tem que se cuidar. Se derrapar e cair pesado nas drogas novamente, ele vai direto pra cadeia. Tomara que Pete tenha consciência. Mas isso é meio difícil.

Há algumas semanas eu comentei que tinha assistido os Babyshambles tocarem "Albion" no programa de TV Jools Holland, e que essa tinha sido a melhor apresentação do programa até hoje. Pois então, agora você pode assistir e constatar que estou certo. Clique no link abaixo, espere carregar e assista os Babyshambles numa apresentação de gala, orgânica, genuína, simples e sensacional. É visível que a banda não ensaia e o que rola ali é uma soberba improvisação. E, claro, um pouco de química, também.

http://www.youtube.com/w/Babyshambles---Albion-(Live-on-Later!-with-Jools-Holland)?v=iczI52gwsZM&search=libertines

Isso é pra demonstrar que o circo de Pete Doherty não é apenas drogas, modelos e polícia. O verdadeiro motivo que gostamos dele é a música e essa apresentação é um bom exemplo disso. Oh, que gaita... Enjoy.

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IMPLOSÕES DO FOLK

A mais nova edição do podcast Implosões do Folk está no ar. Corre pra lá e se delicie com o melhor das novas bandas britânicas. O programa é apresentado pelo meu irmão Gilberto Custódio, junto com sua 'missus' Liz De Munno.

www.microfonia.org/

Confira o set-list:

1. Good Shoes, "Small Town Girl" – CD single (Young & Lost, 2005)
2. Neil's Children, "Stupid Band" – Always the Same 7" (Poptones, 2005)
3. The Young Knives, "Weekends and Bleak Days" – Junky Music Make My Heart
Beat Faster 10" (Transgressive, 2005)
4. ¡Forward, Russia! , "Twelve" – 7" single (Dance to the Radio, 2006)
5. The Subways, "With You" – 7" single (City Pavement/Warner, 2005)
6. Art Brut, "My Little Brother" - Bang Bang Rock & Roll CD (Fierce Panda,
2005)
7. O Fracas, "Zeroes And Ones" – 7" single (Marquis Cha Cha, 2006)
8. The Long Blondes, "Appropriation (By Any Other Name)" – 7" single
(Angular, 2005)

BG: Fiery Furnaces, "EP" (Rough Trade, 2005)

Olha só o que meu irmão solta logo no início do programa: "As bandas britânicas são muito melhores que as americanas, não há nem o que discutir". Nossa, não precisava humilhar, né?


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É isso aí. Eu ia falar das novas faixas do Andrew WK e The Upper Room, e também do novo disco do canadense Destroyer, mas fica pra próxima.

Minhas discotecagens por aqui estão em full-swing. As faixas que causaram maior comoção foram "So Alive" do Ryan Adams e "You Can´t Fool Me Dennis" dos Mystery Jets. Hoje, quinta, tem Milo Garage, aqui em SP. Amanhã na hora do almoço caio para o Rio de Janeiro. E por aí vai. Encontro vocês na balada.

SEE YOU WHEN I SEE YOU.





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