Saturday, April 28, 2007

 

coluna 19 de abril

THE HORRORS
Ao vivo no Coronet, sul de Londres, 13/04


Cheguei e eles já estavam tocando. Deixei rápido minha mochila no cloakroom e corri para bater nas pessoas na pista. Eu tava na pilha. Me surpreendi com o tamanho do lugar; acho que cabiam ao todo uns dois mil negos. Veio “Count In Fives” e quando me dei conta eu estava sendo pisoteado e pisoteando pessoas. Empurra-empurra nervoso, logo senti que tinha uma galerinha agindo de má fé. A mesma turma escrota que freqüenta os shows do Babyshambles. Fui jogado no meio da rodinha, mas saí logo dali. Caí em cima de uma mina, me apoiei nos seus peitos. Acho que doeu pra ela. A banda foi tocando, “Draw Japan” e “Death At The Chapel”, pouca luz no palco.

Mais um show que a porrada toma conta. A primeira vez que isso aconteceu com este escriba foi com os Manics em 2001, no Reading Festival. Prometi pra mim mesmo nunca mais. Mas no ano seguinte fui ver Yeah Yeah Yeahs no mesmo festival e da-lhe pontapés. Tive que sair de crowd-surf, senão ia desmaiar. Depois rolou mais algumas vezes com Libertines e Babyshambles, e só. Cansei dessa. Mas as vezes meu ‘dark-side’ vem me visitar e entro na pilha. Nada mais apropriado que atender as vontades do capeta no show do Horrors. Eu só não sei como tem lindas garotas de 17 anos que agüentam esse inferno. Certamente estão com seus diabinhos tilintando dentro de si. Aí “Thunderclaps” veio com todo o seu groove. Puta música fodida. Da-lhe Cramps. Em “Gloves” tive o primeiro pensamento de sair dali e ir para um lugar mais seguro.

Aos trancos e barrancos eu conseguia ficar de pé. Numa situação dessas, a única coisa que você tem que fazer é bater. Se ficar só se defendendo, só se equilibrando, você cai e te pisam na cara. Bater nos filhos da puta ao seu redor é a única forma de sobreviver. Senti meu bolso e percebi que meu celular não estava lá. Caralho, como foi cair do bolso da minha calca jeans??? Estranho. Sei que eu não estava nas situações mais apropriadas, mas o bolso da frente do meu jeans é apertado. Como meu móbile saiu de lá? Porra, porra. Todos meus contatos... Fiquei meio puto, mas desencanei.

Tava até cantando em “Excellent Choice” quando levei ma botinada na canela. Puts, vi estrelas. Caralho, como dói uma pancada na canela.... Dói muito... Fiquei me contorcendo. Era hora de sair dali. Quando me dou conta, Farris dá um dos maiores moshs que eu já vi na vida. Ele tomou distância no palco, correu e pulou uns quatro metros platéia adentro. Nossa, deve ter matado um. A banda continuou tocando enquanto tentavam resgatar Farris, mas tava difícil. O cara tava no meião. Vi acho eu umas cem pessoas caídas no chão. Eis que depois de alguns minutos ele retorna e já engata em “Sheena Is a Parasite”. Mais porrada. A coisa ficou estranha. A música acabou e alguns da banda saíram do palco. Silêncio. Depois a banda toda caiu fora, mas as luzes continuaram apagadas. Porra, acho que eles tinham tocado umas oito músicas apenas. Alguns começaram a vaiar. Ninguém sabia muito o que tava rolando e minha canela ainda doía pra caralho. Tava me afastando quando as luzes se ascenderam e as vaias ecoaram pra valer. Deve ter rolado alguma treta por causa daquele mosh.

Com as luzes acesas, fui procurar meu mobile no chão da pista. Nada. Percebi que tinha um monte de gente fazendo o mesmo. Todo mundo procurando algo na pista. Perdi as esperanças de ter meu mobile e contatos de volta, e saí dali. Passei pelo Bobby Gillespie a caminho da saída. Lá, no meio de pessoas sangrando e algumas brigas e discussões rolando, decidi reportar para um segurança que eu tinha perdido o mobile. O sujeito falou para eu conversar com o chefe da segurança, pois um monte de gente também tinha perdido coisas. Aí o chefe me diz que lá dentro hoje tinha uma quadrilha especializada em roubar celulares e que prenderam um dos caras e que mais ou menos 50 pessoas tinham reportado a perda de celulares e que a polícia já estava a caminho. Caralho, bem que eu senti a bad-vibe na galera hoje. Saquei na hora a energia dos filhos da puta, vermes do inferno. No meio da pancadaria e empurra-empurra, típico rock’n’roll, os caras enfiam a mão no seu bolso e tomam seu celular. Bando de cuzões.

Mas não adianta chorar pelo leite derramado, eu pedi para aquilo acontecer. Fui ali no meio da bandidagem, no meio dos função, dar e levar porrada, é claro que alguma merda tinha que rolar. Vi uma mina chorando pela sua maquina digital roubada, com todas as fotos de suas férias. Outro mano tava bem puto com a perda de seu celular. Desencanei. Tinha duas opções, ou ficar lá esperando a polícia e ver no que ia dar, ou deixar meus details com os funcionários do Coronet e sair fora. Decidi vazar. Minha canela ainda doía quando eu estava na plataforma do metrô. Fazer o que, eu tava na pilha, oras.


*** *** *** *** ***



MONKEY SWALLOWS THE UNIVERSE
Ao vivo no Metro Club, centro de Londres, 14/04


As vezes me questiono quão valiosa é uma música. Se vale a pena perder tanto tempo da minha vida escutando música, mesmo depois de adulto. Só mesmo quando vou num show como esse que percebo que música é muito potente e me provoca reações muito fortes.

Monkey Swallows The Universe é um quinteto acústico de Sheffield, UK, e no ano passado eles lançaram um álbum muito bonito. Se eu não resenhei aqui foi por preguiça e falta de tempo. Mas então, esse álbum é bacana e remete muito aos meus tempos de adolescência, quando eu ficava escutando as compilações da El Records. Coisas indie dos anos 80 que fui descobrir nos 90. Deus, como sou nostálgico.

No show, fiquei triste pra caralho. Lembrei de muitas pessoas e ponderei porque tinha perdido o contato. Lembrei de lugares e escolas. E não sei por qual razão fiquei triste e baixo-astral, pois meus tempos de juventude foram pura diversão, não posso reclamar. Mas relembrar o passado é uma merda pra mim. Sou uma pessoa horrível, nostálgica, triste e medrosa. Foi isso que fiquei sentindo enquanto o MSTU apresentava suas canções no pequeno palco do Metro. O que eles tem a ver com as bandas da El ? Nada, mas o simples fato de se assemelharem musicalmente já me provoca essa enorme tristeza e pavor. Efeito colateral. Pavor de viver. Cadê todo mundo? Onde foi parar todo mundo?

Monkey Swallows The Universe é responsável por um triste indie-pop acústico, apropriado para as fãs da El, da Sarah e coisas como Belle And Sebastian e Camera Obscura. Ao vivo são absurdamente baixos. A vocalista/guitarrista Nat Johnson canta e toca seu violão como se estivesse sozinha em seu quarto; canta pra dentro, abrindo e fechando os olhos e com expressões gélidas no rosto. Teve um momento que fiquei na dúvida se os violões estavam plugados nos amplificadores, de tão baixos que estavam. Deus, ela canta muito baixo. E isso foi o que mais me atraiu no show. Quase não saíam palavras. Mas saíam. Baixas, tristes e poderosas o suficiente para fuder com minha cabeça.


*** *** *** *** ***



ASH
Ao vivo na Virgin Megastore, centro de Londres, 18/04


Existem bandas que você pode assisti-las ao vivo dezenas de vezes que jamais vai enjoar, pelo contrário, sempre amar. Ash é uma delas. Devo ter visto umas cinco vezes, mas aqui estou para mais um round. Show na loja de discos Virgin é sempre uma beleza. Curto, fácil de chegar, no início da noite, sem maiores funções. Foram anunciados pelo staff da Virgin e da-lhe Ash no palco. Dessa vez estão apenas em três, um perfeito POWER-TRIO, já que a guitarrista Charlotte decidiu seguir carreira solo e abandonar o Ash. Vai com Deus. Os remanescentes dão conta do recado.

Tim Wheeler manda ver muito bem na guitarra, e quando começam com “Burn Baby Burn”, quase não há diferença de quando eram um quarteto. Ash é uma puta banda, peloamordedeus, não tem ninguém que faça um punk-power-pop tão bom como esse. Depois veio uma predileta minha, “Orpheus”, do álbum metal que lançaram em 2004. Quase ninguém gosta, mas eu adoro essa música. Como estavam promovendo o novo single “You Can Have It All”, essa não poderia faltar. Hum, que delícia conhecer uma nova música do Ash sendo apresentada ao vivo. Música ao vivo é a melhor coisa do mundo, né? No caso do Ash, com certeza.

A clássica “A Life Less Ordinary” veio em seguida, sendo emendada com “Kung Fu”. Depois tocaram mais duas músicas novas, “Polaris” e “Twilight Of The Innocents”, ambas longas e épicas, não tão pesadas, mas sempre com o pique lá em cima. Finalizaram com “Girl From Mars”, a mais conhecida da banda e a mais divertida de pular no show. Ash ao vivo, sempre que der eu vou.

*** *** *** *** ***



MAXIMO PARK – "Our Earthly PLeasures"

Muito ridículo a atitude da NME perante o Maximo Park. Compro a NME há anos, sempre soube que é direcionada para um público bem mais jovem, e ainda assim sempre achei que tinha algo de valor ali. Sabe como é, a gente vai envelhecendo, mas o espírito continua jovem. Nos quatro anos que estou aqui em Londres, esse semanário inglês tem sido de extremo valor para informações, opiniões e entender melhor o espírito da cena musical inglesa. Entretanto, nos últimos meses ela esta limitando demais as coisas, apelando demais, hypando bandas ruins demais, rumando por um caminho equivocado demais. O que eles pensam, que os jovens são burros?

Esse segundo disco dos ingleses Maximo Park não é, sonoramente, tão direto e potente quanto o primeiro, mas ainda sim é um excelente trabalho. É o que se costuma chamar de "grower", vai melhorando e crescendo conforme a gente vai escutando. Nas primeiras audições soa estranho, mas depois ficamos viciados. E a NME, que ano passado louvou o Maximo Park como gênios, agora ta metendo o pau neles, tentando enterra-los para o esquecimento. Será que os críticos atuais da NME ouvem álbuns mais de duas vezes?

A molecada fã de indie-rock pode mesmo preferir um disco potente, arrojado e cheio de frescor, mas acho que eles também compreendem obras como esse "Our Earthly Pleasures". Sem muitos hits meteóricos, porém recheado de marcantes melodias e ótimas letras, esse é um álbum com o qual você precisa passar um tempo junto, convida-lo para tomar café, ou para uma caminhada. Que tal pegar uma estrada com ele de trilha sonora? Uma ótima pedida. Acompanhar as letras enquanto o cd percorre seu player é o melhor que você pode fazer já que Paul Smith é um letrista dos mais requintados.

A única coisa que NÃO se deve fazer é escuta-lo rapidamente e descartá-lo em seguida. O que? Tem muita coisa pra ouvir? Seu soulseek acabou de baixar outros cinco lançamentos? Tem muita coisa pra checar no MySpace e não tem 'tempo' para explorar uma obra mais desafiadora? Essa é a grande merda atualmente, as pessoas tem tanta coisa pra ouvir e conferir, que deixam de gastar a energia necessária que certos álbuns requerem. Escutam uma ou duas vezes e já saem julgando. Grande bosta. Vai querer ficar com os singles do Klaxons ou embarcar nos "Our Earthly Pleasures"?

Primeiro de tudo, Paul Smith é um cara sensacional. Seu eu tivesse 17 anos ele certamente seria meu ídolo de adolescência, mas como essa idade já passou faz tempo pra mim, ele é só um cara pelo qual tenho o maior respeito e admiração. Sua letras passam longe de ser megalomaníacas, retratam coisas reais, que eu e você vivenciamos diariamente, mas com o devido toque poético. Ele é um popstar, mas temos a impressão que trabalha de barman em algum pub, apenas observando as coisas pequenas e essenciais da vida.

"Your Urge", na minha opinião a faixa mais bonita do album, possui uma letra incrível, mexendo com nossos desejos e necessidades do dia a dia. "You don't have to deny your urges / it doesn't make you bad // People are judged on their mistakes / and how much money that they make". Já "Nosebleed" emociona qualquer um que passa por problemas de relacionamento. Claro que gosto de rockstars doidões como Pete Doherty e Keith Richards, que não são pessoas normais como eu; são rockstars e agem como tal. Mas no fundo no fundo, é com Paul Smith que me identifico pra valer.

Os primeiros dois números, "Girls Who Play Guitars" e "Our Velocity", são remanescentes do primeiro álbum, ambas energéticas e com o carimbo Maximo Park. Depois o clima fica menos acelerado, porém sempre com rajadas sônicas aqui e acolá. "By The Monumet" é um belo exemplo disso. "Our Earthly Pleasures", essa segunda obra do Maximo Park, apenas pede um tempo para iniciar a relação. Tudo bem, porque a pressa? Com essa banda, não temos nada a perder, só a ganhar. Outros destaques: "Parisian Skies" e "Books From Boxes".


xxx

Comments:
concordo com cada vírgula desse post sobre o cd do maximo park, márcio. o lado ruim do mp3 é esse, as coisas ficam descartáveis facilmente. povo ouve, gosta ou não e joga fora, não dá pra ser assim!!
 
Post a Comment

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?