Sunday, April 23, 2006

 

coluna 17 de abril

LE BEAT BESPOKÉ 2- WEEKENDER
Rocket Complex, estação de metrô Holloway Rd, Londres, 15/04


Sempre quis ir a um encontro de mods, um evento grande onde toda a comunidade se reúne para celebrar a cultura modernista. Fui algumas vezes em festinhas sixties promovidas pelo coletivo New Untouchables e, embora Londres seja talvez a cidade mais importante nesse meio, nunca tinha ido num “weekender”. Eis então que no último final de semana compareci a um. Feriadão de Páscoa e, num complexo no norte de Londres (bem pertinho de casa, devo dizer), mods do mundo todo se encontram para um evento de três dias onde há shows de bandas, diversos djs, markets com roupas do estilo e discos, cinema e exposição de arte. Marquei presença somente no sábado, onde duas bandas que aprecio se apresentariam. Vi os shows delas, e também curti outras coisas. Segue abaixo meu relato.

:::::: No sábado o festival começava à tarde, logo à 1pm. Três bandas estavam agendadas para a sessão da tarde. Fui cedo, pois queria pegar o show de um combo novo que anda causando em Londres. O nome é THE HORRORS. Já tinha visto fotos deles em revistas e ficado meio desapontado. Achei que eram um tipo de lixo na mesma linha do My Chemical Romance e tal. Goddamn! Eu estava errado. Na semana passada fui ouvir o som dos caras no MySpace e, nossa senhora, que coisa mais grotesca! Que barulho bom! Em seguida fui ver direito o visual da banda, e percebi que não tem nada a ver com essa coisa over-produced-goth-metal, mas sim um troço 60’s-inferno-chic-noise. O som do The Horrors é também algo assim: um proto-punk cru e apocalíptico, que ao contrário da atitude punk de proclamar ‘no future’, molda uma explosão sonora que diz que há futuro sim, mas um futuro sombrio e violento. As duas músicas que ouvi não chegavam à dois minutos. Constatei então que se a banda tocasse dez músicas ao vivo, a apresentação duraria cerca 15 minutos. Foi isso que aconteceu. Mal entraram no palco e começaram a despejar aquele som sulcado de ódio, desgosto, groove e peso. Meu Deus, eles são maluquinhos. Eles são jovens. Eles são bonitinhos. Eles têm vigor e raiva. E não soam clichês e nem são idiotas. Podemos dizer que são a fusão de Sonics com Minty com Cramps. Uma comparação com Stooges é inevitável. As músicas são praticamente todas iguais, sem muita variação, ainda sim uma mais legal que a outra, como por exemplo os singles “Jack The Ripper” e “Sheena Is a Parasite”. Guitarras distorcidas, vocais gritados e também distorcidos, e teclados farfisa com efeitos do diabo (foto). Há um leve swing tropeçando no meio das faixas. Mal terminavam uma música e já engatavam n’outra. Os moleques, com média de 20 anos, juram não ter nenhum estilista de moda por trás, e que esse é o visual que eles tinham mesmo antes de se juntarem na banda. Como disse, tinha vigor fluindo no sangue dos rapazes. O show foi curtíssimo e simplesmente um HORROR-SHOW, no melhor sentido. Temos que ficar de olho nesse conjunto. Não é sempre que gosto de coisinhas barulhentas, e quando gosto, é porque o lance é bom mesmo. E ainda por cima, tinha um montão de garotas japonesas na frente, desesperadas pelos caras. E, como já observei aqui, quando isso acontece, é sinal de que a banda está no caminho certo. Depois dei uma perambulada pelo complexo onde se passava o evento, dei uma sacada nas lindas roupas à venda, comprei uns disquinhos e bebi mais uma taça de vinho branco. Me dei conta que a próxima banda que eu realmente queria assistir estava marcada para as dez da noite, e ainda eram três da tarde! Voltei andando pra casa pra tirar um cochilo e guardar energias para a noite.

:::::: Depois de um banho tomado e uma boa janta, preparei-me para o segundo tempo do Le Beat Bespoké. Fui lá caminhando e quando cheguei vi que o lugar tava mais cheio. Era de se esperar. Realmente, o pessoal aqui se preocupa com o visual. Estética modernista seguida à risca. O lugar era um desfile das melhores vestimentas mods do mundo todo. Pessoas de diversos lugares do planeta, todas aficionadas pela década de 60, bebiam, dançavam e ostentavam o luxo, todos cheios de pompa e sofisticação. Os rapazes de ternos, lenços ou gravatas, alguns com robustas costeletas e calças presumivelmente feitas por alfaiates especiais. As moças com vestidos alá Twiggy, botas coloridas, meias psicodélicas e pernas muito sensuais. Let’s groove, baby!!! Eu estava com minha jaqueta de couro e uma calça jeans velha. Cheguei bem na hora do coletivo alemão THE FRANK POPP ENSEMBLE iniciar seu show. Mandaram ver números regados a teclados farfisa, vocal feminino soulful, guitarras e muito balanço. O som deles é tipicamente acid-jazz. Os mais animados foram pra frente do palco e começaram a dançar, dar passinhos e ‘groovear’. Eu gostei bastante, mas senti uma coisa que recentemente havia sentido com a banda brasileira Cansei de Ser Sexy: possuem instrumentação afiada e dançante, mas nenhuma melodia forte. Nem por isso deixa de ser legal. O público gostou, aplaudiu e festejou.

:::::: Mais vinho, mais gente, mais calor. 11pm. Então veio o pessoal do CIRCULUS. Era hora de recebermos a luz dos Deuses ancestrais e medievais. Levante os braços, concentre-se e embarque nessa viagem de volta aos tempos. Por duas vezes eu já tinha passado por essa jornada do Circulus, mas nenhuma se comparou à essa. O Circulus é um espetáculo sonoro e teatral, e a combinação de ambos nos transporta a um mundo de fadas, orgias e rituais ocultos. Ó, Senhor! Eu quero a luz! Eu quero a purificação do meu ser! Tire o satanás do meu corpo! Tire esse encosto que não me deixa viver! Eis que só mesmo o Circulus pra realizar meu desejo, através de flautas, moog, batuques tribais, guitarras, minuciosos barulhos e energias carregadas de folclore e paz. Apresentaram praticamente todo o álbum de estréia “The Lick on the Tip of an Envelope yet to be Sent” (elogiado anteriormente aqui na coluna), lançado no ano passado, assim como também novas composições. Minha preferida da banda, “Swallow”, foi notadamente apresentada, com os graciosos vocais de Lo Polidoro, atingindo e abençoando meu coração. A trilha “Orpheus” começou num clima ritualístico e folclórico, para em seguida desencadear em pirações de moog e teremim. Você, jovem leitor, deve estar achando que todo esse meu blá-blá-blá em volta do Circulus é puro exagero, e que eles não devem passar de uma horripilante e cafona banda progressiva. Pois saiba você que, em cima dessa riqueza musical aliada de passagens prog e folk (e somada a um figurino requentado), há a mais assoviável melodia pop, aquela que quando entra pelo seu ouvido, não quer mais sair. Este é o grande aspecto do Circulus: moldar esquisitice e teatralidade junto com sensibilidade pop. E eles conseguem fazer isso como ninguém nos dias de hoje. Que show único. Fui, então, purificado. Depois do espetáculo do Circulus, não queria mais saber de mods, nem de pernas sensuais, nem de porra nenhuma. Caminhei de volta para casa e dormi profundamente. O encosto tinha, enfim, me deixado em paz. Power to the Circulus!!!


Você pode escutar as melhores faixas das bandas citadas acima nos respectivos endereços do MySpace:
www.myspace.com/circulus
www.myspace.com/thehorrors
www.myspace.com/thefrankpoppensemble

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THE TRIP

Esse é um disco que você precisa ter. Pague o preço que for (nem é tão caro assim), empreste e não devolva ou simplesmente faça um download (se você achar). Afinal de contas, não é todo dia que Jarvis Cocker seleciona suas faixas prediletas e compila tudo num álbum. Jarvis está de volta. Aos poucos o artista mais burlesco e genial dos últimos vinte anos vem aparecendo na mídia e retomando seu trono (se é que um dia ele o perdeu). Cerca de quatro ano atrás, Jarvis decidiu dar um tempo com o Pulp, se retirar para Paris e levar uma vida doméstica, casado e com filhos. Mas um artista do calibre de Jarvis, devemos imaginar, não fica nessa vidinha por muito tempo. Foi então que ele resolveu voltar a compor e gravar cancões, e o resultado disso será um LP solo que ele deve lançar no segundo semestre desse ano. Mas antes disso, Jarvis Cocker lança um outro cd. É justamente esse The Trip, onde, junto com seu colega de Pulp, Steve Mackey, escolhem 35 músicas distribuídas em dois cds. Como você acha que devem ser essas músicas, hein? Exatamente. Esbanjam qualidade e são carregadas de peculiaridades. Ora exótica, ora grotesca e sempre pop, essa é possivelmente a melhor compilação de artistas variados que eu já ouvi na vida. Tudo faz sentido aqui, e ao mesmo tempo nos deixa com uma pulga atrás da orelha. Há momentos dançantes assim como climas serenos e suaves. Para quem é dj como eu, tem ali coisinhas super afiadas para balançar uma pista de dança. Bem, bem, bem... essa obra é longa, ouvi diversas vezes mas ainda não peguei quem é quem no disco. Porém, já tenho as minhas recomendações: Dory Previn com “The Lady with the Braid” é de 1971 e lembra Francoise Hardy e coisas do tipo; Gene Pitney com “24, Sycamore” (1967) é andrógino e lindo. Curioso que esse cantor morreu semana retrasada, ele é super famoso, fez dueto com Marc Almont, mas eu ainda não o conhecia; Bonnie Dobson com “Winter's Going”, de 1972, é pura perfeição pop, com orquestras para acariciar seu coração; e o tal Elton Montello com “Jet Boy, Jet Girl” (1978) é a versão original de uma música que muitos de vocês devem conhecer através do Plastic Bertrand. Enfim, melhor eu ficar quieto e deixar que vocês tirem suas próprias conclusões. Repito: por favor, tenha esse disco. Sua vida será muito melhor, garanto.


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THE KOOKS

A cada dia gosto mais de Kooks. Muita gente torce o nariz pra eles (geralmente são os cínicos que se acham too-cool e underground e que de fato não sabem de nada de música pop), mas essa banda, liderada pelo talentoso Luke Pritchard, sabe realmente como compor música com uma boa pegada pop. A prova disso é o álbum de estréia deles, devidamente elogiado aqui na coluna e que possui um punhado de faixas matadoras, como por exemplo “Eddie's Gun” e “Sofá Song”. Mais recentemente, atingiram o top 10 nas paradas com o ótimo single “Naive”, que é minha predileta deles. Estão sempre nas rádios, na MTV e em revistas e fanzines, e a base de fãs dos caras só aumenta.

O mais legal foi ver que o vídeo-clip de “Naive” foi gravado no Nambucca, o mesmo pub indie que eu discoteco aos domingos aqui no norte de Londres. Então pessoal, pra quem tem curiosidade de saber como é o pub mais descolado de Londres, é só clicar no link abaixo e assistir. Obviamente no clip o lugar ta meio escuro (por conta da história da música e tal), mas ainda sim dá pra sacar como é o ambiente.

http://www.youtube.com/watch?v=jMO3iLq_kAU&search=the%20kooks%20naive


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Tô devagar, tô devagar. Tenho escutado umas coisas e pá. O novo Morrissey, o novo Graham Coxon, o novo Yeah Yeah Yeahs, o novo Mates Of State, umas bandas novas e tal, mas preguiça aliada a falta de tempo me impede de resenha-los aqui pra vocês. Paciência. Semana que vem, quem sabe.

Ae, olha só, finalmente abri um profile no MySpace. Antes eu usava a conta do meu irmão para log in, agora não mais. Me dá um oi, dá: www.myspace.com/marxdiscjockey (tem um monte de fotos minhas e agora você finalmente pode ver como sou sexy).

I see you, baby!



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