Tuesday, October 23, 2007

 

coluna 17 de outubro

LOVE MUSIC HATE RACISM

Essa semana está em todas as bancas do Reino Unido a NME edição especial contra o racismo. Acompanhada de um CD, essa edição faz parte da campanha da NME para combater o racismo no Reino Unido, que infelizmente vem crescendo de uns anos pra cá. A campanha é intitulada “Love Music Hate Racism” e já conta com o suporte de diversas bandas, como Dirty Pretty Things, Bloc Party, The View, The Enemy, Maximo Park, Noisettes, Babyshamblesw, The Charlatans e muitos outros.

A NME decidiu se engajar na campanha depois que o BNP (British National Party), um partido britânico racista e com ligações com grupos extremistas, começou a investir na juventude e distribuir CDs de músicas racistas na saída de escolas. Essa foi apenas mais uma atitude absurda por parte do BNP.

Pra quem não sabe, o BNP formou-se no início dos anos 80 no Reino Unido por hooligans racistas que se diziam políticos. Seu líder era o extremista John Tyndall. Na primeira década de vida, a posição e comportamento do partido eram mais semelhantes a de um grupo de skinheads nazistas de rua do que de um partido político de fato. O BNP se envolvia em brigas, confrontos racistas e vandalismo, e seus líderes pareciam mais encrenqueiros de bares do que políticos. A sociedade percebeu isso e, se no início o partido começou de forma promissora no tocante a votos, aos poucos foi perdendo força. O BNP ficou, merecidamente, com a fama de ser um bando de baderneiros incompetentes e nazistas.

Mas no final dos anos 90, com a posse de um novo líder, Nick Griffin, o cenário passou a mudar. Griffin veio com a missão de mudar a imagem do partido, modernizar suas idéias e abordar o eleitor de forma diferente. Suas estratégias eram sempre bem pensadas e elaboradas. Com isso, seus membros passaram a usar terno, falar bonito e fingir ser um político de verdade. Essa nova atitude do partido vem iludindo muita gente e, atualmente, ele têm conseguido cada vez mais votos, principalmente em subúrbios e cidades onde o desemprego é alto.

Não podemos nos iludir com essa nova faceta do BNP. Eles podem vestir terno, usar expressões afiadas em seus discursos e abordar o eleitor de forma eficiente, mas seu programa político é e sempre foi o mesmo: mandar os estrangeiros de volta a seus países de origem, principalmente os negros. E a grande última empreitada do BNP foi essa de distribuir CDs com músicas contendo conteúdo racista na porta de escolas, para jovens que estão ainda criando sua identidade. Isso deixou muita gente revoltada, inclusive a NME. Era hora de agir.

Foi assim que a idéia da campanha e desse CD nessa edição da NME surgiu. São 29 faixas de artistas variados, e nas páginas da NME as bandas estão discutindo a questão do racismo e deixando claro quão demoníaco são as atitudes do BNP. Há comentários de Carl Barat, Tom Clarke (The Enemy), Kele Okereke (Bloc Party), Drew McConnell (Babyshambles) e Kyle Falconer (The View), entre outros.

O mais surreal é que as idéias do BNP são tão absurdas e extremas que, no CD que eles entregam nas escolas, há apenas um tipo de música: folk de branco. Eles negam e ignoram qualquer estilo musical que tenha origem e vínculos com negros, como soul, rock’n’roll, blues, reggae, ska e hip-hop. Você já pensou que a maioria dos sons que a gente escuta são de origens de países negros? Como negar isso??? O BNP chega a ser uma piada, até. Fora isso, dá uma olhada nos nomes das faixas dos CDs do BNP: “British Revolution”, “Our Towns Will Be Our Own” e “Our Homeland”. É realmente inconcebível.

Compre a NME essa semana e ajude a combater o racismo e partidos nazistas como o BNP.


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VIDEOS

Los Campesinos! – “The International Tweexcore Underground”

Aí esta o novo single dos galeses Los Campesinos! Eles são twee na medida certa, guitar na medida certa, sweet na medida certa, e bons pra caralho. O álbum vem em breve, e com ele uma grande turnê pelo Reino Unido. Em breve coloco as infos aqui. Enquanto isso, veja o clip:



frYars – “The Ides”
Esse garoto do norte de Londres que se atende por frYars lançou seu primeiro EP essa semana. E o clip da música de trabalho, The Ides, já está em rotação na MTV e YouYube. Você imagina um crooner poético ligado em beats eletrônicos? Esse é o frYars. Aviso: ele vai estourar em breve. Watch:



Blood Red Shoes – “I Wish I Was Someone Better”
Neles eu boto fé. Novo single da dupla boy-girl Blood Red Shoes, e eles estão mais energéticos do que nunca. Grunge. Punk. Disco. Balls. Essa banda tem tudo isso. Não vejo a hora do álbum ser lançado.



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Lançamentos 2007 - álbuns


STARS OF THE LID – “And Their Refinement of the Decline”
Drone, ambient, atmospheric. O rótulo você escolhe, mas há de concordar comigo que, independente do rótulo, esse álbum é uma coisa linda. Eu tenho escutado esse tipo de som pra ler livros. Relaxante, consigo me concentrar mais facilmente, sem deixar o sono me dominar. Stars Of The Lid é uma dupla americana e “And Their Refinement of the Decline” é seu oitavo trabalho. É um cd duplo (ou vinil triplo) com 18 faixas, todas ambientes. Vocais, nem pensar. Não há nenhuma batida, batuque ou bateria, apenas sons contemplativos, zumbidos feitos por guitarra, violino ou teclado. É algo ultraleve, penetrante e hipnotizador. São sons que a gente deixa de fundo para nos sentirmos leves, atentos e flutuantes. Eu geralmente ouço antes de dormir, logo quando acordo ou quando estou lendo um livro na poltrona do meu quarto numa tarde chuvosa. Recomendo. Para fãs de Brian Eno, Philip Glass, Willian Orbit e outros compositores que não sejam chatos.


AFTERPILOT – “Foxtail”
O lance é que eu gosto de Weezer e jamais vou vender os discos que tenho deles. E não vou deixar de ouvir esse tipo de som que ouço desde a adolescência só porque hoje em dia estou mais ligado em drone ou coisas do tipo. Quando a coisa é bem feita, recebo de braços abertos. Afterpilot são três japinhas fãs de Nada Surf, Weezer e Rentals, eles lançaram esse “Foxtail” apenas no mercado japonês, mas você encontra nos melhores blogs de downloads do seu bairro. O som é igual a Nada Surf, Weezer e Rentals, mas feito com energia, talento e uma boa química entre a banda. O resultado não poderia ser chato. Na verdade é bem legal, tipo aquele guitar-pop pra te alegrar, assoviar, nove faixas com boa fluidez, mais um belo disco de power-pop pra nossa coleção. Eles cantam em inglês. Aprovado.


VALGEIR SIGUROSSON – “Ekvilibrium”
Esse tal de Valgeir Sigurosson é um produtor islandês que já trabalhou com Bjork e Bonnie “Prince” Billy, e esse disco “Ekvilibrium” é a sua primeira aventura solo. E o rapaz não se saiu nada mal, nos apresentando dez faixas repletas de texturas eletrônicas, sons glaciais e baladas penetrantes. É o exato momento onde a música experimental e fria se encontra com o calor da melodia e do coração humano. Eu arrisco dizer que esse é um dos álbuns mais articulados e ousados de 2007, jorrando, numa tacada só, eletrônica de vanguarda, folk e ruídos atmosféricos, tudo se encaixando na maneira mais jovial possível. Sem contar vocais de convidados especiais, Bonnie “Prince” Billy incluído. Sem sombra de dúvidas, um álbum de qualidade excelente, e que você deveria escutar. Pra deixar o pacote completo, a arte gráfica do cd é bacana e bem preparada.


Veja a lista de discos legais de 2007:
JACK PEÑATE – “Matinee”
JENS LEKMAN – “Night Falls Over Kortedala”
MONTT MARDIÉ – “Clocks / Pretender”
PELLE CARLBERG – “In a Nutshell”
THE RUMBLE STRIPS – “Girls And Weather”
AMIINA – “Furr”
ELUVIUM – “Copia”
JUSTICE – †
BRYAN FERRY – “Dylanesque”
DIGITALISM – “Idealism”
THE THRILLS – “Teenager”
RILO KILEY – “Under The Blacklight”
COCOROSIE – "The Adventures Of Ghosthorse & Stillborn"
THE CLIENTELE – “God Save The Clientele”
THE RAKES – "Ten New Messages"
MAXIMO PARK – "Our Earthly PLeasures"
BRETT ANDERSON – "Brett Anderson"
ARCADE FIRE – "Néon Bible"
KEREN ANN – "Keren Ann"
TAP TAP – "Lanzafame"
AIR – "Pocket Symphony"
EXPLOSIONS IN THE SKY - "All of a Sudden I Miss Everyone"
JOHN HOWARD – "Same Bed, Different Dreams"
BRIGHT EYES – "Cassadaga"
THE BISHOPS – "The Bishops"
ELECTRELANE – "No Shouts, No Calls"
MANIC STREET PREACHERS – "Send Away The Tigers"
DARTZ! – "This Is My Ship"
THE HORRORS – "Strange House"
GOOD SHOES – "Think Before You Speak"
LUCKY SOUL – “The Great Unwanted”
JAMIE T – “Panic Prevention”
THE KISSAWAY TRAIL – “The Kissaway Trail”
BUTCHER BOY – “Profit In Your Poetry”
THE CRIBS – “Men’s Need, Women’s Need, Whatever”
THE APPLES IN STEREO – “New Magnetic Wonder”
THE ORCHIDS – “Good To Be A Stranger”
ASH – “Twilight Of The Innocents”
BARENAKED LADIES – “Barenaked Ladies Are Men”
MONSTER BOBBY – “Gaps”
RICHARD HAWLEY – “Lady’s Bridge”
THE POLYPHONIC SPREE – “The Fragile Army”


E um desapontamento...

BABYSHAMBLES – “Shotters Nation”
É em discos como esse dos Babyshambles que fico cada vez mais convencido a não ler imprensa musical. Revistas, jornais, internet, blogs, quero que todos vão pro inferno e me deixem em paz com meus livros do Jean Genet. Eu não leio mais sobre música, apenas ouço música. Se você ainda lê, e esta me lendo agora, aproveite enquanto sua paciência não esgota. E uma dica: não acredite no que você lê. A imprensa é uma farsa, principalmente a musical. Assim como no segundo disco dos Libertines, onde o dito cujo recebeu altos elogios e quando fui ouvir vi que não era tão legal como falavam, esse segundo do Babyshambles segue pelo mesmo caminho: a imprensa morrendo de amores, recebeu nota máxima na maioria das publicações, todo mundo citando a produção afiada do Stephen Street e o retorno a boa forma de Pete Doherty, mas quando você escuta, rola aquela tremenda decepção. A qualidade das músicas deixa a desejar.

Pra mim Pete perdeu a magia. Deve ter sido confiscada em uma das muitas vezes que foi em cana. Eu prefiro o primeiro álbum. Lá a aura da banda estava viva. Não que eu ache que o Babyshambles deve ser sempre produzido de forma tosca, mas a verdade é que, com produção tosca ou não-tosca, essas músicas são fracas. Simples assim. Podem chamar quem quer que seja para a produção, não ia conseguir fazer bonito. É incrível que os críticos descrevem o primeiro disco como ‘trágico’ e alegam como motivo a produção tosca. E nesse novo trabalho, o descrevem como ‘clássico’, e citam a produção ‘enfocada’. Quando a música é realmente boa, convenhamos, ela vai bem com qualquer tipo de produção. Infelizmente, esse não é o caso em “Shotter’s Nation”.

Indie rock sem inspiração, faixas apáticas, músicas que cheiram a cansaço, um astral desgastado, nenhum momento do álbum digno daquele arrepio na espinha como aconteceu quando escutei “What A Waster” ou “The Man Who Would Be King”. O que se salva é uma ou outra tirada de Pete em suas letras, uma gaita ali, um riffzinho aqui. Mas só, longe de ser espetacular. Mesmo no single “Delivery” vemos que algma coisa está faltando. Um disco chato e, junto com aquele álbum chinfrim do Klaxons, é a grande decepção de 2007. Ultimamente só me divirto com Pete Doherty quando ele causa por aí...

(P.s.: Será que estou ficando louco ou os primeiros 4 segundos da música “French Dog Blues” é um sample do Secos e Molhados????? Alguém diz que é e que eu não enlouqueci, por favor, meus LPs do Secos estão no Brasil. Kid, você me tira essa dúvida???)

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