Tuesday, October 23, 2007

 

coluna 10 de outubro

THE GO! TEAM + OPERATOR PLEASE
Ao vivo no Astoria, NME Freshers Tour, Londres, 09/10/07


Here I am alone as usual. London’s burning, not me. Pisei no Astoria quando o Operator Please tocou seu primeiro acorde da noite. Se a Northern Line tivesse atrasado mais, eu perderia o show deles. Ainda bem que isso não aconteceu, senão eu estaria putíssimo. Afinal, pra dizer a verdade, por mais que eu ame The Go! Team, é o Operator Please que me trouxe aqui hoje. Desde que vi pela primeira vez na MTV2 o clip de “This Is A Song About Ping Pong”, caí de paixão por eles. A música ótima, arrasa-quarteirão, um hit pra não deixar ninguém parado, pouco mais de 2 minutos de pura perfeição pop. Com a energia que jorraram naquele clip colorido, enxerguei que tinha de fato algo especial ali.

No palco a banda tem uma estupenda presença, a tecladista dá uns pulos muito engraçado, eu morria de rir, dava pra ver de longe quão nerd a mina é. A violinista loira, um tesão de garota, tocava seu violino dançando da forma mais linda, sensual, eu via ali uma Debbie Harry (época áurea) tocado violino. Quantos anos ela deve ter? 16? Ah, se eu fosse dez anos mais novo... A vocalista gordinha era uma graça, smart, ela é uma Beth Ditto menos destrambelhada. A mina tem culhão, suas linhas de guitarra me lembrando X-Ray Spex e sua voz de timbre grave impondo bastante respeito. O baixista era bem charmoso, franjinha na cara, ele tava num visual The Horrors, uma figura cândida. E o batera tem o que, 10 anos? As bandas hoje em dia estão cada vê mais underage, eu hein, as groupies que se cuidem, podem ir pra cadeia acusadas de pedofilia.

O fato é que não me decepcionei nem um pouco com as músicas dessa trupe de jovens australianos, pelo contrario, não vejo a hora de que lancem novos singles e seu álbum de estréia. Guitarras, violino, teclados, eles contam com o pacote completo, uma espécie de Dexys Midnight Runners sendo reinventado pelas meninas do Sleater Kinney e X-Ray Spex. Meio New-Wave, meio punk, meio indie, sempre pop, algumas colheradas de soul e twee. Pode parecer loucura, mas o som do Operator Please remete a tudo isso e ainda sim consegue ser distintivo.

Quanto ao The Go! Team, o que posso dizer? Essa é o tipo de banda que nos injeta tantas boas vibrações que acho que deveriam tocar gratuitamente em praças públicas de cidades pelo mundo afora, principalmente cidades de países pobres. O povo desses países merece uma banda como essa. Assistir The Go! Team ao vivo é reacender sua fé com o mundo e o ser humano, por mais que isso possa ser difícil. É uma vibe tão calorosa, esplêndida, que enterramos qualquer mágoa, problema ou preocupação que temos, e mergulhamos num ritual mágico, colorido, um carnaval de raios de luz, melodias flamejantes, viagens psicodélicas e tudo mais que é positivo e otimista. O show deles é inesgotável, tocam por quase duas horas e em nenhum momento deixam a peteca cair.

Eu pessoalmente acho as músicas do primeiro álbum melhores do que as novas, porém no show, tudo é apenas um estrondo, uma pancada entusiástica na nossa cabeça. A vocalista Ninja é uma espécie de Carla Perez indie, ela rebola, balança a bunda, requebra, pula, quase samba, se entrega de corpo e alma na avalanche que são as faixas do The Go! Team. Mas dizer que ela rouba o show é injustiça, pois todos na banda agitam, pulam e tocam seus instrumentos de forma explosiva e contagiante.

O telão mostrava imagens diversas piscando sem parar, eram muitas cores e ilustrações, muita informação em pouquíssimo espaço de tempo. Os canhões de luzes nos deixavam tontos e o estrobo tentava arrancar de nós um ataque cardíaco. A música que me fez chorar foi “Bottle Rocket”, com aquele solo de gaita que sempre deixa minha alma dilacerada. Outras também me fizeram tremer, como “Titanic Vandalism”, “Doing It Right”, “Ladyflash”, “The Power Is On” e “Junior Kickstart”. Os integrantes do The Go! Team deveriam ser os governantes do mundo, ser os deputados, ministros e presidentes das nações. As crianças deveriam ouvir The Go! Team na escola, a música deles deveria ser o hino antes das aulas começarem. E te falo mais uma coisa, o dia que essa banda tiver uma brass-session ao vivo no palco, o mundo acaba e renasce de novo.



BAT FOR LASHES
Ao vivo no Conway Hall, Londres.


Hoje a noite Bat For Lashes se apresenta como atração principal do festival anual Homefires. Esse ano o local escolhido para acolher o evento foi o Conway Hall, que conta com um palco magnífico e um espaço amplo o suficiente para a platéia, que fica sentada no chão vendo os shows. Quando Bat For Lashes, da cidade de Brighton, subiu naquele palco vermelho decorado por abajures e guarda-chuvas voadores, tivemos a certeza de que o show seria de uma atmosfera ritualística.

A banda de Bat For Lashes (nome real: Natasha Khan) é composta por ela e mais três garotas, todas multi-instrumentistas e que hoje estão vestidas a caráter para a performance. Seus trajes aludem a Deuses ancestrais, ao passo que, associados com a áurea de Cleópatra que Bat For Lashes transpira, mais a riqueza musical que permeia as faixas, fez da apresentação um Espetáculo Teatral carregado de pesadas energias e batidas.

Ano passado a banda lançou seu trabalho de estréia, chamado “Fur And Gold”, e o repertório do show foi inteiramente baseado nesse álbum. Números como “The Wizard” e “Sarah” foram fielmente representados ao vivo do mesmo jeito que aparecem na gravação de estúdio. Para isso, palmas, pauladas no chão e tilintar de jóias foram mesclados com instrumentos usuais como violino, piano e guitarra. Não obstante, a poderosa voz de Bat For Lashes tinha a força de purificar qualquer alma desse mundo, e certamente purificou todas as que assistiam naquele momento. Tão marcante quanto Bjork, Beth Gibbons ou Goldfrapp.

Entre uma música e outra, após calorosos aplausos, Bat For Lashes tentava esfriar o fervor do ritual com comentários e piadas superficiais com o público. Funcionou. Se beneficiando de elementos não convencionais na música pop, a arte de Bat For Lashes é intensa, nobre e brilhante, e isso é visto em faixas como “Sad Eyes” e “Tahiti”. Após 50 minutos, o show se deu por terminado, e o que sentimos em seguida foi uma sensação de leveza e amor.



THE CRIBS
Ao vivo no Astoria, Londres.
Foto: Patrícia Arvelos


Podemos dizer que hoje é uma noite de glória para o Cribs. Com seu terceiro álbum lançado há dias e seu maior hit mais do que nunca na boca da galera, tocam para um Astoria abarrotado, com neguinho saindo pelo ladrão. Quando isso acontece, o próximo passo é o sucesso mainstream. Os jornais mais espertos já estão premeditando que o The Cribs, de Wakefield (UK), será o que o Green Day deveria ter sido, mas nunca foi: um humilde e estupendo trio punk-pop para as massas. E para aqueles que meramente os consideram uma cópia dos Strokes, basta dizer que os nova-iorquinos mostraram vestígios de esgotamento criativo logo no terceiro álbum, enquanto que o trio de Wakefield está no ápice de sua carreira no terceiro trabalho, e dá sinais genuínos de longevidade. Sem contar a veemência e entusiasmo em todos os álbuns do Cribs, qualidades que há tempos não vemos na turma de Julian Casablancas.

São três irmãos compondo o Cribs: os gêmeos Gary e Ryan, e o caçula Ross. Talvez seja essa a razão de sua música ser tão natural e despretensiosa. Ao vivo, a banda é conhecida por seus shows desorganizados e bagunçados. Hoje a noite vemos que essa fama não vem a toa. As faixas são maravilhosamente mal tocadas, com os irmãos rasgando seus instrumentos e vomitando seus hits um por um. O míssil “Hey Scenesters” veio logo no início, estremecendo o lugar e abrindo um rombo no meu ouvido. Pra deixar a coisa ainda mais intensa, “Our Bovine Public”, música que abre o novo álbum, chega em seguida. Um torpedo. Com o chão tremendo e as fortíssimas luzes de estrobo piscando a mil por hora, eu poderia fechar os olhos e me sentir num bombardeio em Bagdá.

A pista era um mar de moshs e crowd-surfing. O Cribs tem a habilidade de calibrar seus pulsantes riffs com a mais pura veia pop, e fazem isso de um modo espontâneo e revigorado, o que os coloca ao lado dos momentos mais inspirados dos Ramones. Exemplos disso podem ser conferidos em “Mirror Kisses” ou “Majors Titling Victory”. Mas é no hino “Men’s Needs” que a noite se consolida, com duas mil pessoas cantando em coro. Ao final Gary pula de cabeça na multidão, o que faz a equipe de segurança ter muito trabalho para retira-lo de lá. Ele volta sem jaqueta, sem camisa e sem sapato, apenas com sua apertada calca jeans e muitos arranhões pelo corpo. Pega sua guitarra e manda “You Were Always The One”, do primeiro álbum. Contagiante e simplória, essa faixa retrata a essência do Cribs. Nessa hora a multidão já tinha pirado o suficiente e era o momento de fechar a apresentação.



COCOROSIE
Ao vivo no Bloomsbury Ballroom, Londres.
Foto: Patrícia Arvelos


O domingo está chuvoso e o Cocorosie vem a Londres para fazer o último show de sua turnê britânica. O lugar escolhido corresponde a área musical das irmãs Sierra e Bianca: o Bloomsbury Ballroom é um aconchegante teatro com arquitetura requintada no centro da capital inglesa. O pequeno palco quase que não aloja toda a parafernália da banda. Mas está tudo ali: harpa, piano de calda, sintetizador, contra-baixo, brinquedos variados e outros apetrechos.

Pouco depois das 9pm a apresentação se inicia. A primeira a tomar o palco é Bianca, com um traje de detetive, com sobretudo abaixo dos joelhos e boina. Em seguida entra o resto da trupe, incluindo a outra metade do Cocorosie, Sierra, e o malucão Tez, que ao vivo produz todos os beats eletrônicos com a boca. Abrem o show com “Rainbowarriors”, do último disco The Adventures of Ghosthorse and Stillborn, e já deixam claro que o repertório do show de hoje será quase todo baseado nesse álbum. Acho ótimo, já que é um disco fenomenal e o mais inventivo da carreira delas, pontilhado de elementos hip-hop e ritmos up-beat.

Essa é uma banda que não se encaixa em nenhum gênero; sua música consiste em elementos variados como ópera, folk e pop. O rumo ao hip-hop parece ter deixado as garotas animadas, e no show elas não param de dançar, rebolar e gesticular com o braços a moda ‘rapper’. Isso deixa a performance num clima mais vivo, ao contrário da turnê passada, onde elas incorporavam a ambiência mais aquietada do dois primeiros álbuns. A faixa “Werewolf” espelha bem essa nova roupagem dançante.

Para temperar mais a noite, havia um telão atrás do palco, com imagens surreais, experimentais, românticas. Quando veio “Animals” é que ficou mais evidente quão admirável e única é a sonoridade do Cocorosie aliada com hip-hop. Esse é um número com mais de seis minutos despindo um rap contínuo, com ruídos e beats ao fundo. Foi o ponto alto do show e mostrou que Bianca está em sua melhor forma como cantora. Em “Japan” o ritual ficou carnavalesco, com a banda recebendo no palco alguns convidados especiais, incluindo a cantora brasileira Cibelle. E da-lhe todo mundo rebolar, se abraçar, se divertir. Esse clima de festa fez jus ao que é essa música, um autêntico hino para os Birutas, Boêmios e Folclóricos desse mundo. O Cocorosie dá sinais que sua criatividade está longe de secar, e que sua passionalidade e inventividade deve ainda devem dar o tom em muitos lançamentos futuros.


MANIC STREET PREACHERS
Ao vivo no Shepherd’s Bush Empire, Londres.
Foto: Patrícia Arvelos


Quem diria, oito álbuns nas costas e ainda relevantes na cena rock britânica. Esses são os Manic Street Preachers, ganhando novos fãs e mantendo os antigos sempre excitados. Musicalmente, nunca dão bola fora. Que o diga o novo álbum, Send Away The Tigers, com dez ótimas faixas tão estrondosas como aquelas que permeavam os primeiros trabalhos. A apresentação de hoje faz parte da turnê britânica promovendo esse novo trabalho, e teve todos seus ingressos esgotados.

O repertório foi longo e contou com músicas de todos os álbuns da banda. Uma recapitulação da gloriosa carreira desses galeses. Foi um típico show dos Manics: o gigantão Nicky Wire maquiado, usando vestido e com seu pedestal enfeitado de plumas; James Dean Bradfield matando a pau na sua guitarra e cantando com sua voz inconfundível; fãs montados com casacos de oncinhas, glitter e muita maquiagem. Iniciaram com “You Love Us”, e daí pra frente o show não teve sequer um ponto fraco.

É difícil dizer que números como “A Design For Life” e “You Stole The Sun From My Heart” não foram os destaques da noite, pois elas de fato foram. Quando uma banda conta com hinos como esses no repertório – inegavelmente duas das faixas mais marcantes das história do rock -, é uma tarefa árdua supera-las. Entretanto, o show não decepcionou em nenhum momento, e clássicos como “Motorcycle Emptiness”, “Stay Beautiful” e “La Tristesse Durera” também foram histericamente recebidos pela platéia. O disco Holy Bible foi lembrado com “Faster”, enquanto “Ocean Spray” cobriu Know Your Enemy.

Tocaram várias do novo álbum, incluindo as ótimas “Send Away The Tigers” e “Autumnsong”, esta última anunciada por James como próximo single a ser lançado. O hit dessa primavera inglesa, “Your Love Alone Is Not Enough”, naturalmente não ficou de fora, para deleite principalmente dos novos fãs. Depois de duas horas, muitas músicas e dedicações a Richey, a banda se despede e as luzes se ascendem. Fim do Espetáculo. Manics never fail to deliver.


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Lançamentos 2007, a lista continua...

JACK PEÑATE – “Matinee”

Um crime a NME ter falado mal desse disco. Jack Penãte, na minha opinião, esta salvando a música indie mainstream aqui no Reino Unido, o álbum dele é um espetáculo, e a porra da NME vai e fala mal. Puta merda, tem vezes que essa revista dá umas escorregadas imperdoáveis. Por que será que qualquer artista que tenha ‘soul’ é malhado pela NME? Compare o disco da Kate Nash com esse do Jack Penãte, você vai ver, Peñate leva a melhor facilmente, deixa a Nash lá pra trás de retardatário, mas a NME prefere a Kate Nash, ô mundo cruel... Desabafos a parte, vamos ao que interessa.

Esse “Matinee” vêm com 11 excelentes músicas, é um disco coeso, contendo tanto faixas dançantes e alto astral como também baladas white-soul. É um guitar-soul-pop contagiante e sublime, as vezes se curvando para um blues ou ska, sempre nos remetendo aos tempos de Housemartins e Style Council. A produção é simples, sem muitos fillers e truques, e isso, para a música de Peñate, só traz benefícios. A música de Jack Peñate é pura, não precisa de truques de produção. O cara possui soul, ele tem o dom, um white-soul singer que faz bonito. Junto com os trabalhos do Lucky Soul e Jens Lekman, “Matinee” é um dos melhores álbuns soul de 2007. Destaques: “Spit At Stars”, “We Will Be Here”, “Torn On The Platform”, “My Yvonne” e “Made Of Codes”.


DISCOS PRA BAIXAR - 2007
JENS LEKMAN – “Night Falls Over Kortedala”
MONTT MARDIÉ – “Clocks / Pretender”
PELLE CARLBERG – “In a Nutshell”
THE RUMBLE STRIPS – “Girls And Weather”
AMIINA – “Furr”
ELUVIUM – “Copia”
JUSTICE – †
BRYAN FERRY – “Dylanesque”
DIGITALISM – “Idealism”
THE THRILLS – “Teenager”
RILO KILEY – “Under The Blacklight”
COCOROSIE – "The Adventures Of Ghosthorse & Stillborn"
THE CLIENTELE – “God Save The Clientele”
THE RAKES – "Ten New Messages"
MAXIMO PARK – "Our Earthly PLeasures"
BRETT ANDERSON – "Brett Anderson"
ARCADE FIRE – "Néon Bible"
KEREN ANN – "Keren Ann"
TAP TAP – "Lanzafame"
AIR – "Pocket Symphony"
EXPLOSIONS IN THE SKY - "All of a Sudden I Miss Everyone"
JOHN HOWARD – "Same Bed, Different Dreams"
BRIGHT EYES – "Cassadaga"
THE BISHOPS – "The Bishops"
ELECTRELANE – "No Shouts, No Calls"
MANIC STREET PREACHERS – "Send Away The Tigers"
DARTZ! – "This Is My Ship"
THE HORRORS – "Strange House"
GOOD SHOES – "Think Before You Speak"
LUCKY SOUL – “The Great Unwanted”
JAMIE T – “Panic Prevention”
THE KISSAWAY TRAIL – “The Kissaway Trail”
BUTCHER BOY – “Profit In Your Poetry”
THE CRIBS – “Men’s Need, Women’s Need, Whatever”
THE APPLES IN STEREO – “New Magnetic Wonder”
THE ORCHIDS – “Good To Be A Stranger”
ASH – “Twilight Of The Innocents”
BARENAKED LADIES – “Barenaked Ladies Are Men”
MONSTER BOBBY – “Gaps”
RICHARD HAWLEY – “Lady’s Bridge”
THE POLYPHONIC SPREE – “The Fragile Army”






xxx

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