Sunday, April 09, 2006

 

coluna 03 de abril

SHOWS

Conforme avisado aqui na coluna anterior, na semana que passou fiquei correndo pra lá e pra cá por toda Londres, assistindo os mais diversos e ótimos shows. E quando não estava em algum concerto, eu tava discotecando. A noite é mesmo uma criança. Só não me pergunte como consigo conciliar meu trabalho durante o dia. Não sei. Mas vamos aos shows, com destaque, claro, ao Guillemots e Johnny Boy.

SEMIFINALISTS + MY LATEST NOVEL
Bush Hall, estação de metrô Shepherd's Bush, 28/03


A noite tinha quarto bandas, mas saí do trabalho tarde e só consegui pegar as duas últimas, Semifinalists e My Latest Novel, que afinal eram as únicas que eu queria mesmo ver. O Semifinalists é composto por três estudantes de cinema que se conheceram numa faculdade em Londres. O detalhe é que eles são todos americanos. Quer dizer, uma integrante, a Adriana, é na verdade nascida nos EUA, mas vem de família brasileira. Eu já tinha visto o trio ao vivo no ano passado, mas o show não tinha me impressionado muito. Agora foi diferente. O Bush Hall estava lotado pra ver eles e a atmosfera estava ótima. Como são estudantes de cinema, atrás do palco havia um telão onde rodavam vídeos contemplativos e twee, dando um tom mais do que especial para a música do grupo.

Musicalmente, são a colisão perfeita entre Mogwai e The Boy Least Likely To, com uma leve colherada shoegazer, especialmente nos vocais de Adriana. Todos os três cantam, mas quando Adriana cantava, era a hora que eu mais gostava. Percebemos que o Semifinalists tem um apelo pop fluindo nas veias, mas ao esmo tempo não querem entregar isso de bandeja, é aí então que deslizam para uma instrumentação mais elaborada e um tanto truncada. Senti uma boa evolução do ano passado pra cá. Estavam muito mais empolgados e confiantes no palco. Lançaram dois singles e o disco completo chega em maio. Keep an eye.

Mas o melhor da noite era o último show, e atendia pelo nome de My Latest Novel. A beleza musical desse conjunto é tanta que fica difícil de classificar o som deles. Como adoro rótulos, eu os rotularia de “transcedental-epic-pop-folk-beauty”. Eles são de Glasgow na Escócia e esse show em Londres é o primeiro desde que lançaram o excelente álbum “Wolves”, que já resenhei aqui. O concerto foi tudo o que eu esperava deles. Tensão, força e delicadeza.

Não sei se são as harmonias vocais naquele estilo “pa pa paaa”, as raízes eruditas ou as linhas de violino, mas essa apresentação deixa qualquer um de queixo caído. As canções transcorriam majestosamente por uma sinfonia folk, às vezes aludindo ao Blueboy, como foi o caso da lindíssima “The Job Mr Kurtz Done”. Há ecos do Belle & Sebastian do começo. Lembre-se que estamos tratando de uma banda escocesa.

Contudo, em alguns momentos as guitarras entravam todas ao mesmo tempo e mergulhavam numa tensão que, juntando à sensibilidade folk, dava origem à uma forte sensação de melancolia. O número “Sister Sneaker, Sister Soul” foi um desses momentos. “Pretty In A Panic” passeia por orquestrações e, no final, a violinista começa a falar e contar uma história. Talvez tenha sido o ápice da noite. Eles tocaram o álbum todo, e fizeram isso em não mais de uma hora. No final, muitos aplausos de uma platéia que ainda estava tentando entender o que tinha acontecido. Showzão!

>>> www.myspace.com/mylatestnovel

>>> www.myspace.com/semifinalists




GOOD SHOES
Blow Up Metro, estação de metro Tottenham Court Rd, 29/03


Não sei se foi por causa do péssimo espaço físico que é Blow Up Metro (o palco fica no meio do caminho para você ir ao banheiro ou para ir ao bar e tudo fica apertado) ou o público de rock babaca que não tenho muita paciência, mas eu não estava com a mínima vontade de ver esse show. Eu até gosto do Good Shoes, mas queria sair dali. As bandas de abertura, que nem merecem ter os nomes citados, foram horríveis (uma era um rock de garagem chato e outra uma cópia fajuta do Dexys).

Veio o Good Shoes e a molecada começou a empurrar e tal e eu saí e acabei assistindo o show do bar, que de qualquer jeito era próximo ao palco, mas pelo menos ninguém empurrava. O show foi ok, mas é o tipo de banda que ver uma vez é mais do que suficiente. Eles tocaram o single “We Are Not The Same” e dancei um pouco. Tocaram “Small Town Girl”, minha música preferida deles, e dancei mais um pouco. O resto eu não lembro muito bem. Como eu estava no bar, acabei bebendo mais que o normal e fiquei de pileque. Meu humor melhorou um pouco com isso. Mas o show durou quarenta minutos e em pouco tempo eu já estava em casa. Como estava bêbado, dormi fácil. No dia seguinte acordei com uma leve enxaqueca. Nada que uma aspirina não tenha resolvido.=

>>> www.myspace.com/goodshoes



GUILLEMOTS
King's College, estação de metrô Temple, 30/03


Ah, que delícia! Mais um show do Guillemots. Ao contrário do Good Shoes aí de cima, o Guillemots é o tipo de banda que você nunca vai se cansar de ver ao vivo. Você pode vê-los vinte vezes e, se tiver um mínimo de gosto por música pop, vai querer ver outra vez.

Cheguei tarde e não vi a apresentação de abertura. Me falaram que foi chato. Ainda bem que não vi. Aos poucos o lugar ficou escuro e o excêntrico Fyfe Dangerfield (que nome, hein?), mentor do Guillemots, aparece no palco e toca uma belíssima balada no piano. Bom começo. Ao final da música, ouvimos chocalhos, cornetas e batuques vindo de trás da platéia. Quando olho pra trás, era o resto do grupo entrando fantasiado pelo meio do público e subindo no palco. Gosto desse lado esquisito deles.

A barulheira toda acabou virando uma gema pop que só essa banda sabe fazer. É nessas horas que agradeço de morar numa cidade como Londres. A música era tão bonita que senti que estava testemunhando algo muito, muito, muito especial e que em breve deve cair no gosto popular. Tive a sensação de que uma coisa grande e poderosa vai surgir dali. Essa banda é uma das melhores coisas que surgiu na Inglaterra em muitos anos.

Nesse show eles contaram com dois saxofonistas e soaram muito mais jazz do que nas gravações. Quando digo jazz, quero dizer free-jazz. Improvisar é um ato comum quando os Guillemots tocam ao vivo. Experimentar e se comportar de jeitão esquisito também. Mesmo assim, Fyfe é um dos caras mais carismáticos do pop de hoje e não duvido nada ele se tornar um Chris Martin da vida. Mas ele é muito mais criativo que o líder do Coldplay. Musicalmente Fyfe é um compositor que está à altura de gente como Brian Wilson e Kevin Rowland. E não pense que estou viajando.

O show mescla referências de reggae, jazz, experimentação e, principalmente, música pop. Sabem muito bem juntar tudo isso e apresentar um repertório coeso. Por isso acredito que o Guillemots é uma das bandas mais inventivas dos dias de hoje. As músicas que fizeram todos ir ao delírio foram hits como “Who Left the Lights Off, Baby?”, “Made Up Lovesong #43”, “Trains to Brazil” e o novo single “We're Here”. Todas essas faixas são nota 10.

Eles têm um monte de trilhas que ainda não sei o nome, mas são igualmente brilhantes. “Go Away”, meio reggae, se arrastou por oito minutos. Terminaram com um canhão electro-rock nos moldes dos últimos discos do Primal Scream. Nessa hora Fyfe largou o piano e tocou baixo. Surpreendeu à todos. Será que vão lançar essa música ou estavam só zoando? No final, senti que testemunhei um show tão especial como ter visto o Stone Roses em 1988 ou Suede em 1992. A banda está no auge da criatividade e tocando para 600 sortudos. Logo será difícil conseguir ingressos para o show do Guillemots.

>>> www.myspace.com/guillemotsmusic



JOHNNY BOY
Purple Turtle, estação de metrô Mornington Crescent, 01/04


Ainda não acredito que vi Johnny Boy ao vivo. Essa é possivelmente uma das bandas mais reclusas dos dias atuais. Até hoje à noite, nunca tinham se apresentado ao vivo na Grã-Bretanha, e olha que eles são ingleses. Escrevi sobre eles aqui na coluna cerca de um mês e meio atrás. Falei que o debut álbum dos caras tinha surpreendentemente vazado na internet, mas que a própria banda não tinha dado sinal de vida havia dois anos. E eu não sabia nada deles e o disco não tinha previsão de lançamento.

Mas agora eu sei alguma coisa. A banda na verdade é um casal, Davo e Jolly. Davo é o tecladista de turnê do Manics Street Preachers, e isso explica porque James Dean Bradfield produziu o limitadíssimo primeiro single "You Are the Generation That Bought More Shoes and You Get What You Deserve", uma das melhores músicas dos últimos dois anos. O álbum, uma coleção de dez faixas matadoras que se aliam à samples, guitarras, vocais soul e roupagem phil-spector, será lançado nas próximas semanas na Suécia e na Australia. Aqui no UK, o Johnny Boy não tem gravadora e consequentemente não tem data marcada para lançar o disco. Acredito que, pela qualidade excelente, esse LP não vai demorar muito para ir para as lojas inglesas.

Mas no tocante ao show, eles são propriamente uma banda de rock ao vivo. Jolly, a vocalista, e Davo, o guitarrista base, recebem no palco um baixista e um baterista. É uma autêntica guitar-band, com a diferença que usufruem de alguns samples aqui e acolá. A faixa de abertura foi, naturalmente, “Johnny Boy Theme”, um tremor grandioso e melódico. Emendaram com a pulsante “Fifteen Minutes”, na minha opinião a melhor faixa da banda. Impossível ficar parado com a vibração dessa música.

Em “Livin' In The City”, que no disco é uma colagem de samples e programações eletrônicas em conjunto com um clima soul, ao vivo ficou um verdadeiro funk-boogie, e o resultado foi excepcional. A voz de Jolly não deixa nada a desejar para soul-divas dos anos 60.

Um ponto interessante do concerto é a interação da música com um enorme telão que estava posicionado atrás do palco. Durante os quarenta minutos que a banda tocou, fomos presenteados com clipes recheados de imagens malucas de neon, vídeos boogie, riots em preto e branco, estética urbana e muitas explosões. Cada música tinha um tema diferente.

Na hora mais rock do show, a contagiante “Formaldehyde (Last Words Of Lottery Loser)”, foi impossível não tocar uma guitarra imaginária. Foi o que fiz. E na passagem mais eletrônica, “War On Want”, fiquei viajando com a vibe trip-hop e as imagens no telão. O single "You Are the Generation That Bought More Shoes and You Get What You Deserve" foi a saideira, fechando o show com chave de ouro.

Ao final fui falar com Davo e ele me disse pretendem tocar mais em Londres. É outro concerto que gostaria de ver novamente.

>>> www.johnnyboyinc.co.uk

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WEEKENDERS

Com o verão se aproximando aqui na Inglaterra, começam a aparecer as propagandas dos festivais de verão. Os mais tradicionais você já deve conhecer: Reading & Leeds, V Festival e Glastonbury (que esse ano tá de folga). Mas não é desses que vou comentar agora. Darei uma geral em festivais menores, que são conhecidos por aqui como “Weekenders”. Esses são bem mais fáceis de conseguir ingressos e a agitação e qualidade é praticamente a mesma dos festivais grandes. Selecionei três. Have a look!

>>> LE BEAT BESPOKÉ 2

Quando: 13, 14, 15 e 16 de abril (tá logo aí!!!)

Como é: A turma que promove esse weekender é a mesma que faz o festival Modstock. Daí temos uma idéias do que é. Só tem bandas de sonoridade meio retrô-mod. O Lê Beat Bespoké na verdade faz parte do New Untouchables, um coletivo inglês especializado em promover e cultivar a cultura modernista e sons retrô. Essa é apenas a segunda edição do projeto. Fora as bandas, o final de semana é recheado de exposições de arte, cinema cult, projeções artísticas e mercado de roupas vintage. Também há DJs dos mundo todo, tocando o melhor do mod e soul.

Quem toca: Circulus, The Remains, The Horrors e Frank Popp Ensemble.

Local: The Rocket, na Holloway Road , norte de Londres.

Informações: www.newuntouchables.com

>>> CAMDEN CRAWL

Quando: 20 de abril

Como é: Esse festival segue numa linha não muito convencional. É parecido com aquele festival-hype que rola no Texas, o South By Southwest. O Camden Crawl é o seguinte: num dia, se apresentarão um total de 50 bandas em vários lugares no bairro de Camden Town. Os conjuntos são geralmente as novas promessas daqui e também alguns artistas já bem estabelecidos. Os shows rolam praticamente simultâneos e você pode comprar uma pulseirinha que dá entrada para todos os lugares. Ingressos separados também são vendidos. Camden Town já é normalmente um bairro roqueiro, e esse festival deixa a área parecendo um carnaval do rock.

Quem toca: Absentee, Fields, !Foward Russia!, Guillemots, The Holloways, Morning Runner, The Slits, The Spinto Band, Wolfmother, 65 Days Of Static, Pink Grease, Captain, The Automatic, Larrikin Love e muitos outros.

Locais: Lock 17, Koko, Electric Ballroom, Underworld, Barfly, Dublin Castle , Oh! Bar, Purple Turtle, Colour, NW1, Lounge e Bullet.

Informações: www.thecamdencrawl.com

>>> THE GREAT ESCAPE

Quando: 18, 19 e 20 de maio

Como é: A melhor cidade da Inglaterra na minha opinião é Brighton, que tem praia e uma cena musical fortíssima. Esse festival vai ser lá. Fica a 50 minutos de Londres. É no mesmo estilo do Camden Crawl, só que serão três dias. A atmosfera deve ser ótima. Não só pelas bandas, mas também pelo fato de ser em Brighton.

Quem toca: The Futureheads, The Cribs, British Sea Power, Guillemots, Richard Hawley, Good Shoes, Martha Wainwright, Electric Soft Parade, The Upper Room e muito mais.

Locais: diversos bares na cidade.

Informações: www.escapegreat.com/

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* Pois é. O que eu venho matutando desde 2004, está prestes a acontecer. As Pipettesestão com tudo, minha gente! Semana passada elas lançaram o segundo single de grande circulação aqui na Grã-Bretanha, a vibrante “Your Kisses Are Wasted On Me”, e o single não fez feio nos charts, entrando no top 40. Fora isso, as garotas estão recebendo cobertura da imprensa aos montes! Diversos radialistas estão tocando a música, entre eles os respeitados Zane Lowe, Steve Lamacq, Phil Jupitius e Radcliffe. Ainda, revistas e jornais também entraram na roda e estão ou publicando matérias, ou usando as meninas como modelos em lindíssimas sessões de fotos. Só no último mês elas apareceram nas revistas de moda/comportamento/música Clash, ID, Dazed & Confusion e Amaléia's Magazine, além de um artigo no jornal The Guardian. Até a NME e Artrocker, que sempre foram hostis as Pipettes, estão abrindo as pernas e descendo elogios para a banda. Nada mais merecido, né? As Pipettes tem o pacote completo para estourar: boa música, boa aparência e um conceito que, embora não seja original, é diferenciado nesse novo milênio. No momento o grupo está fazendo shows no UK e se preparando para o lançamento do álbum. Quando isso acontecer, o que será em breve, prepare-se para mais uma avalanche das Pipettes!

* Dirty Pretty Things, a nova gang de Carl Barat, entrou direto em primeiro lugar na parada da MTV2, aqui no UK. Já a nova gang de Jack White, The Racounters, estreou em terceiro. Nada mal. E sabe o que mais? As duas gangs são muito boas.

* Razorlight vem aí! Na semana passada a banda tocou no Royal Albert Hall aqui em Londres, como convidado do projeto de caridade de Roger Daltrey. E os meninos mandaram várias músicas novas, das quais quase todas são hits instantâneos, segundo jornal Evening Standard. O provável novo single deve ser “In The Morning”, e foi descrito como uma das músicas mais ganchudas que você vai ouvir esse ano. Já “Back To The Start”, trás uma pitada reggae. Prometem lançar material novo ainda no segundo semestre. Estou ansioso para a volta da banda. Adoro Razorlight, e você?

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Gente, falei demais, né? Desculpa, mas eu fico alarmado com a quantidade de bandas EXCELENTES que surgem à todo momento aqui no Reino Unido. Guillemots, Johnny Boy, The Pipettes, My Latest Novel... Deus do céu, tô ficando pirado. Haja cérebro pra gostar delas na intensidade necessária. Sério, esses grupos que citei são realmente fantásticos e não vejo nenhum outro lugar do planeta onde surgem tantas bandas boas a todo momento. Podem me chamar de Brit-kid ou o que for, mas a verdade é que ninguém bate o Reino Unido no quesito criatividade, talento e inventividade musical.

Claro que os EUA, por exemplo, também são um pólo forte de artistas de qualidade, mas tá longe de ser o UK. Fato.

To bege.

Fui.



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