Saturday, November 11, 2006

 

coluna 09 de novembro

GUILLEMOTS
Ao vivo no London Astoria, 02/11/06, Londres


Essa foi na cara de pau mesmo, me desculpe. Tentei comprar ingressos para esse show com dois meses de antecedência, mas estavam esgotados. Qualquer concerto aqui na Inglaterra se esgota num piscar de olhos, impressionante. Fiquei sem comprar, até que chegou o dia do show e... Bem, minha única alternativa era dar uma de pidão e ligar para o Magrão, que meses atrás tinha me dado o número dele, e implorar para colocar meu nome na lista. Foi o que fiz. Gentilmente, ele disse que ia resolver meu problema. E resolveu. Quando cheguei, só disse meu nome e eu estava pra dentro. Valeu Magrão!

Um show no London Astoria. Que banda não sonha em tocar aqui? Pois é, esse teatro imundo no centrão de Londres é um dos espaços mais tradicionais para shows no UK, comportando 2 mil pessoas, e ver Guillemots aqui é com certeza uma experiência única. A platéia era predominante formada por pessoas já nos trinta chegando nos quarenta. Poucos jovens, quase nenhum indie-kid. Guillemots é uma banda séria.

Mais sério ainda é a espalhafatosa apresentação da banda. Estão bem diferentes de quando os assisti no começo do ano. Tudo é maior e mais profundo. No centro do palco, havia um painel gigante que representava uma vidraça, emulando o título do álbum “Through The Window Pane” (“Através da Vidraça”). Quando a banda apareceu no palco, depois de uma sessão ritualista de sons bizarros e luzes piscando, começamos a ver diversas “paisagens” dentro da “vidraça”. Começaram com “Little Bear”, muito mais experimental do que a versão do disco. Emendaram direto com a extraordinária “We’re Here”, e nesse momento me dei conta que estava vendo um show do Guillemots.

Fyfe Dangerfield, o líder da banda, está mais excêntrico do que nunca, com cabelo enorme e um terno vintage cheio de farrapos e rasgos. Está o que poderíamos chamar do perfeito Cientista Louco. Ele, sentado em seu trono, comanda a parafernália de teclados, sintetizadores e instrumentos exóticos a sua frente, cantando com uma voz saindo do fundo das suas entranhas. A terceira música foi “Made Up Love Song #43” e aí já não deu mais pra segurar as lágrimas descendo dos meus olhos. Cristo. Essa é simplesmente a melhor banda do mundo no momento.

O som do Guillemos não é sexy, embora seja muito apropriado ouvir fazendo sexo. O som do Guillemots não é romântico, embora o amor é retratado nas letras. O som do Guillemots não é estranho nem pop, apenas a porta que divide as duas coisas. Ao vivo, eles inevitavelmente não capturam por completo as muralhas e colagens e energias de som que há no disco, mas como estamos bêbados assistindo o ritual na nossa frente, é uma experiência e tanto. A cada faixa, uma nova imagem cinematográfica aparece no painel-telão-vidraça. A trupe do Guillemots nem parece a de uma banda, mas sim de um grupo de teatro que fica de cidade em cidade apresentando seu espetáculo.

As vezes Magrão era selvagem com sua guitarra. A baixista Aristizabal estava sempre sorrindo (de forma sexy, claro) e tocando seu baixo acústico. O batera Greig Steward passou quase desapercebido. Os saxofonistas tinham uma estética e topetes 80s, o que adorei, óbvio. Remetiam aos membros do Roxy Music nos anos 80. Junto com as genialidades de Fyfe, foram tocando o disco inteiro, sem esquecer das músicas mais antigas, dos primeiros EPs. Não faltou nenhuma: “Who Left the Lights Off, Baby?”, “Though The Window Pane”, “Cats Eyes”, “Go Away” e “Trains To Brazil”, que recebeu os aplausos mais calorosos da noite.

No decorrer da apresentação, aparecem monstrinhos fantasiados dançando, bolinhas de sabão são jogadas na platéia, luzes psicodélicas enfeitam o palco e pisca-piscas coloridos são impregnados nos instrumentos. É realmente uma peça teatral. Minha preferida da noite foi a linda “Annie, Let's Not Wait”, onde Fyfe trocou seus teclados e brinquedos por um violão. Fecharam a noite com a épica “São Paulo”, uma faixa realmente dedicada a capital paulista.

Nessa hora, na “vidraça”, aparecem gráficos de prédios e edifícios, caveiras e estrelas cadentes, emulando a atmosfera suburbana paulistana. A música, com duração de 13 minutos, te leva à lugares bizarros, e depois acaba numa explosão de barulhos e ruídos e saxofones. É aí que todos os roadies e membros da produção entram no palco e começam a batucar em objetos variados. Fyfe pega a tampa de uma lata de lixo e fica batucando, até a música atingir o ápice e depois cair para a realidade. Fim do espetáculo. Fyfe manda beijos para os presentes e nós voltamos para nossas vidas ordinárias. It’s always like that.


Guillemots toca novamente em Londres no dia 16 de fevereiro, no Brixton Academy.
www.myspace.com/guillemotsmusic



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THE AUTOMATIC
Ao vivo no The Forum, 03/11/06, Londres


Aqui estou mais uma vez cercado por teenagers de 10 a 20 anos. Dessa vez para conferir o show do Automatic no The Forum, na semana passada, aqui em Londres. Você já deve saber que o Automatic é uma das bandas indies mais queridas atualmente aqui na UK, então esse concerto para 2 mil pessoas não faltou boas vibrações. Depois do super-ultra-mega-hit "Monster", o que presenciamos no show deles é histeria do começo ao fim. Guitaria, moshs, rodinhas de porrada, crowd-surfing. Tem pra todos os gostos. Quando nos damos conta, estamos pulando e cantando os mísseis radiofônicos do Automatic.

Abriram com uma música nova, depois veio " Keep Your Eyes Peeled", aí fodeu. Tava tudo como eu imaginava. Pennie, o tecladista e backing-vocal, literalmente roubando o show com suas piruetas, gritos e sua presença. Em seguida mandaram o primeiro single "Raoul" e o lugar quase veio abaixo. Não dá pra não curtir um show como esse, afinal na nossa frente esta a banda que lançou um dos melhores, se não o melhor, disco de rock desse ano. Os moleques foram tocando hit atrás de hit, com destaque, claro, para o furacão "Monster", talvez a faixa mais cantada desse verão aqui no UK. Virou até hino da Copa do Mundo.

Outra que fez a noite valer a pena foi a cover de “Gold Digger” do rapper Kayne West. Essa musica já é meio pegajosa e com a roupagem pop-punk do Automatic ficou irresistível. Nessa hora Pennie lançava uns raps maneiros enquanto que os outros rapazes pulavam atrás dele. "That's What She Said" foi mais uma que balançou o The Forum. Fecharam com o recente single "Recover", potente e maravilhosa como só ela. End of the show. Em pouco mais de uma hora, fui abençoado pelo rock. A vida é bela. Amém.

www.myspace.com/theautomatic



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JOANNA NEWSOM – “Ys”
Essa semana foi para as lojas de disco aqui do UK o que podemos considerar uma verdadeira Obra de Genio: "Ys", o novo trabalho de Joanna Newsom, possivelmente o disco mais ousado de 2006. Baseada no interior da Califórnia, Joanna surgiu há mais de dois anos atrás com seu álbum de estréia, "The Milk-Eyed Mender", provocando as mais extremas opiniões. Ou você ama, ou você odeia. E agora ela da seqüência com esse surpreendente "Ys". O que difere Joanna de outros artistas folk é que ela é uma harpista, e possui uma voz estridente e angelical, como se um anjo estivesse passando por um momento de tenção.

Seu novo cd vem com cinco canções, com média de 11 minutos cada uma, alcançando no total 55 minutos de duração. Nenhuma delas tem refrão e, ao invés disso, o que ouvimos são intensas, ainda que delicadas narrativas sobre historias de amor, mitologia grega e vida no campo. Acumulado a isso, há uma instrumentação meticulosamente constituída por harpas, pianos e uma forte orquestração. O que mais impressiona é que a musica de Joanna Newsom segue em direções completamente diferentes quando a gente menos espera. Só mesmo ouvindo para poder ter idéia do que estou falando.

Vale lembrar que os arranjos de orquestra para essas faixas foram feitos por Van Dyke Parks, o mesmo que produziu "Smile" junto com Brian Wilson. "Ys" é disco desafiador e a prova de que em pleno 2006, o folk está mais rico e inventivo do que nunca.

>> Joanna Newsom toca ao vivo em Londres, junto com uma orquestra de 32 membros, no dia 19 de Janeiro, no Barbican Music Hall.

>> Na ultima vez que Joanna tocou em Londres, suas mãos sangravam imensamente enquanto ela tocava sua harpa. A harpa com certeza deve ser um dos instrumentos mais difíceis e gloriosos de se tocar.

www.dragcity.com/bands/newsom.html



THE HOLLOWAYS – “So This Is Great Britain?”
Mais uma banda britânica que surge na sombra dos Libertines e mais uma banda britânica que, como você já percebe logo na capa, reclama da atual Grã-Bretanha. A única coisa é que o quarteto Holloways, oriundos do norte de Londres, faz isso sob boas melodias, remanescentes de Smiths, Clash e, claro, Libertines. O single "Generator" esta certamente entre as músicas mais cativantes desse ano. O disco como um todo vem com uma produção leve, de fácil digestão. Outros destaques vão para "Two Left Feet", "Dancefloor", "Re-Invent Myself" e "Happiness and Peniless". O The Holloways deve com certeza agradar a fãs do Larrikin Love, The Cribs, Babyshambles e Strokes.

www.myspace.com/theholloways



THE MAGIC NUMBERS – “Those The Brokes”
Um ano após o disco de estréia, os fofões The Magic Numbers estão de volta com o segundo trabalho. Bom para os fãs, como eu. A crítica pode ter descido a lenha nessa nova empreitada dos Numbers, mas eu continuo leal a eles: adorei “Those The Brokes”. Pode não ter a mesma fluidez do debute, mas a mantra mágica ainda está presente.

Esse é um disco cumprido (13 longas faixas), que requer máxima atenção e dedicação do ouvinte. O início vem com o astral lá em cima. Apenas na quinta faixa que o pique diminui um pouco, alternando momentos de pura serenidade com pitadas de soul-music. Somente na décima-primeira música que despertamos com uma guitarrada das boas e os Numbers em pura boa forma. Aí o filme já tá no fim e quase que nem percebemos o fim do disco.

Claramente a banda cedeu sua faceta radiofônica em prol de uma ópera-pop; essa nova obra faz valer o conceito de “long-play” ao invés de “singles”. Por isso, seria equivocado da minha parte tentar escolher destaques. Mas quando ouço gemas de altíssima inspiração e calibre pop como “Runnin' Out”, “Undecided”, “Most Of The Time” e “Take A Chance”, não consigo ver outra alternativa a não ser citá-las aqui na resenha. Em suma, The Magic Numbers é uma puta banda e eu não acharia nem um pouco ruim se lançassem um disco por ano.

www.themagicnumbers.net


xxx



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