Friday, September 22, 2006

 

coluna 21 de setembro

Já falei aqui do meu amor por discos de vinil 7”, né? Pois é, parece que não sou só eu que tem esse apego pelo formato mais tradicional da história da música. Aqui na Inglaterra, virou febre. Esquisito, né? Nos tempos de downloads, o formato que está em alta é o vinil.

Comecei a colecionar discos de vinil 7” quando cheguei aqui em Londres em 2003. Devido ao preço extremamente barato (custa cerca de um ou duas libras) e seu formato charmoso (o disco geralmente é colorido e vem encartado em capas com tratamento de luxo, dobraduras e pôsteres), foi paixão a primeira vista. Há três anos, toda segunda feira lá estou eu, antes de entrar no trabalho, no centro de Londres caçando minhas preciosidades do formato.

O disco de vinil 7” é tudo o que o mp3 não é. E em tempos de downloads e iPods, parece que as pessoas sentiram falta de algo vivo e verdadeiro. As pessoas baixam as músicas na net, mas querem ter o tesouro em mãos! Sem contar a arte da capa, né? Não sei explicar, mas ouço a música de outro jeito quando estou ouvindo direto do vinil, apreciando a capa e sua arte visual. Com mp3 eu sinto preguiça e pouca vontade para com a canção. Vai entender...

Já tinha percebido que, aqui no UK, as lojas de discos tinham aumentado o espaço da sessão de vinil. Desde as mais independentes, como Sister Ray e Rough Trade, até as megastores, como Virgin e HMV. E o que já vinha imaginando, foi comprovado essa semana quando a BBC exibiu uma reportagem na TV sobre o aumento da procura por discos de vinil 7” aqui na Inglaterra. Entrevistaram fãs e funcionários de lojas, e todos chegaram a conclusão que um dos motivos desse aumento foram os downloads. Uma coisa levou a outra. Como disse, as pessoas baixam as músicas, mas mesmo assim fazem questão de ter a faixa em formato físico.

Ainda, na última segunda, o jornal londrino The London Paper publicou uma matéria exclusiva sobre o assunto, na qual você lê logo abaixo, com a minha tradução.


BACK IN THE GROOVE
Porque os 7” nos colocaram pra rodar É redondo, liso, preto, sete polegadas de diâmetro e é chamado de uma gravação gramofone.


Os manda-chuvas da indústria da música queriam fazer você acreditar que estava obsoleto – mas, estranhamente, o single em vinil 7” está de volta.

Apesar da ascensão do iPod, as vendas do formato clássico “45rpm” estão, segundo estatísticas, numa alta de 500%.

Bandas como Arctic Monkeys, Primal Scream e Kaiser Chiefs estão exigindo que suas músicas sejam lançadas em vinil. De fato, os Arctic Monkeys já vendem cerca de 2/3 de seus singles em vinil.

Números da Indústria Fonográfica Britânica mostram que a quantidade de singles 7” vendidos subiu de 178.831 em 2001 para 1.072.608 em 2005.

O porta-voz da loja de música HMV, Gennaro Castaldo, diz que o single em vinil 7” é um motivo de honra para as bandas. Ele falou: “Isso aumenta o status da banda se ela tem uma presença em vinil. Se você lançar algum material no formato de vinil 7”, é porque você realmente conseguiu se dar bem”.

Um repórter da NME adiciona que premeditações da morte do single 7” sempre esteve fora de cogitação.

Ele diz: “Acho que as pessoas gostam da presença física do vinil 7”, a arte que vem junto, e até mesmo o cheiro. O single em vinil 7” é um formato clássico”.

O primeiro single 7” foi introduzido em 1949. As vendas atingiram seu pico em 1979, quando 89 milhões de cópias foram vendidas. Entretanto, a banda indie americana The White Stripes conseguiu entrar no top 10 recentemente com seu single “The Denial Twist”, apenas contando cópias vendidas em vinil.

O single em vinil 7” era o formato preferido das clássicas gravadoras alternativas dos anos 70, como Rough Trade e Stiff Records.

O renascimento do vinil 7” veio como um boom para gravadoras contemporâneas, que foram rápidas em perceber o potencial renovado do formato e mais rápidas ainda para assinar novas bandas.

THE LONDON PAPER, 18 DE SETEMBRO DE 2006


Uma pena que em países de cultura subdesenvolvida, como o Brasil, o renascimento do vinil é algo próximo do impossível. Alguns até tiram sarro do vinil. Lástima.

Um fato curioso é que na maior loja de discos da Inglaterra, a HMV de Oxford Street, o responsável por organizar as prateleiras de vinil é um brasileiro. Esqueci o nome do sujeito, mas toda segunda ele me reserva umas raridades. Conversei com o rapaz essa segunda e ele me falou que todos os departamentos da loja vêem caindo (cds, dvds, games, livros, revistas) e que o vinil é o único que vem crescendo. Diz ainda que o chefe dele até mostrou um relatório mostrando os números e tudo mais. Esse tá com o emprego garantido. Então fica a dica: segunda feira de manhã, você pode ir na HMV de Orford Street e quem estará todo atarefado na sessão de vinil colocando as novidades nas prateleiras é um brasuca! Pode falar português, ele não se importa.

Já que o assunto é singles 7”, deixa eu dar uma geral nos singles que comprei essa semana:

I’M FROM BARCELONA – We’re From Barcelona
Calma, não se trata de nenhuma banda espanhola com orgulho da Catalunha. Mas sim de um coletivo sueco de 29 músicos que curtem indie-pop. Esse single foi tirado do álbum de estréia, lançado recentemente. Para fãs de indie-pop sueco, Belle & Sebastian, The Polyphonic Spree e The Boy Least Likely To.

NICKY WIRE – Break My Heart Slowly
A grande estrela dos Manic Street Preahers, o baixista Nicky Wire, seguiu o caminho do guitarrista e líder James Dean Bradfield, e meteu as caras na carreira solo. Não precisa nem falar que é um clássico, né? Lembra o começo dos Manics, um rock’n’roll mais cru, sem firula. Nicky se mostrou um ótimo vocalista. Ainda não ouvi o álbum, mas se for nos mesmos moldes desse single, vou amar. Esse single só foi lançado em vinil 7”.

HELEN LOVE – Junk Shop Discotheque
Essa banda tem bom gosto para lançar singles 7”. Na maioria das vezes é cor-de-rosa. O som é aquele que já conhecemos: bubblegun-punk-pop pra lá de contagiante. Um hit-single pra botar fogo em qualquer pista de dança. O lado b vem com remix da ótima faixa “Debbie Loves Joey”. E tudo isso por apenas £ 1,49.

THE KILLERS – When You Were Young
Os texanos do Killers estão de volta com esse ótimo single. Devem com certeza entrar no top 5, já que a faixa é realmente muito boa e coloca o Killers entre uma das melhores bandas indie do mundo, definitivamente.

THE RAPTURE – Get Myself Into It
Os inventores do tal New-Rave voltam para dizer quem é realmente os donos das pistas indie-disco. Afiadíssimo. Obrigatório em qualquer discoteca indie. O single 7” vem com a capa em dobradura, o que eles chamam gatefold.

WOLFMOTHER – Love Train
O primeiro single deles, “Woman”, eu achei qualquer coisa. Nem fui atrás. Mas esse segundo está tocando direto aqui na MTV e ganhou minha simpatia. 70’s rock sem tirar nem por. Vai agradar fãs de Led Zeppelin. Essa edição do vinil 7” é picture-disc, como você pode ver.


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O FILHO PRODÍGIO

Foi lançado recentemente aqui na Inglaterra o livro sobre Pete Doherty, escrito por nada mais nada menos que sua mãe, Jacqueline Doherty. Intitulado “Pete Doherty, my prodigal son”, a obra de pouco mais de 200 páginas trás curiosidades da vida de Pete, assim como tenta analisar o lado psicológico da causa dele ser tão maluco.

Pois é, Pete, o Causador Nato, está mesmo batendo recordes. Se não bastasse tudo que ele aprontou nos últimos anos, ele sempre consegue causar mais. Pois, sinceramente, não conheço nenhum outro rockstar que teve um livro lançado pela sua mãe, lamentando as loucuras do filho doidão.

E você já deve imaginar que estou lendo o dito cujo. Claro, já que sou fã de toda a novela, tinha mesmo que ler. Mas vou falar, o livro as vezes da no saco. A mamãe fica parágrafos e mais parágrafos tentando entender como seu filhinho tão bonito foi se tornar um junkie varrido. E ela fala de Deus, de família, de valores, da fé, disso e daquilo e fica sem entender os motivos que levaram Pete a ser um grande viciado em heroína. Mas mesmo assim a obra tem lá suas partes engraçadas. Quando o assunto é Pete Doherty, sempre há algo pra dar risada.

Uma delas é quando senhora Jacqueline diz que parou de ler todos os seus livros religiosos e cristãos e que, há meses, a única coisa que ela tem lido são biografias do Brian Jones, Janis Joplin, Keith Richards, Kurt Cobain, Sid Vicious, Jim Morrison e outros roqueiros problemáticos. Ela diz que lê essas coisas para tentar ver onde ela errou na educação do Pete. Imagina sua mãe lendo uma biografia do Keith Richards...

Mas a situação mais constrangedora foi ela descrevendo o Natal de 2004. Pete esta no auge das suas loucuras e causando horrores em turnês com o Babyshambles. Faltou em vários shows, teve overdose e o escambau. Aí ele promete pra família que vai aparecer no natal. No dia 24 de dezembro, véspera, o doido aparece, suando, tremendo, vomitando, pálido e muito louco. Desmaiava e precisava usar o banheiro a todo momento. Sua mãe e toda família quase morreram de desgosto. Houve choradeira. Pete então foi dormir. No dia seguinte, lá pela hora do almoço, Pete acordou melhor. Foi para a mesa almoçar com a família e pediu suco de morango. Sua mãe disse que tinha acabado de comprar no mercado, e tinha duas garrafas de suco na geladeira. Pete foi até lá e quando pegou o suco, disse: "Mãe, esse aqui tem muito tóxico, eu só bebo do puro".

Hehe.

Pete Doherty, o Causador Nato.

O livro é ok, mas recomendável apenas para fãs.



xxx



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