Thursday, February 08, 2007

 

coluna 08 de fevereiro

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Pára tudo. Acalme-se. Ponha seus livros de lado. Seus filmes também. Bloqueie tudo que possa te desfocar da música nesse início de fevereiro de 2007. Concentre-se nas melodias, barulhos e toques de sinos. Preste atenção nas canções. Ok. Ok?

Você sacou que a música alternativa mainstream nesse ano de 2007 está tão pobre como no final da década de 90? Percebeu que as bandas cogitadas para oferecer delírio as massas não são tão legais como há dois ou três anos atrás? Sentiu que as apostas das rádios e revistas especializadas são aquilo que você suspeitava, ou seja, decepcionantes? Eu notei tudo isso e mais um pouco.

A verdade tem que ser dita: essa nova leva de bandas predestinadas ao sucesso deixa muito a desejar. A NME está tentando vender o peixe dela com coisas como The Twang e The Enemy – já escutou? Deprimente ambas. Ninguém merece escutar sub-Oasis de qualidade dez vezes pior. Fora isso, há a farsa que é o Klaxons, exposta aqui semana passada.

O pop do Mumm-Ra e o rock do Pigeon Detetives são toleráveis, mas não vai leva-los a lugar nenhum. O art-rock do Blood Red Shoes é legal, contudo está longe de ser um Franz da vida. Bloc Party lançou um segundo disco, que, apesar do conceito e letras interessantes (sobre East London), musicalmente é um tédio absoluto. Os rapazes dos The Horrors são intrigantes, porém contam com quase nada de apelo comercial. The View é bacana, entretanto temos que admitir que o estilo de som deles já está saturado.

E o que dizer sobre Pull Tiger Tail, Cold War Kids e Tokyo Police Club ? Façam-me o favor. Se o rock fosse sempre assim, com certeza hoje eu seria um padre ou um contador. Puro lixo. Kaiser Chiefs, Maximo Park e Arctic Monkeys estão de volta, e eu boto fé nos três. Mas somente eles não dão conta da lavoura. E outra: não são mais debutantes. Isto é, quase impossível superar a fama do passado.

No final dos anos 90, a música estava num momento lastimável, com artistas medianos e sem nenhum brilho fazendo sucesso. Gay Dad, Travis e Badly Drawn Boy era o que tinha de melhor, pra se ter idéia. A cena musical estava praticamente morta. A juventude não consumia novas bandas, e sim apelava para os clássicos. Com o resultado, duas publicações musicais de grande porte faliram, a Melody Maker e Select.

Foi somente com a chegada dos Strokes em 2001 que tudo mudou, e a venda de discos e revistas aumentou. A cena estava rejuvenescida. Entretanto, esse boom já passou faz tempo e o cenário agora esta definhando aos poucos. A NME coloca todo mês Oasis na capa, numa clara tentativa de aumentar as vendagens. Sem contar as incontáveis promoções e mudanças no formato editorial. Isso é um sinal que as novas bandas estão decepcionando e o público não está se deixando enganar. Ou estão apostando nas bandas erradas. Pode ser. Com certeza a venda da NME caiu bastante nesses últimos meses. Será que nesse final de década ela vai ter o mesmo rumo que a Melody Maker no final da década passada? É ver para crer.

Porém, nem tudo está perdido. Uma vez que não contamos com artistas brilhantes do calibre de Franz Ferdinand, Strokes e Libertines para salvar o mainstream, temos todo um universo underground a ser explorado. Para cada dois ou três hypes do momento, há umas vinte jóias preciosas a nossa espera no sub-mundo sonoro. A receita para esse ano é ir atrás do não óbvio. Certamente seu pacotão musical 2007 estará recheado de coisas boas, muito boas.

O 2007 que não iria acontecer está acontecendo. A seguir, confira o que de interessante pousou nos meus ouvidos em janeiro e começo de fevereiro. São os álbuns do ano, até o momento.



ARCADE FIRE – "Néon Bible"



O Arcade Fire é sem dúvida uma das bandas de maior sucesso atualmente. Esses canadenses lançaram seu debute álbum em 2004 no Canadá e EUA, o aclamado "Funeral". No ano seguinte, chamaram a atenção do mundo todo e desde então a banda está no topo. Aqui no Reino Unido são considerados Deuses. Pra se ter uma idéia, na semana passada tocaram cinco noites seguidas em igrejas pela capital Londres. Não é pra qualquer um. Sua intrigante mistura de orquestração, gospel e indie é mesmo infalível e com certeza irão muito longe. Nesse segundo trabalho, a qualidade é a mesma que do primeiro, ou seja, um disco excelente. Dividido entre espantosas baladas e momentos épicos, "Néon Bible" larga na pole-position para a corrida de melhor disco de 2007. Ouvindo jóias como "Keep The Car Running", "No Cars Go" e "Black Waves/Bad Vibrations", é fácil de entender porque.

http://www.myspace.com/arcadefireofficial




KEREN ANN – "Keren Ann"



A Keren Ann que lança os discos lindos, a Cat Power (que acho pouca graça) é que fica com o hype. Ó mundo cruel. Mas vamos ao que interessa. Keren Ann, que nasceu em Israel, cresceu na Holanda e atualmente é baseada em Nova York e Paris, é daquelas cantoras-compositoras que, aos sussurros e gemidos, consegue cravar na sua alma as mais sensíveis e perigosas canções. E também sentimentos ocultos. Com esse novo disco a história não fica diferente. Sensível porque sua sonoridade é atmosférica e transborda serenidade, e perigosa porque, oh, Karen Ann desfruta de uma voz que, embora suave, possui aquela firmeza de garotas de atitude e gênio forte. Posso estar enganado, mas acho que conheço toda a personalidade de Keren Ann apenas escutando sua voz.

Esse é o quinto álbum da moça e as faixas são aquele tipo de coisa apropriada pra ouvir numa manhã de ressaca, em que a culpa e carência tomam o lugar da diversão e excessos da noite passada. Veja bem. Não sou um junkie otário. É que toda a sociedade e amigos e família e empregos conspiraram para que isso acontecesse e ontem enfiei o pé na jaca. E hoje estou escutando Keren Ann sozinho na cama, mas, veja bem, eu não sou um junkie otário. Flashes da noite anterior, memórias bizarras, traficas, Mazzy Star, pessoas amigas, Nico, sujeitos infortúnios, Velvet Underground, diabo a solta, culpa, paranóia, dúvidas, dívidas e Keren Ann lavando minha alma. Mais tarde vou tomar um banho, engolir um café e tocar a vida.

www.myspace.com/kerenann
www.kerenann.com



TAP TAP – "Lanzafame"



Direto de Reading, aqui pertinho de Londres, é que surge o Tap Tap, um combo responsável por um rock alternativo meio caipirão, como se o Clap Your Hands Say Yeah estivesse tocando numa festa junina. Melodias assoviáveis, fácil de cantar junto, clima alto astral e vamo bora! Pula pula bate palma chuva de cerveja sorriso no rosto. Ecos de Talking Heads, lembranças de Violet Fammes, alusões ao Arcade Fire. "Lanzafame" é nota 0 de originalidade, nota 10 de diversão. Esse é o primeiro álbum do Tap Tap e certamente um dos mais animados desse começo de ano. Destaques: "The Reason I'm Here", "100,000 Thoughts" e "Little Match (Big Fire)".

www.myspace.com/taptapmusic




AIR – "Pocket Symphony"



Se você me dizer que o Air um dia lançou um álbum ruim, você vai cair no meu conceito. É a mesma coisa que dizer que o Corinthians foi campeão da Libertadores ou que o Papai Noel lhe visitou semana passada. Tipo assim, é fato, certas coisas não acontecem, meu amigo. E uma delas é o Air lançar um trabalho de qualidade baixa. Impossível. "Pocket Symphony" é mesmo um cd do Air. As faixas são aquelas coisas deliciosas, o som é o mesmo, não mudaram nada em relação aos trabalhos anteriores. E também não precisa, né? Afinal, time que está ganhando não se mexe. Se você estava com saudade dessa dupla francesa (o último disco deles foi lançado há três anos atrás), baixe já "Pocket Symphony", e seja bem vindo a um universo espacial, glacial, cinematográfico. Enquanto ouço esse novo Air, estou de pijama, com um cappuccino na mão e olhando a neve cair pela janela. A vida não oferece muito mais que isso, oferece?

www.myspace.com/intairnet



EXPLOSIONS IN THE SKY - "All of a Sudden I Miss Everyone"



Ao comprarmos (ou baixarmos) o novo trabalho dos americanos Explosions In The Sky, temos a impressão que compramos uma passagem em primeira classe para o além. Tomei conhecimento dessa banda em 2003 com o estupendo álbum "The Earth Is Not A Cold Dead Place" e desde então ela se tornou uma das minhas preferidas no cenário post-rock. Nessa nova obra, não há novidade na sonoridade da banda, mas a maestria continua a mesma. O som do Explosions In The Sky é totalmente explorativo, caminhando por várias direções e fluindo tanto em passagens de piano quanto em barulheira com guitarras distorcidas. É como o mar: as vezes calmo, as vezes com tempestade. Há momentos de moderação e maciez, e de repente somos jogados numa violenta instrumentação, para tudo desencadear novamente na pura suavidade. E assim vai, subindo e caindo, ao ponto de que quando nos demos conta, estamos sonhando com estrelas, luzes, gramados verdes, fogos de artifício e vales desconhecidos. Seis faixas, pouco mais de meia hora, muito barulho e uma jornada percorrida. Um disco clássico.

www.myspace.com/explosionsintheskyband



JOHN HOWARD – "Same Bed, Different Dreams"



Como de praxe, mais um mês de janeiro, mais um álbum novo de John Howard. Já te contei sobre ele? Vamos lá, rapidinho: em 1974 esse pianista inglês lançou um disco lindíssimo de baladas glam, só que o mesmo não vendeu muito bem. Nesse mesmo ano, gravou outros dois álbuns. Porém a gravadora desistiu de lançá-los. Foram engavetados e só viram a luz do dia 30 anos depois. John Howard desistiu de ser compositor nas três últimas décadas. Sumiu do mapa. Em 2004 houve uma redescoberta de seu trabalho através de colecionadores aficionados por vinil. Com isso, os trabalhos velhos dele foram editados em cd. Animado novamente, ele reapareceu no cenário musical e voltou a escrever canções. Desde então, vem lançando discos todo ano. "Same Bed, Different Dreams" segue com a mesma fórmula dos outros long-plays, ou seja, delicadas e inspiradíssimas baladas glam, perfeitas para qualquer fã de David Bowie, Bryan Ferry e Scott Walker. As melhores são "A Day In The Life Of Gutter Bitch", "Stardust Falling (For Jebriath)" e "Oh Midnight".

www.myspace.com/kidinabigworld


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THE HORRORS

O quinteto The Horrors anunciou essa semana os próximos lançamentos. O single "Gloves", que terá edição dupla em vinil 7", junto com cd, chegará nas lojas no dia 26 de fevereiro. Contará com os b-sides "Kicking Kay" e "Horrors Theme", além de uma versão ao vivo para "Death At The Chapel". Já o álbum, intitulado "Strange House", aparece no dia 5 de março. Pay attention!

A seguir, assista uma apresentação ao vivo do The Horrors na casa de shows Roundhouse, no norte de Londres, onde tocam a faixa "Gloves". Percebam como é escuro o palco, com pouca iluminação, vindo de baixo, atrás da banda. O show do Horrors é exatamente isso, pouquíssima luz, todos de preto e um clima assombrado. Eu adoro The Horrors!





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MAXIMO PARK



Finalmente divulgaram o tracklist completo do novo álbum "Our Earhly Pleasures", a ser lançado no dia 02 de abril. A capa é essa que você vê. O single "Our Velocity" vem antes, no dia 19 de março. Veja o tracklist do LP:

01 - Girls Who Play Guitars
02 - Our Velocity
03 - Books From Boxes
04 - Russian Literature
05 - Karaoke Plays
06 - Your Urge
07 - The Unshockable
08 - By the Monument
09 - Nosebleed
10 - A Fortnight's Time
11 - Sandblasted and Set Free
12 - Parisian Skies

Confira o clip da ótima "Our Velocity", o próximo single do Maximo Park.






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